A fêmea no poder III

Aos meus amigos Anderson Miranda e Denise Araújo

Abelhólogos poderosos, mas colaborativos

 

O estadista alemão Otto von Bismarck dizia que a política é a arte do possível. A imagem que me vem à cabeça com esta frase é a de um cabo de guerra com inúmeras pontas, em cada ponta existe um setor da sociedade, um partido político, um interesse internacional, e cada um puxa a corda em sua direção. Quer (e se julga merecedor de) ser beneficiado. Para mim, o que Bismarck quis dizer foi que, em meio a essa disputa toda, o bom político deve saber equilibrar as tensões e abrir mão do que idealizou para atingir um meio-termo que agrade à maioria. É este cenário que aguarda a presidenta Dilma Roussef e só me cabe esperar que ela compartilhe com outra fêmea a capacidade de lidar com conflitos de interesse, a abelha rainha sobre a qual falaremos nesta quarta-feira.

abelhas

A Rainha passando em revista sua corte, quem é que detem o poder?

Fonte: ucanr.org

Na abelha africana, Apis melifera, as colméias são formadas por centenas de operárias, todas fêmeas, uma rainha e vários filhotes em diferentes estágios de desenvolvimento. O sistema de determinação sexual de machos e fêmeas de abelhas é diferente do nosso, fêmeas nascem de ovos fecundados pelo zangão, machos nascem de óvulos não fecundados que se desenvolvem (partenogênese). Agora faça uma forcinha para me acompanhar no raciocínio matemático! Operárias egoístas podem ter filhos machos com os quais compartilham 50% de seu DNA, no entanto, aquelas que abrirem mão de se reproduzirem para cuidar de suas irmãs mais novas, cuidarão de indivíduos 75% idênticos a si mesmas, desde que a rainha só tenha acasalado com um zangão. Como 75% é mais que 50%, é vantajoso para uma operária que a mãe tenha muitas filhas e nenhum filho. Já para a rainha, tanto filhos machos quanto fêmeas têm 50% de seu genoma. Assim, para ela o ideal seria produzir metade dos filhotes de óvulos fecundados (fêmeas) e metade partenogênica (machos). Está montado o cenário do conflito entre rainha e operárias!

Como líder e fêmea, a abelha rainha sabe que não pode prescindir de sua base aliada, de fato, ela é absolutamente dependente das operárias suas filhas. Assim sendo, a rainha frequentemente cede ao interesse de sua plebe e produz um número maior de filhas do que de filhos, sem, no entanto, deixar de produzir filhos machos. É esta capacidade de negociação e de gerenciamento de conflitos que espero que a presidenta Dilma compartilhe com as abelhas.

Discussão - 2 comentários

  1. André Souza disse:

    Faltou dizer q os machos fazem praticamente P* nenhuma (só ajudam no controle de temperatura da colméia... de resto, só enchem a cara de mel, sujam a colmeia inteira e ocupam espaço). Só são gerados, pela mesma lógica, por "converterem um único óvulo em milhões de espermatozóides idênticos", visto q são haplóides
    Uma outra observação sobre a organização das abelhas é q a abelha rainha só existe para servir a colméia e os únicos papéis dela são manter a unidade (através de um feromônio de identificação) e produzir ovos. Qd ela passa a não desempenhar suas funções adequadamente, as próprias operárias irão derrubá-la (qs literalmente,visto q irão arrancar uma de suas patas para q não consiga botar ovos na posição correta, incentivando a construção de realeiras e a criação de novas abelhas-rainhas para substituí-la)
    Se a Dilma não lembrar deste exemplo, espero q nós lembremos q tb podemos tirá-la se for realmente o necessário

  2. bessa disse:

    Amém! Que assim seja. Off with her head!

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