O Apocalipse Inevitável (parte III)

Na noite de 20 de novembro de 1983 quase 100 milhões de americanos assistiram a um filme na TV. Era “The Day After” (1983), produzido por uma das principais cadeias televisivas, retratando em mais de duas horas e da forma mais realista possível – a um filme dramatizado – os efeitos de um confronto nuclear entre forças da OTAN e a então União Soviética. No clipe acima, que pode ser perturbador, estão os trechos mais impactantes do ataque nuclear em si mesmo, com ogivas explodindo sobre duas cidades do Texas e seus efeitos imediatos nos arredores.

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Os efeitos especiais de quase trinta anos podem parecer hoje datados, ainda que alguns momentos tenham sido extraídos diretamente de filmagens de testes nucleares reais. As imagens, no entanto, ainda devem causar impacto: abstraia as limitações dos efeitos especiais e lembre-se de que esse Apocalipse foi, e é, muito real. No evento de uma guerra nuclear, com a detonação de uma ogiva nuclear mesmo a quilômetros de distância, todos os seus aparelhos eletrônicos, computadores, Internet, celulares, irão queimar com o pulso eletromagnético, exatamente como os carros e o blecaute no filme. Momentos depois o estrondo, com a destruidora onda de choque e calor poderão atingi-lo. Ainda que se escape do impacto e calor, a batalha pela sobrevivência se dará com os efeitos da radiação e o colapso social, estes abordados ao longo do resto de “The Day After”. Se isto não lhe causar calafrios, nada mais o fará.

As cenas podem ser mais do que perturbadoras, traumatizantes, e com razão. Precisamos, e devemos temer este cenário, representando aquilo que sob nenhuma hipótese deve ocorrer. “The Day After” foi produzido em um momento crucial quando a Guerra Fria se aquecia novamente e um novo presidente republicano, Ronald Reagan, prometia que os EUA poderiam vencer um conflito nuclear com um número aceitável de “baixas”. Mostrar que este número “aceitável” de mortes era inaceitável para toda a população sob qualquer ponto de vista era o objetivo do drama.

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Segundo o diretor de “Day After”, Nicholas Meyer, quando três anos depois Reagan ao invés disso comprometeu-se a um tratado de redução de mísseis nucleares com o premiê soviético Mikhail Gorbachev, teria lhe enviado um telegrama: “Não pense que seu filme não teve parte nisso, porque teve”. Um filme salvou o mundo. Mas não apenas um filme, claro.

Logo após a exibição de “Day After”, com a população chocada pelo que havia assistido, o canal exibiu um debate com cientistas, políticos e representantes do governo. Presentes estavam nada menos que Henry Kissinger e Robert McNamara, o congressista William F. Buckley, o secretário de estado George Shultz e como cientista, o doutor Carl Sagan. Era finalmente hora de Sagan também salvar o mundo.

No próximo texto.

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Discussão - 3 comentários

  1. Luís Brudna disse:

    Lembro deste filme. Também lembro do impacto que foi assistir na TV. Não lembro se a Globo exibiu em 1983 ou depois.
    Na época fiquei muito curioso para saber pq os carros não funcionavam mais no momento da explosão. E ainda não sei se o pulso seria forte o suficiente para afetar o sistema não muito complexo de um carro antigo.
    Ok... talvez era para aumentar o drama.

  2. Kentaro Mori disse:

    A curta distância, imagino que mesmo os alternadores, distribuidores e tudo mais fossem inutilizados. Hoje em dia, até a distâncias maiores com certeza todos os carros com injeção eletrônica, isto é, todos os carros morreriam.
    O Spielberg usou isso no remake de "Guerra dos Mundos".

  3. raph disse:

    Puxa tomara que tenha vídeo desse debate, vou esperar a continuação para ver 🙂

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