Sobre chás e cervejas

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Acabei de ler esta semana “Uma Senhora Toma Chá…” de David Salsburg. O livro conta de forma deliciosa a história de como a estatística entrou no cenário científico mundial a partir do século XX. Hoje ciência e estatística estão de tal forma ligadas que não é possível pensar em uma sem a outra. Por outro lado, para muitos cientistas menos afeitos a abstrações matemáticas, este ainda é território inóspito e causticante.
Para quem lê “Uma Senhora Toma Chá…”, porém, a estatística ganha novo significado. Além da ferramenta que ajuda o cientista a encontrar ordem num universo de números nem sempre claros, ela passa a ser o produto de cérebros extremamente brilhantes. Depois deste livro, cada teste de hipótese que realizo (Snedecor, Fisher, Kolmongorov, Pearson, Student…) traz um significado, uma personalidade, uma aventura diferente. Foi isso que lucrei de “Uma Senhora Toma Chá…”.
Descobri que Gosset era o funcionário da Cervejaria Guiness que procurava uma forma de padronizar o sabor da cerveja, e descobriu-o aplicando uma matemática que seria útil a muitos. Censurado pelo alto escalão da Guiness de publicar seus dados como segredo industrial, ele recorreu ao codinome Student. Descobri sobre a personalidade brilhante e irascível de Ronald Fisher, que até sua morte defendeu que cigarros não causam câncer, e sobre a ainda mais brilhante, porém dócil de Kolmongorov, que até sua morte questionou o que compreendemos por probabilidade. Descobri que o teste do qui-quadrado, familiar de todo estudante de genética mendeliana, foi utilizado para conferir se uma senhora realmente conseguia diferenciar o sabor entre um chá quente servido sobre leite e um leite servido sobre chá quente. Descobri que o futuro talvez esteja na modelagem ou na estatística Bayesiana.
Sugiro enfaticamente a todo entusiasta desta ferramenta matemática da ciência, e também àqueles que sentem certa paúra dela.

Discussão - 4 comentários

  1. Da forma como você descreve, aparenta ser um livro sensacional mesmo.
    Vai entrar na minha lista de livros a serem lidos (num futuro não muito distante, espero)!

  2. Marão disse:

    Tão em moda com a novela bufa da Globo, o Chá entra em cena na tremelicagem de danças exóticas e, cá entre nós, ainda assume a pejorativa pecha de “remédio popular”. Tenho-me deleitado com sabores pra lá de bom adquirindo-os em casa especializadas, mas sem ritualismos britânicos ou orientais. Agora temos um blended com números constituindo uma sopa matemática afrodisíaca, como percebi. Se a estatística ganha agora novo significado, e o “Chai” vira ferramenta que ajuda o cientista a encontrar ordem no universo e passa a ser o produto para lustrar cérebros brilhantes, eu ainda não sei. Os efeitos práticos todavia, têm-me causado apenas danos à língua e mijadeira.

  3. Cristina disse:

    Meu comentário é em defesa da matemática como um todo. Esta ciência surgiu para facilitar a vida das grandes civilizações e hoje, nós, pobres mortais, não conseguimos entendê-la, mesmo com tanta tecnologia. A matemática veio para simplificar nossa vida e não para complicá-la. Quem complicou nossa vida foram a(o)s péssima(o)s professora(e)s de matenática de ensino fundamental e médio que sem a formação adequeda não conseguem transmitir para seus alunos a beleza desta grande ciência.
    PS: Depois de ler seu blog fui atrás do livro e é realmente muito bom.
    Adoro seus posts! São sempre muito atuais e relevantes.

  4. Lucena disse:

    Obrigada Bessa..
    desde quando eu cursava o ensino médio a estatistica briga com minha capacidade de aprendizado. A verdade é que nunca me interesei até descobrir que não conseguiria pesquisar de modo científico sem ela. Então vamos la aprender. Pretendo ler o livro, obrigada pela dica.
    Bjim D'ana

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