“So disgusting”

Está travado o duelo. De um lado estão neurocientistas cognitivistas; do outro, psicólogos que estudam o comportamento humano. Os primeiros acreditam que o sentimento de repugnância provocado, por exemplo, pelo mau odor de um alimento podre é um importante instrumento na preservação da vida, na medida que nos impede de ingerir toxinas potencialmente letais – é a chamada repugnância visceral (“gut disgust”). Até aí, os dois lados estão de acordo. O problema começa quando os neurocientistas dizem que, além do asco visceral, o nojo moral (“moral disgust”) também é um sentimento que, em termos evolutivos, tem a função de preservação da espécie humana. Assim, o mal estar provocado pela figura de um senador corrupto, que nos levaria a proferir a frase “esse tal político R.C. me dá nojo”, seria o suficiente para que ele não mais recebesse o nosso voto e, talvez assim, conservássemos a sobrevivência sadia do grupo social. Os psicólogos discordam dessa visão e acreditam que o “moral disgust” dos cognitivistas não passa de uma metáfora, um recurso de linguagem, apenas. Há argumentos a favor e contra os dois grupos. Apesar de minha filiação à corrente dos neurocientistas, acho que as evidências de nosso atual cenário levariam a rápido nocaute a minha trupe, ainda no primeiro assalto.

P.S.: Para quem se interessar, peça por e-mail o artigo “The depths of disgust”, publicado na edição de 14 de junho da Nature, ou acesse o site.

Da Ironia _que, aliás, matou Sócrates

Recebi, há alguns dias, um e-mail questionando a capacidade de se reconhecer a ironia no texto de J.L.Borges. Diz o missivista que possui muita dificuldade em perceber a ironia tão universalmente propalada nas obras do argentino. Pediu-me “dicas” para identificar as passagens irônicas. Caro amigo leitor, sinto decepcioná-lo, mas tais “truques” não existem. O que eu posso lhe assegurar é que o exercício exaustivo (e prazeroso) da leitura, seja de Borges, Machado de Assis, Sócrates ou Monteiro Lobato, levará o leitor, mais cedo ou mais tarde, a perceber e se divertir com a ironia. Quanto à “clase” de Borges citada no post, transcrevo alguns trechos que eu classifiquei como irônicos: “Coleridge nasceu em 1772, dois anos após o nascimento de Wordsworth, que corresponde, segundo sabem vocês, ao ano de 1770, muito f’ácil de se lembrar. Digo isto já que estamos em vésperas de exame.” Outra: “Geralmente, quando chegava a data indicada (das conferências), Coleridge não aparecia, e quando aparecia falava de qualquer tema menos do prometido. E houve algumas vezes em que falou de tudo e também do tema da conferência. Mas essas ocasiões foram raras.” E para terminar: “Eu tive um amigo mais ou menos famoso, Macedonio Fernández (…).” Ironias à parte, Paulo Coelho continua na lista dos mais vendidos na França. Borges que nos proteja…

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