Dona Hilda
Tive a oportunidade de visitar Hilda Hilst pouco dias antes de sua morte. Estava prostrada, bastante abatida e, em meio ao alvoroço daquele hospital, jazia anônima. Peguei-me lendo alguns de seus poemas e, daí, a lembrança daquele dia brotou. Mas essa história é para outro “post”. Deixo aqui um de seus mais belos poemas.
“Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.”
(Dez chamamentos ao amigo)
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