Mutirão

Ao Sérgio Floeter, pela dica

e ao Giliard que, mesmo sem saber nadar, vestiu o neoprene e foi mergulhar para observar o comportamento dos curimbas

 

Saiu na Science um desses estudos que a Miriam Marques, do MZUSP, chamaria de elegante. Brad Taylor e seus colaboradores dividiram a calha de um rio da bacia do Orinoco ao meio com uma tela, em uma das bandas retiraram todos os Prochilodus que havia ali, a outra metade permaneceu como controle. Passado um tempo foram medidas variáveis químicas da água relacionadas ao carbono.

prochilodus

O curimba Prochilodus mariae, um exemplo de como pequenos esforços podem fazer um mundo melhor

Fonte: fishbase.org

 

Os Prochilodus brasileiros são popularmente conhecidos como Curimbas, peixes relativamente grandes (30 cm) com uma boca engraçada virada para baixo. Eles passam o dia engolindo punhados de areia do fundo, pegando o que há de matéria orgânica maior entre os grãos e cuspindo fora pelas brânquias o resto do sedimento. Nesse processo, no entanto, os curimbas revolvem o substrato e libertam parte do carbono que se fixaria no fundo, tornando-o disponível para outros organismos rio abaixo. Foi isso que concluiu este trabalho da Science, que a remoção dos Prochilodus afeta a ciclagem do carbono orgânico do rio.

Enquanto lia esse artigo me ocorreu que às vezes nos sentimos tão pequenos e impotentes diante das coisas erradas que acontecem no mundo, seja da emissão de carbono e do sentar-no-proprio-rabo-e-falar-do-rabo-alheio na Dinamarca, seja dos gordos panetones natalinos dos políticos da minha terra, Brasília. Se mesmo os serenos curimbas que vagam nos fundos dos rios têm um papel tão nobre no ecossistema ao realizar simplesmente o “trabalho” que lhes foi ecológica e evolutivamente designado, nós em nossa insignificância cotidiana também podemos fazer algo de produtivo tocando nossas atividades rotimeiras com competência, ética e responsabilidade. Se cada um fizer a sua parte podemos ter um mundo melhor. É clichê sim, mas é fim de ano época de exercitar a esperança e tenho que fazer jus ao subtítulo do blog!

Discussão - 0 comentários

Participe e envie seu comentário abaixo.

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.