Manchetes comentadas 4 – EUA já usaram 290 Bilhões em ajuda


O que o Federal Reserve americano tem a ver com marrecos migratórios?

O que o Federal Reserve americano tem a ver com marrecos migratórios?

Semana após semana os jornais têm noticiado os gastos dos governos do mundo todo com instituições financeiras particulares para frear os efeitos da crise financeira que nos assola. Ao que meus parcos conhecimentos de economia entendem, parece que as instituições financeiras de alguns países em que a fiscalização governamental sobre transações bancárias é mais frouxa fizeram tantos empréstimos ao público e entre bancos, que uma hora havia mais notas promissórias de empréstimos do que dinheiro nos bancos. Isso os fez quebrar. Mas na verdade o post de hoje nada tem a ver com essa questão. Ia aproveitar para falar sobre a ajuda e o altruísmo.

 

 

 

O altruísmo sempre foi intrigante em termos evolutivos. Desde que a teoria da evolução foi proposta por Charles Darwin que se compreende que a seleção natural atua em nível individual. O indivíduo que se dá bem sobrevive e reproduz é bem sucedido evolutivamente. O indivíduo que ajuda, em geral, oferece algo em benefício do outro que resulta num prejuízo para ele mesmo. Por isso a ajuda não parece ser um comportamento evolutivamente vantajoso.

Por que então temos comportamentos como abelhas que se suicidam ao ferroar para proteger a colméia. Ou por que um marreco voa no vértice da formação de migração quebrando toda a resistência do vento enquanto os outros só vão no vácuo. Por que o governo ajudaria a resgatar os bancos em falência?

Diversas teorias foram propostas para os diferentes tipos de altruísmo. As abelhas, por exemplo, à medida que se suicidam ferroando ameaças, estão protegendo suas irmãs na colméia. Dizem que JBS Haldane, um eminente biólogo inglês, disse quando questionado sobre estar disposto a dar a vida pela Inglaterra na 2ª guerra: “Pela Inglaterra não, mas daria minha vida por dois irmãos ou oito primos”. Isso significa que sacrificando-se para proteger dois irmãos a maior parte de seus genes estariam preservados, já que cada irmão partilha 50% do genoma de um indivíduo. A partir daí William Hamilton elaborou a teoria da seleção de parentesco, na qual o nível de seleção não mais é o indivíduo, mas sua família. Em última instância seus genes, a teoria do gene egoísta de Richard Dawkins.

Já com os marrecos, eventualmente o marreco que vai no vértice troca de lugar com algum outro. Um marreco só ajuda os outros no vôo se isso for devolvido depois. É o chamado de altruísmo recíproco e parece ser uma estratégia evolutivamente vantajosa. Dependendo do custo da ajuda para aquele que a oferece e do benefício para aquele que a ganha a ajuda será sempre oferecida. No caso das aves, ficar por 15 minutos quebrando o vento para os demais significa que depois passará uma hora tendo o vento quebrado pelos colegas. Nesse sentido o altruísmo seria apenas um egoísmo mascarado.

É isso o que está havendo com as ajudas dos governos de todo o mundo aos bancos em bancarrota. Seja a venda de dólares para reduzir o valor da moeda, seja um empréstimo/doação para o banco quitar suas dívidas com outros bancos, a ajuda aos bancos rende, no final, uma ajuda à própria economia nacional, que é o que sustenta o governo. Bancos financeiramente sadios pagam em dia seus empréstimos e fazem girar a economia, o que gera mais impostos para o governo. Essa ajuda financeira só está vindo agora na esperança de que depois esses bancos, recuperados, apóiem financeiramente o governo também. Uma mão lava a outra.

Imagens obtidas de federalreserve.gov e petfriends.com.br

 

Discussão - 2 comentários

  1. João Carlos disse:

    O altruísmo não só faz parte da evolução natural (depois eu pesco a referência) como é "contagioso", conforme se verificou com colônias de bactérias.
    Já a parte dos marrecos foi recentemente contestada por um estudo divulgado pela Cornell: Following the leader can be a drag.
    E a questão dos bancos é meio como uma cirurgia cardíaca: ou faz, ou os demais órgãos saudáveis morrem, junto com o coração...

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