Mémoria alada

Fui ao cinema. O filme, “O Escafandro e a Borboleta”, de Julian Schnabel. Não discutirei o enredo, mas as críticas sobre a excelente película. Nenhuma delas tocou no ponto que, a meu ver, é crucial, o cerne de todo o desenrolar das cenas. A grande protagonista é a Memória, com maiúscula. O esforço descomunal para “escrever”, letra por letra, uma autobiografia a partir do piscamento, que é decodificado por uma jornalista, só encontra êxito porque há uma Memória capaz de evocar fatos e colorí-los adequadamente. O homem enclausurado em si mesmo após um derrame, incapaz de quaisquer movimentos exceto o piscar do olho esquerdo, consegue se libertar, voar como uma borboleta ao recordar de lugares previamente visitados, de situações prazerosas, de extravagâncias gastronômicas. Lembrei-me do conselho de Agostinho (descrito por Petrarca em Secretum meum): “Sempre que leres um livro e encontrares frases maravilhosas que te instiguem ou deleitem teu coração, não confies apenas no poder de tua inteligência, mas força-te a aprendê-las de cor e torná-las familiares meditando sobre elas, de tal forma que ao surgir um caso urgente de aflição terás sempre o remédio pronto, como se estivesse escrito em tua mente. Quando encontrares quaisquer trechos que te pareçam úteis, faz uma marca forte neles, que poderá servir de visco em tua memória, pois de outra forma eles poderão voar para longe”. Carpe diem.

Discussão - 4 comentários

  1. Karl disse:

    Não me lembro de ter visto ninguém falando da analogia belíssima do título - que não é o escafandro - mas o piscar, como o bater de asas da borboleta, que permite à memória, voar.

  2. Theo disse:

    Amigo,apesar de pertinente no caso e bem utilizada em "O Escafandro e a Borboleta", a "câmera subjetiva" me incomoda como tendo um certo artificialismo incompatível com a objetividade do formato cinematográfico. Talvez por isso tenha apreciado a película moderadamente (além do fator "claustrofóbico" da terrível "síndrome de locked-in" de base neurológica). Mas o seu comentário sobre o fator-Memória realmente me parece um ponto de vista + do que pertinente sobre um porquê de se filmar esta história real tão patética, terrível e - sejamos sinceros - que poderia ficar somente desagradável como "case story" levada às telas (risco que o filme dribla bem). E, de fato, não li nadinha ainda sobre o filme que sublinhasse esta função psíquica para até mesmo justificar a existência do filme...Abração!

  3. Caro Theo,acho que a câmera subjetiva foi um artifício interessante dada a condição do protagonista, mais para escafandro do que para borboleta, por mais que romantizemos...Abraço!

  4. Anonymous disse:

    AMIGO DE M.,NÃO´PUBLICAS MAIS OS ANÔNIMOS, AINDA QUE SEM MUITO ACRESCENTAR TENHA SIDO O COMENTÁRIO?NA VERDADE QUIS DIZER A ; "QUEM NÃO TEM MEMÓRIA, FAÇA UMA DE PAPEL".QUANTO AO FILME NTENHO COMO ASSISTIR AINDA, MAS PELO RESUMO ,É O TIPO DE FILME QUE GOSTO EACHO VÁLIDO!BJUS. HELENA DE FERRO!!!

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