Chomsky: Os trabalhos contemporâneos abordam apenas uma parte do desafio: a tarefa de explicar a capacidade humana única de criar um conjunto ilimitado de expressões estruturadas interpretadas como pensamentos, e os meios pelos quais elas são externalizadas (na verdade, muito raramente). Mas a outra parte do desafio tem a ver com o uso dessa capacidade: o que tem sido chamado de “aspecto criativo do uso da linguagem” – repito: “uso”. Ou seja, a habilidade de usar a linguagem de uma maneira que possamos ser “incitados e inclinados” a fazer a depender das circunstâncias, embora não sejamos “obrigados” e possamos fazer o contrário – a habilidade de usar a linguagem em maneiras que sejam apropriadas às circunstâncias, mas não causadas por elas, isso é uma distinção fundamental. Essas estavam entre as principais preocupações que levaram Descartes a postular uma segunda substância, res cogitans. Às vezes, os comentaristas agora citam o aforismo de Humboldt sobre a linguagem envolvendo o “uso infinito de meios finitos” – normalmente ignorando o fato de que ele estava se referindo ao uso. Essa lacuna na compreensão não é, claro, específica ao estudo da linguagem. Praticamente nada é compreendido como uma ação voluntária mesmo em casos muito mais simples, como a decisão de levantar o dedo, assuntos que, muitas vezes, não são devidamente reconhecidos.