Eventos pouco prováveis

A diferença entre esse vídeo espetacular e o Faces da Morte pode estar nas batidas de uma borboleta azul da Tasmânia.

Até onde sei apenas o clipe do ovo (?) gigante que cai em um carro é falso, parte de uma propaganda. [via O Velho, Luiz]

Enxergando padrões

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Consegue ver algum padrão na imagem acima? Clique para conferir no Google Maps: cada uma das estrelas é um ponto em Londres onde uma bomba voadora V2 caiu.

Os foguetes nazistas de 13 toneladas, dos quais +500 atingiram a capital inglesa, ceifaram mais de 9000 vidas e são representados em parte no mapa interativo. Clicando na visão por satélite você pode conferir que alguns pontos de impacto ainda permanecem como crateras, seis décadas depois, enquanto a maior parte já foi coberta por casas, parques e estacionamentos.

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Mas por que perguntei se você podia ver algum padrão? Porque como interpretar os locais da cidade de Londres onde as bombas caíram é um exemplo clássico do conflito entre nossos medos e emoções, em contraponto com nossa razão e ciência.

Já abordamos no ano passado um estudo fascinante demonstrando como a sensação de falta de controle estimula a percepção de padrões ilusórios, fazendo que as pessoas vejam algum significado oculto onde realmente não há. De pareidolias a paranóias, em meio ao descontrole e impotência enxergamos maquinações e ordens obscuras completamente ilusórias.

Você pode imaginar que estar à mercê de bombas voadoras que caem do céu sem nenhum aviso e das quais não há nenhuma defesa é um bom exemplo de não possuir controle algum sobre a situação. As V2 eram armas supersônicas, caíam de uma altitude superior a 100km a quatro vezes a velocidade do som. Você só as ouviria depois que tivessem atingido seu alvo e causado mais destruição. Nenhum V2 foi abatido em pleno vôo, não havia defesa alguma contra estas armas de vingança nazista.

Sem surpresa, vulneráveis a tal arma terrível os londrinos começaram a enxergar padrões obscuros. Era a eles evidente que algumas partes da cidade eram poupadas enquanto outras eram alvos freqüentes. Daí para acreditar que as partes poupadas colaboravam com os nazistas era um pequeno passo. E a paranóia se transformava em uma caça às bruxas, com moradores “simpatizantes dos nazistas” hostilizados. Já habitantes das áreas que se acreditava serem alvos dos alemães fugiam de suas casas ainda que estivessem intactas.

Tudo ilusão.

Os sistemas de orientação das V2 eram extremamente primitivos, com uma margem de erro de muitos quilômetros. O melhor que os alemães podiam fazer era mirar mais ou menos em Londres e esperar que pelo menos a cidade fosse atingida. Nisso, não tiveram muito sucesso, para que em torno de 500 bombas atingissem a capital, número equivalente atingiu os subúrbios. O único uso tático, em que as V2 buscavam atingir um alvo específico, foram 11 bombas-voadoras lançadas contra uma ponte em Remagen. Nenhuma atingiu o alvo. Qualquer crença de que os nazistas mirassem uma área específica de algumas dezenas de metros, ou mesmo em um endereço específico como uma casa ou teatro na Inglaterra é mera ficção.

Nós sabemos disto hoje, claro, com a derrota dos nazistas e todos os seus segredos revelados. Como os ingleses poderiam saber disto durante a guerra, quando mesmo a existência de bombas voadoras era uma grande novidade?

Em uma aplicação exemplar da ciência estatística, R.D. Clarke publicou uma breve página onde mostrou como a distribuição de áreas atingidas pelas V2 se conformava quase perfeitamente a uma distribuição Poisson.

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No. of flying bombs Expected no. of squares Actual no. of

per square (Poisson) squares

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0 226.74 229

1 211.39 211

2 98.54 93

3 30.62 35

4 7.14 7

5 and over 1.57 1

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576.00 576

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É uma distribuição estatística que formaliza a aleatoriedade. Era o acaso que governava o padrão de áreas atingidas pelas bombas voadoras, e não maquinações perversas de nazistas e traidores. Com esse estudo os ingleses puderam estar seguros de que os nazistas não eram capazes de mirar alvos específicos da Inglaterra, e tomaram medidas militares de acordo. Infelizmente, explicar tal aos cidadãos não adiantou muito. Décadas depois, estudos psicológicos como os que comentamos no ano passado explicariam melhor o por quê.

De forma curiosa, a distribuição estatística havia sido apresentada por Siméon Denis Poisson um século antes. Um francês.

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AN APPLICATION OF THE POISSON DISTRIBUTION (PDF) BY R. D. CLARKE, F.I.A., JIA 72, 0481, 1946.

NaziによるLondonを使ったPoisson分布の実験

Seu genoma em um disquete

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Já dediquei uma coluna à nobre questão sobre o tamanho em bits de nosso genoma, questão que não fica tão nobre quando aplicada à largura de banda de um pênis, mas ainda assim deve ser curiosa.

Assim fico aliviado de não ter cometido nenhum grande erro ao ler estimativas equivalentes… acompanhadas de um novo paper que por outro lado mostra que é possível comprimir os dados do genoma humano para ocupar apenas 4 megabytes.

4 MB. Um disquete. Três disquetes. Que ninguém usa mais.

Provavelmente se referem ao genoma de referência haplóide, o que significa que na prática seriam necessários 8 MB, o que ainda assim é impressionante. Se em alguns anos tivermos tecnologias baratas de sequenciamento, como todos esperam que tenhamos, seria mais do que viável um banco de dados com o genoma de todos os seres humanos vivos que coubesse que provavelmente será a capacidade de um disco rígido padrão em alguns anos (na ordem de Petabytes).

Não sei se isso é assustador ou confortante.

Mais detalhes, em inglês, em Genetic Future: Squeezing the genome: how to shrink your whole-genome sequence to 4 MB

O “Milagre” do vôo 1549

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O Contraditorium já expressou bem, então aqui só vai esse gráfico acima feito de qualquer jeito; a opinião de quatro especialistas no NYT sobre o que salvou os passageiros; Levitt lembrando como havia comentado em 2006 como “ridículas” as instruções dadas a respeito “do evento improvável de um pouso na água”; e como o mais curioso foi Steven Johnson publicar poucas horas antes do acidente no BoingBoing sobre como fazia sete anos que não havia nenhum acidente fatal nos EUA. A marca ainda continua, mas Johnson prometeu “nunca mais dizer algo em público sobre segurança em aviação”.

E, claro. Este vídeo do Daily Show comentando o milagre do vôo 358 da Air France em 2005:

“Se os passageiros tivessem morrido e três dias depois ressuscitado, aí sim isso seria um milagre”.

Que fique claro, embora seja ótimo rir com o acidente da US Airways, a tragédia da TAM não é motivo para tal. Mas atribuir a deus tudo que acaba bem, enquanto se buscam culpados apenas quando dão errado (e olhe lá), é o caminho para que mais “milagres” não aconteçam.

Porque “milagres” e “tragédias” aéreas não são atos e vontades de deus. Se deus quisesse que voássemos teria nos dado asas, como a enorme sabedoria religiosa bem nos ensinou.

Que os EUA não tenham nenhum acidente aéreo com vítimas fatais há sete anos é resultado de um enorme esforço racional e humano para que sejam evitados.

Que o Brasil esteja batendo recorde após recorde de acidentes aéreos e vítimas fatais em anos recentes é responsabilidade de uma série de pessoas que talvez tenham mesmo deixado tudo nas mãos de deus.

Deus, o Universo e Todo o Resto

Carl Sagan, Arthur C. Clarke e Stephen Hawking, em uma conversa de quase uma hora sobre Deus, o Universo e Todo o Resto? Esta preciosidade reunindo algumas das maiores mentes a iluminar nosso mundo foi legendada e você confere na íntegra aqui, acompanhada de um Líquito para temperar.

Leia o restante de ‘Deus, o Universo e Todo o Resto

Um balão voando contra o vento

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Vi no Glúon o conceito Aeolus do designer Christopher Ottersbach, misturando balões com barcos a vela. É uma idéia curiosa, mas jogando água fria, ter uma enorme área para coletar o vento em um formato que não possui uma boa relação de volume é justamente o que construtores de blimps e dirigíveis tentam evitar.

O primeiro porque o veículo ficará à mercê do vento, e o segundo porque é improvável mesmo que saia do chão. Há uma limitação física fundamental: mesmo que você consiga criar um balão que não pese nada em sua estrutura, ainda precisará de em torno de 1 metro cúbico de hélio para cada Kg de massa de carga. Provavelmente mais. A menos que as leis da física sejam revogadas, usar hélio para flutuar por aí sempre exigirá enorme volume.

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Por isso não é por mero capricho que todos os dirígiveis que conhecemos tenham o formato de uma gota inchada. É um meio termo entre uma esfera, com o maior volume possível, e uma forma aerodinâmica que minimize o efeito dos ventos. Variações no tema são sim possíveis, contudo é pouco provável que um formato tão achatado quanto o Aeolus seja eficiente ou chegue a ser mais leve que o ar.

Agora, por trás do conceito balão à vela, há algo que pode soar mesmo fabuloso. Seria possível uma espécie de barco à vela… voador? E a resposta simples é… sim.

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A resposta um pouco mais complicada é… em termos. Um balão voando ao sabor do vento por ser chamado de um “balão à vela”. Todos entendem intuitivamente que barcos à vela se movimentam graças ao vento.

Talvez não tantas pessoas entendam que barcos à vela só se tornam mais úteis porque podem navegar contra o vento, ou em marujospeak, navegar à bolina ou cochado.

Para entender como isto é possível, dê uma olhada na FeiradeCiências. Em verdade se navega a um pequeno ângulo, perfazendo então um zigue-zague, mas é este pequeno grande avanço, que só foi explorado plenamente pelos portugueses, que explica em parte o seu império marítimo. Incluindo o descobrimento de um certo país chamado Brasil.

Se você entender como um navio consegue navegar à bolina deve entender que um balão solto no ar não conseguiria fazê-lo, pelo menos enquanto for um sistema passivo. É a quilha e o corpo da embarcação, contrapondo a resistência da água à força do vento que permitem ir contra o vento. No ar, um balão não poderá contrapor o vento contra o vento.

Ou pode? Indo já além do Aeolus, é possível imaginar uma enorme “vela” no céu, composta de inúmeras partes que possam interagir de forma inteligente, permitindo que ventos a diferentes altitudes interajam e possam movimentar um veículo completamente passivo em uma direção desejada. Seria, então e finalmente, um balão à vela.

jetstredaSeria também algo nunca feito até hoje. Talvez porque simplesmente não seja prático.

Nós já temos veículos aéreos “à vela”. Eles não navegam à bolina, mas tal não é tão necessário. Aviões comerciais já se valem freqüentemente do vento, navegando com as jet streams, correntes de ar a grande altitude e velocidade de direção e localização bem determinadas. Entram e saem delas à sua conveniência.

Desde a navegação à bolina às correntes de ar planetárias das jet streams, é um bom caminho. Um barco à vela no ar seria algo romântico, mas descobrimos que um belo avião comercial de passageiros já é seu legítimo e respeitável descendente, navegando também ao sabor do vento.

Fora do ar

Certa vez me contaram que se você observar por tempo suficiente aquele sinal de vídeo com barras multicoloridas e o estridente tom que as emissoras de TV transmitem de madrugada, antes de sair do ar, experimentará algo como o representado no vídeo acima.

Ou não, talvez seja apenas a simples e excelente obra de André Chocron, “Bars & Tones”, com música da Penguin Cafe Orchestra. [via MAKE]

Tocando piano com quatro dedos. Nas duas mãos.

A sul-coreana Heeah Lee tem apenas quatro dedos – nas duas mãos. Os dois dedos em sua mão esquerda também não têm articulações, e o menor não transmite a força do braço. Nada disso a impede de tocar piano.

Aqui em 100nexos brincamos com a série de “aberrações”, no que é na verdade um comentário bem-humorado de como nossos modelos aparentes de perfeição são apenas aparentes – de misses com dedos a mais a supermodelos com umbigos de menos. E aposto que Heeah Lee toca piano muito melhor do que qualquer delas.

“Eu me remexo muito”

Durante a construção da ponte suspensa Akashi Kaikyou, a maior do mundo com quase dois quilômetros de extensão, os japoneses tiveram que levar em conta os frequentes (sem trema!) terremotos que abalam a região.

E por que não testar a resistência dos pilares às vibrações com uma remexida sincronizada de dezenas de funcionários? Rebolando ao mesmo tempo, eles efetivamente balançaram a estrutura e provaram o valor de sua engenharia. Poucos meses depois, em 1995, o terremoto de Kobe testaria para valer a estrutura, que resistiu incólume, em parte graças à segurança atestada pelo rebolado sincronizado que você confere no vídeo acima.

Falando em pontes, vibrações e desastres, não podemos deixar de mencionar a ponte de Tacoma Narrows nos EUA, que em 1940 colapsou devido à interação do vento com sua estrutura. Oscilações retorcendo a ponte se tornaram cada vez maiores até a destruição catastrófica. O vídeo você já deve ter visto:

[via Fogonazos]

Câmera Panorâmica

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Idéia simples mas genial de uma câmera que, fechada, captura também a imagem de quem tira a fotografia, e aberta, permite tomar imagens panorâmicas, com maior campo de visão. É a “CLAM” do designer Gowoon Jeong.

Alguns telefones celulares que já vêm com duas câmeras poderiam incorporar essas funcionalidades com alguma modificação em seu software, permitindo tomar duas fotos com um só clique. Na maioria delas você apareceria com o olho meio espremido olhando para a minúscula tela, mas mesmo esse já poderia ser um momento Kodak para guardar.

Enquanto nada disso chega à realidade, e para quem gostar da idéia de fotos panorâmicas, vale indicar aqui o Microsoft Image Composite Editor. É um programa gratuito da empresa de Bill Gates que “costura” fotos do mesmo cenário em um grande panorama. Basta tomar fotos ao seu redor. Com um tripé funciona muito melhor, mas ficar parado no mesmo ponto e tomar várias fotos já produz resultados aceitáveis.

Ele se soma ao mais simples, também gratuito, mas com um pouco menos recursos, Autostitch que indicamos no ano retrasado.

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