Manchetes comentadas 20: 38 dependetes químicos morrem em incêndio em clínica

Saiu no “O Globo” de hoje o incêndio ainda sem causas definidas que matou 38 pessoas em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos no Cazaquistão. O incêndio ocorreu por volta de 5 h da manhã de sábado. Os bombeiros conseguiram resgatar 40 pessoas, mas muitas estavam trancadas nos quartos como forma de evitar fugas ou reincidências dos vícios.

Dia 30 de agosto tivemos uma palestra muito interessante no BIOTA, o evento em comemoração ao dia do biólogo aqui da UNEMAT, com o Prof. André Luis Ribeiro Lacerda, da UFMT. André nos falou sobre a função última da exclusão social; causas últimas foram colocadas pelo Niko Timbergen, laureado de 74 com o Nobel de fisiologia e medicina por sua contribuição à etologia, define causa última como a causa evolutiva de um dado comportamento, ou seja, que vantagem evolutiva aquele comportamento oferece a quem o realiza. Em sua palestra André discorreu sobre como a coesão de determinados grupos sociais, inclusive os humanos, se beneficia ao retirar de dentro deles, integrantes que fujam aos interesses do grupo todo. Há várias formas de exclusão, assim como várias formas de ser considerado inapto a permanecer no grupo. Em termos evolutivos, a vantagem de excluir um membro corrosivo ao grupo é que o grupo todo estará mais coeso e seguro. Assim, temos uma explicação distal, adaptativa para a exclusão social. O que de forma alguma significa que o preconceito deva ser apoiado ou incentivado, como discutimos depois da palestra com alguns pesquisadores humanistas meio estarrecidos com o rumo da prosa.

o-alienista

Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal. Eu do meu lado aprendendo a ser louco

Fonte: www.profmi.wordpress.com

Drogaditos são certamente uma categoria que sofre com a exclusão social constantemente; hoje até mesmo fumantes e alcoólatras sofrem este preconceito. A institucionalização de casos mais graves à margem da sociedade pode ser visto muitas vezes como uma exclusão destes membros da sociedade (outros defenderiam que é uma reabilitação ao convívio social, mas de qualquer forma estamos excluindo o personagem indesejável enquanto ele não se portar do jeito que esperamos. E viva O Alienista!). Foi esse nosso desejo de ocultar e excluir o que não se enquadra que levou à morte dessas 38 pessoas no Cazaquistão, uma higienização social acidental e definitiva.

Discussão - 3 comentários

  1. Marão disse:

    Não vejo nenhum paradoxo nisto; ao que parece é normal na natureza e, portanto, de longa data em inumeráveis manifestações no que se refere ao gênero humano. Acidentes acontecem, poderia ter acontecido com um grupo de inválidos, etc. É lamentável, mas não creio ter havido premeditação criminal.Mas também acho que comportamentos excêntricos levam, em última instância, também a mudanças radicais nessa seara. Seriam pois atitudes socialmente salutares? Seria uma maneira de fazer evoluir hábitos e costumes na sociedade? Claro que a "evolução" em si pode ter um sentido positivo ou negativo. É assim que caminha a humanidade - tropeçando.

  2. Mr. Bhyngo disse:

    A invisibilidade social dos socialmente excluídos é uma característica da contemporaneidade. E é fato que ignoramos o outro porque ainda não compreendemos o significado da palavra delinqüe. De significa sem e linque vem de vinculo, portanto, ausência de vínculo. É a necessidade de vincular-se que eles clamam. Em geral, os adictos estão em busca da segurança psíquica e física que não receberam em suas famílias. E muitos nem lar tiveram. Ora, que houve uma transformação da família nas últimas décadas é inegável. Mas também sabemos que a pessoa se constitui psiquicamente frente ao olhar do outro. Será que os “indóceis e não submissos” ainda precisam arder em fogo para serem reconhecidos?

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