Manchetes comentadas 1: Enterro de Eloá leva milhares ao cemitério

Esses crimes que geram comoção pública nunca me atraíram. Tenho verdadeira ojeriza (que palavra eloqüente) àqueles programas mundo-cão, verdadeiros sucessos de audiência nos finais de tarde por todo o Brasil. Jamais me disporia a ir num velório de alguém que não conhecesse. Contudo, dez mil desconhecidos o fizeram no dia 21 de outubro.

O último desses crimes de comoção pública foi o seqüestro e assassinato da adolescente Eloá, em Santo André, por um ex-namorado. Um dos pontos que me chamou a atenção nessa história foi a quantidade de gente que compareceu ao seu velório e sepultamento. O que será que gera tal comportamento?

Algumas abordagens do comportamento humano trazem explicações para isso. A primeira delas aponta para a teoria da mente. Ela sugere que a situação vivida pela vítima é percebida por um observador, que se identifica e é capaz de imaginar o sofrimento da vítima, criando aí um elo. Dessa forma, aquelas milhares de pessoas no velório eram potenciais Eloás, pais de Eloás, amigos e companheiros de cárcere da menina. Pessoas que, em nossa sociedade cada vez mais violenta, sentiram-se elas também agredidas pelo seqüestrador.

É claro que as teorias não são exclusivas. Parte daquela massa deve ter ido ao velório de Eloá movido pela compaixão e empatia e parte pela tensão da situação. Aténum mesmo indivíduo ambas as causas podem se sobrepor, levando ao comportamento. O certo é que, enquanto nossos cérebros continuarem funcionando assim, teremos aglomerados ao redor de acidentes de trânsito, trens-fantasmas e programas mundo-cão.

Discussão - 6 comentários

  1. Necrofilo disse:

    Eu fui porque queria ver o cadáver.
    Gosto também de ver o sofrimento alheio e ficar alegre por não ser comigo.

  2. Paula disse:

    Eu tinha pra mim que era falta do que fazer mesmo. A mídia transformou o caso em uma novela, até o sequestrador já estava pendurando camiseta do time na janela, tudo para aparecer na TV. Estava se sentindo uma celebridade.
    E, como adoramos novela, muitos de nós queríamos também aparecer. E por isso, muitos foram ao enterro. Mas talvez a interpretação do comportamento seja mais humana, e talvez eu mude de opinião por conta disso.

  3. Blog Mallmal disse:

    Muito bom o seu texto, só achou que você errou de país. Ele se aplica à Dinamarca, Islândia... Aqui os isentos foram lá para tentar sair na "Grobo" e pelo frenesi da morte alheia. Se fosse por identificação, como você supõe, as pessoas iriam em todos os enterros de vítimas da violência urbana e não só naqueles que a mídia transforma em circo...

  4. Eduardo Bessa disse:

    Paula e Mallmal, vocês têm razão. A exposição à mídia é outro fator importante nesse caso, tentar virar personagem. Me lembra uma música do Oswaldo Montenegro, a dama do sucesso, em que a tal dama, sedenta por entrar para o show-bizz consegue aparecer na TV finalmente enquanto morria num incêndio.

  5. Paula disse:

    Olha, eu concordo com a Paula (!). É pura falta do que fazer. Além do mais, a morte sempre fscinou (?) o ser humano. Não é a toa que mesmo na idade média, os enforcamentos e fogueiras humanas sempre foram bastante apreciados...
    Uma pena...
    Abraços!

  6. Clara disse:

    Acho que vocês não tem coração,e tudo que o ser humano faz tem que ser julgado,quemsão vcs para saber o que se passava na cabeça de cada um, e assim garanto que se não estivesse ido ninguém,a reportagem seria como que o ser humano é tão sem coração,é disso que cs gostam de sempre falarem mal.E acham que eles querem aparecer,porque nunca aconteceu isso com nenhum proximo.

Deixe um comentário para Eduardo Bessa Cancelar resposta

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.