A Garota Afegã em 3D

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A Garota Afegã é uma das mais famosas e celebradas fotografias modernas, capturada pelo fotógrafo Steve McCurry em junho de 1984 em um campo de refugiados, enquanto o Afeganistão era ocupado por forças soviéticas. Como capa da revista National Geographic e a imagem mais reconhecida da história de mais de 100 anos da publicação, a menina só foi identificada por nome e localizada quase vinte anos depois como Sharbat Gula, já uma mulher de 30 anos vivendo sob o regime fundamentalista Talebã.

Nesta bela imagem de enorme contexto histórico, o detalhe é que o que vemos aqui não é uma fotografia. É uma recriação digital realizada por computação gráfica pelo artista Hyun Kyung Up. Ele utilizou os programas Z-Brush, 3D Max e Photoshop para “expressar as singulares obras de arte [de McCurry]”, que vem fazendo um tour e passou inclusive pelo Brasil.

Abaixo, algumas capturas de tela do processo de modelagem:

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A recriação é imensamente bela e quase perfeitamente acurada, mas admirei ainda mais o relance parcial de seu rosto visto de frente – ainda que sem os poderosos olhos verdes. Esta outra visão de Sharbat Gula tem grande significado porque, como se descobriu, Gula só foi fotografada três vezes em toda sua vida. A primeira justamente aos doze anos, no que se tornou o registro icônico. Apenas ao redor de 2002 a busca por ela pôde ser empreendida, e como parte da procura ela foi fotografada uma segunda vez, identificada, para então ser finalmente clicada novamente por McCurry. Ela mesma só viu seu famoso retrato em 2003.

Hyun Kyung Up pode ter recriado outra visão de uma beleza jovem e também perturbadora que estaria do contrário perdida para sempre.

Vinte e seis anos depois, tanto mudou, e no entanto, tão pouco. No ocidente, especialmente nos EUA, onde antes uma beleza perturbadora chamou atenção ao sofrimento de refugiados por todo o mundo durante uma ocupação soviética, agora uma outra revista publica em sua capa um retrato chocante de outra bela jovem afegã, mas desta vez, horrivelmente desfigurada. Desta vez são os próprios EUA que ocupam o Afeganistão, e a mensagem que se pretendeu transmitir foi bastante diferente.

Não é minha intenção afirmar aqui qualquer posicionamento político simples sobre a ocupação do Afeganistão, os EUA, ou mesmo a URSS e o Talebã. Se 26 anos depois tanto mudou, mas tão pouco mudou, é porque as questões não são nada simples. Mas ao partilhar esta reinterpretação fabulosa de uma fotografia belíssima e repleta de significado precisava mencionar ao menos alguns dos nexos políticos que esta arte pode inspirar. Até porque o título deste post pode soar como uma versão superficial e de puro entretenimento para uma fotografia tão séria.

“A Garota Afegã em 3D” e a arte digital, como arte, podem e devem provocar reflexão. Com ZBrush, Max e Photoshop.

– – –

[Sugestão de Paulo Dias na Ciencialist. Arte apresentada no fórum ZBrushCentral]

Discussão - 2 comentários

  1. AYRTON360 disse:

    Muito louco isso.
    Na verdade a fotografia e o 3D estão se aproximando cada vez mais e muitas vezes é praticamente impossível se distinguir qual é qual.
    Novos caminhos ...
    Obrigado por compartilhar
    360 abçs
    AYRTON

  2. zymed disse:

    Muito bom isso, de verdade!!!

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