Manchetes comentadas 17- Número de famintos ultrapassa 1 Bilhão

Vários veículos de comunicação noticiaram hoje o comunicado da FAO, Food and Agriculture Organization, ligada à ONU, de que o número de pessoas famintas no mundo atingiu um novo redorde. Uma em cada seis pessoas tem ingestão diária de calorias inferior ao mínimo necessário para sua sobrevivência. A organização atribuiu isto à crise financeira mundial e aos altos preços dos alimentos.

A teoria da ecologia de populações descreveu o crescimento populacional de diversas formas. Os modelos surgiram para moscas da fruta, carneiros monteses e algas diatomáceas, mas têm demonstrado que se aplicam a qualquer população, inclusive a nossa. Segundo o modelo de crescimento logístico da população, o número de indivíduos de certa espécie começa crescendo de forma exponencial, ou seja, 2, 4, 8, 16, 32, 64, 128… Assim, a população se expande até que a competição por um dado recurso, que pode ser ou não alimento, começa a limitar a reprodução. Aí a curva de crescimento populacional vai lentamente se afastando do crescimento exponencial até atingir um ponto de inflexão em que o crescimento desacelera (veja bem, a população continua crescendo, só que cada vez mais lentamente). A linha que representa o crescimento populacional vai se aproximando da horizontal à medida que a competição pelo tal recurso vai se agravando. Chega um ponto em que a competição é tão ferrenha que para cada indivíduo que nasce um precisa morrer ou não haverá recursos suficientes para todos. A este ponto dá-se o nome de capacidade de suporte.

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Comparação entre a curva de crescimento exponencial, onde a competição não influenciaria a população, e a de crescimento logístico, na qual a população entra em equilíbrio com a quantidade de recursos que o ambiente oferece.

Em geral, a capacidade de suporte é um limite intransponível para as populações. Ao que parece, nossa espécie está chegando a um número limite de pessoas. Um site assustador que descobri online mostra em tempo real alguns números como a população humana mundial, por país, gastos em educação e armamentos no mundo, queimadas e emissão de CO2.

Acontece que a população humana já atingiu pontos de inflexão outras vezes, retardando seu crescimento por competição que nem qualquer outro organismo por aí. Nos livramos das capacidades de suporte do planeta Terra todas estas vezes com a tecnologia e mudando os recursos utilizados. Outras espécies também fazem o mesmo alterando suas populações para mais, mesmo depois de atingir a capacidade de suporte. A população humana já foi limitada por parasitas e doenças e voltou a crescer após avanços da medicina, já foi limitado pela nossa agricultura ainda rudimentar e voltou a crescer após a revolução verde.

Agora os alimentos parecem estar nos limitando novamente. Na verdade os alimentos e a péssima distribuição deles; proporcional à distribuição das riquezas. Quais as alternativas possíveis para fugir de mais esta capacidade de carga? É certo que ainda podemos reverter este quadro com tecnologia e talvez imprimindo ainda mais fundo nossa pegada ecológica. Transgênicos podem resolver o problema, por exemplo. Trocar florestas por plantações também (ignoremos a questão de “por quanto tempo”, como o resto do mundo parece fazer). Mudar nosso sistema econômico seria uma solução muito menos paliativa, mas quem está disposto a isso?

Na verdade, se tem uma coisa na qual eu acredito e realmente seria capaz de devotar meus esforços, é que nosso futuro enquanto espécie só será menos sombrio se abrirmos mão do crescimento populacional. A solução sustentável para nossa relação com o planeta só existirá quando nossas relações sexuais resultarem menos frequentemente em novas pessoinhas. Senhores: Camisinhas! Pílulas! Evitemos que a população cresça. Se em média cada casal tiver apenas dois filhos em longo prazo restabeleceremos o equilíbrio, mesmo mantendo nossos níveis atuais de pressão sobre o ambiente e se dermos condição de todo ser humano ter nível social igual dentro de suas aspirações. E viva a utopia.

Discussão - 8 comentários

  1. João Carlos disse:

    Se em média cada casal tiver apenas dois filhos em longo prazo restabeleceremos o equilíbrio, mesmo mantendo nossos níveis atuais de pressão sobre o ambiente e se dermos condição de todo ser humano ter nível social igual dentro de suas aspirações.

    Sei não... Os que não estão abaixo da linha da miséria, estão cada vez mais longevos, ou seja, mesmo com uma taxa de 1x1 de reprodução, a população tende a aumentar. Mas é curioso observar que nos países mais prósperos a população não só fica mais velha, como também encolhe. Nos bolsões de miséria é que a sobrevivência da espécie é garantida pelos grandes números. E nem é de estranhar: onde passa fome um, passam fome dois, três, ...

  2. Cleisson disse:

    Oi
    gostei muito de conhecer seu site, parabéns é muito bom encontrar conteúdo de qualidade , estarei acompanhando.
    Tenho um blog de conteúdo direcionado a natureza, meio ambiente, espero sua visita.
    Cleisson

  3. bessa disse:

    Pois é, como eu disse, foi minha licença utópica. Mas a utopia é embasada ecologicamente, já que, por melhor que sejam nossas taxas de sobrevivência infantil, não chegaremos a 100% jamais, daí há até uma perspectiva, ainda que leve, de decréscimo populacional. Desde que a natalidade caia para todo o mundo acho que funciona. Estou disposto a pagar para ver em todo caso. O problema é sugerir que populações de países mais pobres têm que ter menos filhos. Daí para virar eugenia ou engenharia social é um passinho mínimo!

  4. Gabsz disse:

    A redução populacional é o que falta mesmo. Com menos filhos sobra mais comida, mais condições de dar educação o que pode resultar em um número maior de pessoas com um emprego decente e consequentemente mais dinheiro que o pais tinham, dando uma melhor condição de vida para os próprios filhos e assim por diante. Numa tacada só diminui a fome, aumenta a educação,diminui as doenças sexualmente transmissiveis(camisinha como anticoncepcional) e diminui a desigualdade social...
    Não custa nada sonhar né?

  5. Robson disse:

    Prof, se der,passe o site assustador para nós!

  6. bessa disse:

    Ops, obrigado Robson. Escrevi o texto em outro programa e na hora de passar para o blog faltou o link para o site. Já corrigi no texto

  7. Davi disse:

    Sei não.. talvez se isso fosse aliado a um consumo mais consiente..
    Afinal de contas.. um filho unico americano consome muito mais recursos do que 3 familias de 7 filhos cada do sertão nordestino brasileiro.
    To mentindo?
    Exageros à parte.. acho que já existe alguma preocupação global sobre o assunto..
    E acredito tb que nossa capacidade de suporte como população excede a da Terra.
    Mas eu sou pessimista mesmo..
    rsrs

  8. Cledinaldo disse:

    Oi, tudo bem? Acho que vi esse post um pouco depois que vc publicou, mas gostei muito.
    Sou professor da Universidade Estadual do Piauí e seria interessante trocar informações.
    Quanto ao tamanho da pupulação, sempre comento sobre isso e mesmo nem pensando em teorias ecológicas dá pra notar que o crescimento é exagerado em demasia, mas não vejo esforços nesse sentido; o que se vê é a tentativa de remediação.
    Abraço

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