Chindogu: mais invenções inúteis
Maravilhe-se com a genialidade de Kenji Kawakami, mestre do Chindogu – invenções que à primeira vista parecem solucionar problemas… mas que na prática são inúteis, ou “inusáveis”, seja porque causam mais problemas do que solucionam, ou por serem simplesmente ridículas demais.
No vídeo, Kawakami mostra em ordem: um guarda-chuva para proteger da chuva a ponta dos pés; um secador de roupa para praticantes de golfe; um apoio portátil para trem; uma sola de sapato para pegar bolinhas de pachinko sem provocar suspeita; uma mesa de chá móvel.
Esses não são os ápices do chindogu, alguns dos quais você confere aqui. No Brasil, a Associação Nacional dos Inventores exibe alguns exemplos de Chindogu, intencionais ou não. E na continuação, um videoclipe do grupo Polysics, com ótimas demonstrações da nobre arte criativa.
Yo no soy yo! Os ecos da consciência
Uma senhora chamada Maruja Martinez Ferri participa ao vivo pelo telefone de um telejogo espanhol. O atraso entre o que ela diz pelo telefone e o que ela escuta pela TV faz com que insista exasperada que há uma impostora com seu mesmo nome gritando os mesmos números que ela. O resultado é muita confusão na sessão da madrugada.
A segunda parte do vídeo, e uma dissecção protocientífica da piada e suas implicações filosófico-religiosas, na continuação.
Os Mares da Lua, em cores
A Lua, a olho nu, é cinzenta e repleta de manchas. Com um telescópio podem-se ver suas crateras em maior detalhe, mas ela continua cinzenta. Mesmo em uma fotografia comum.
Mas com fotografias digitais, com um simples filtro para aumentar a saturação de cores, descobrimos que nosso satélite tem sim tons muito tênues de cor que, realçados, incluem mesmo azuis-marinho e vermelhos.
Clique para a versão com maior resolução, do fotógrafo Russel Croman.
Darwin, IgNobel e Nobel: Annus Mirabilis para o Brasil?
Bem, por enquanto é apenas um Annus Horribilis, porque os prêmios que garantimos foram o Darwin e o IgNobel – ainda que o IgNobel tenha seu charme. O arqueólogo Astolfo Araujo, o ganhador do IgNobel, lembra que "não é porque é engraçado que não é boa ciência. Por exemplo, uma das pesquisas vencedoras, aquela das strippers [que ganhou na categoria Economia, mostrando que as dançarinhas de strip-tease recebem mais gorjetas quando estão no período fértil], é muito interessante para entender a relação entre a biologia e o comportamento humano. Isso é superlegal".
Mas como o Rafael comenta, há chances de que o neurocientista Miguel Nicolelis leve o Nobel de medicina. Ele já é candidato há alguns anos, o que significa que se não for agraciado neste ano, poderá ser no próximo (ou no próximo, ou…).
Entrevistado em 2006 por Ronaldo Bressane, Nicolelis comentou:
“Não entendo essa fixação com o Nobel! Acha que, no instante em que Santos-Dumont o primeiro homem a voar, estava preocupado em ganhar uma medalhinha dos suecos? Se eu fizer um paraplégico andar, e essa tecnologia se espalhar pelo mundo e possibilitar a milhões de pessoas voltarem a andar, perto disso o que pode significar um Nobel? Trazer o impossível para o plano concreto é o prêmio”.
Saberemos nesta segunda-feira se este será finalmente o ano em que o país terá um prêmio Nobel. Por enquanto, confira mais sobre a lista completa de ganhadores do IgNobel.
Efeitos indescritivelmente gigantescos
Contando a história do encontro com um renomado pesquisador do campo de inteligência artificial… que era criacionista, Eliezer Yudkowsky lança este parágrafo imortal no meio do ensaio:
“o fato inegável dos efeitos indescritivelmente gigantescos: condições iniciais e padrões em desenvolvimento cujas conseqüências ressoarão por tempos tão longos quanto as cadeias causais continuem até a Terra, até que todas as estrelas e galáxias no céu noturno tenham queimado ao ferro frio, e talvez muito além disso, ou pela eternidade até o infinito se as verdadeiras leis da física acabem permitindo tal.
Lançar nosso cérebro mortal deliberadamente a tal estágio, enquanto se desenrola na Terra antiga a primeira raiz da vida, é um ato tão além da ‘audácia’ que a palavra deve se incendiar, um ato que só pode ser evitado pelo conhecimento aterrorizante de que os céus vazios não oferecem nenhuma autoridade maior”.
De fato, este blogueiro que escreve aqui também é um devotado crente na idéia de que o desenvolvimento da Inteligência Artificial deve lançar uma compreensão de nossa própria consciência e “espírito” que colocará em cheque-mate todos os fundamentos religiosos – e em cheque boa parte dos éticos e morais.
Não que tais fundamentos já não tenham sido refutados ou questionados, evidentemente, todavia robôs espirituosos devem ser no mínimo algo um tanto mais engraçado que criacionistas usando antibióticos de última geração.
Não que eu tenha ainda a esperança de que isso extingüirá a religião, também. É mais provável que sejam criados robôs religiosos.
Enfim, leia (em inglês), o ensaio de Yudkowsky: Above-Average AI Scientists
Waseda Talker: um robô com cordas vocais
Com vocês, o "Waseda Talker-5" pronunciando as vogais aiueo. O som não vem de nenhum alto-falante ou sintetizador, mas sim de cordas vocais de silicone e aparatos simulando órgãos humanos, de dentes à língua, passando pelo nariz. Ainda soa fanho.
Confira mais imagens e vídeos na página oficial do laboratório Takanishi, incluindo um vídeo do Waseda Talker-7, completo com óculos nerds.
A pesquisa tem uma venerável ascendência: desde o século 18 busca-se criar autômatos capazes de falar como nós, e um dos pioneiros na área foi o inventor alemão Wolfgang von Kempelen, mais conhecido pelo seu Turco Mecânico.
[via QL]
A Espiral de Ulam e o Gênio de Euler
Olhe para os pontos acima. Não são aleatórios, de fato representam um padrão de importância fundamental para a computação, a tecnologia e a economia mundial. E embutem um pequeno, ou enorme, mistério.
Primeiro, o mistério, que deve ser o mais curioso. Olhe de novo para os pontos acima. Consegue enxergar algum padrão, alguma característica que se destaque? Algo como… uma série de linhas diagonais? É esse o pequeno, ou enorme, mistério.
E então, o que a série representa. É uma Espiral de Ulam, criada pelo polonês Stanislaw que, entediado, rabiscou-a em um papel (isso ele fez nas horas vagas, durante o trabalho inventou a bomba de hidrogênio e a propulsão nuclear por pulsos, entre outras coisas).
O grafo representa a série de números primos como pontos em uma espiral começando com o número 1 no centro e desenrolando-se a partir daí:
Ulam logo notou as diagonais que saltam tanto aos olhos, e surpreendeu-se, porque não se conhece qualquer razão trivial para tantas delas, que continuam ocorrendo mesmo quando a espiral é estendida a números incrivelmente grandes. Mistério.
Ou não? Você pode pensar a princípio que, como todos os números primos são ímpares — exceto o 2 –, é de se esperar que números primos adjacentes na espiral só o podem ser na diagonal. Na vertical e horizontal, números ímpares estão cercados por números pares. E estará certo ao pensar assim.
Contudo, números primos podem encontrar outros números primos a duas casas adjacentes em praticamente todas as direções. Também poderiam surgir padrões a partir daí, mas aparentemente, não é o que ocorre, pelo menos não de forma tão comum quanto as diagonais próximas.
Elas, por sua vez, se relacionam com uma curiosidade descoberta em sua forma inicial pelo prodígio Euler, de que o polinômio 4n^2 + bn + c gera uma grande quantidade de números primos a partir de números consecutivos. Por quê? Não há uma resposta clara para todas as soluções (para a de Euler, há um tanto), até porque — e este é o gigantesco mistério — não existe nenhuma forma trivial de gerar todos os números primos.
Os primos são um dos fundamentos da teoria de números e o pilar que permite a criptografia e, assim, a segurança de sistemas computacionais modernos. As chaves de segurança trocadas quando você usa o banco online só são seguras graças aos números primos. Há muitas curiosidades a respeito deles, e as diagonais na espiral de Ulam podem ser apenas mais uma, sem nenhuma razão em especial.
Ou não. Há diversas questões fundamentais em aberto na matemática, boa parte delas está relacionada com os primos e uma delas pode um dia explicar a espiral de Ulam. Em outras palavras, estas diagonais podem representar um padrão relacionado com alguma série de equações e termos que podem revolucionar a matemática, e quebrar todas as senhas de computador do mundo.
Seja como for, por enquanto já há pelo menos uma grande utilidade pública para a espiral. Com esta representação gráfica, qualquer um pode ver um padrão matemático que antes só era visível claramente a um prodígio fabulosamente extraordinário como Euler (como ele enxergou tal padrão, ninguém sabe).
Isso é tanto um atestado de nossa capacidade coletiva, como seres humanos, de reconhecer padrões — ver essas diagonais “saltando aos olhos” não é uma tarefa tão trivial — quanto nossa potencialidade individual fabulosa, representada aqui pelo gênio suíço. Para ele, não foi preciso desenhar.
Se isso por si só já não é fascinante, então apelemos para o “místico”. Arthur C. Clarke, anos antes de Ulam, descreveu o padrão diagonal nos primos. Mas o fez em sua obra de ficção científica, “A Cidade e as Estrelas”, sem jamais desenhar o padrão em si mesmo, sem nem mesmo desconfiar que o padrão de fato existia.
Perguntado muito depois sobre de onde havia saído aquele trecho presciente, Clarke respondeu que “depois de meio século eu não tenho idéia do que me fez pensar nisso“. Talvez nem Euler.
Mais:
– A whirlpool of numbers
Por que as maiores penínsulas apontam para o sul?
É o que pergunta Clifford Pickover. Você provavelmente nunca pensou sobre a questão, mas agora que o meme foi lançado a seu cérebro, não há mais volta.
Até o momento, 43% dos leitores pensa que é uma “observação fantástica e curiosa”, enquanto 39% apontam que “a observação é incorreta”.
Penso que a observação está sim correta, mas é apenas uma trivialidade relacionada com a maior quantidade de terras no hemisfério norte. O mapa múndi ao inverso ajuda a visualizar várias exceções à regra:
E você, o que acha?
Micrômegas vai à praia (tilt-shift video)
“Beached”, de Keith Loutit, uma aplicação da técnica tilt shift em um vídeo, dando um ar de miniaturas e maquetes às mais gigantescas paisagens.
O efeito curioso se traduz em verdade em um campo de profundidade estreito para as imagens capturadas, e como comentei há alguns anos, “a estranheza que essas imagens evocam também nos lembra de como estamos condicionados às imagens de nossa cultura e mídia”.
Isto é, por que isso nos lembra miniaturas? Porque estamos acostumados a ver miniaturas através de lentes que ao lidar com objetos pequenos acabam produzindo… um campo de profundidade estreito. Mais, em inglês, aqui.
Um homem das cavernas que não tenha sido inculcado inconscientemente em como uma imagem de uma maquete difere de uma paisagem a céu aberto provavelmente não teria a mesma impressão que nós temos ao ver esses vídeos.
E falando em vídeos, Loutit tem mais alguns ótimos com a mesma técnica. [YBNY]
Rubik’s Mirror Blocks: Cubo Mágico Mutante
Há muitas variações do “Cubo Mágico”, este malévolo e impiedoso objeto multicolorido inventado pelo húngaro Erno Rubik.
Rubik’s Mirror Blocks é uma especialmente interessante, espécie de Transformer que pode adquirir milhares (milhões?) de formas físicas diferentes. Apenas uma delas é um polígono regular. E sem nenhuma cor.
O apelo é muito mais estético, já que a dificuldade e as técnicas para solucionar o cubo permanecem exatamente as mesmas, enquanto manipular o cubo fisicamente se torna mesmo mais difícil.
Mas ao ver um desses caótico por aí, o impulso de resolvê-lo será muito mais irresistível ao obsessivo-compulsivo em todos nós. [Neatorama]