Na Patagónia – II (continua)

Acordei pelas 6h30, tinha passado uma noite gelada e demorei a perceber que estava no meio da Patagónia. Saí da tenda mal os primeiros raios de luz iluminavam a paisagem, que ainda não havia visto. Dei por mim primeiro embasbacado, depois um pouco receoso – a enormidade do espaço poderia provocar agorafobia a qualquer um.
Dirigi-me ao local onde havíamos jantado. Rodolfo Coria chegou pouco tempo depois e começámos a aquecer água para o café e mate matinais. Este paleontólogo, com mais de 20 anos de experiência, contribuiu com importantes achados paleontológicos na região que estávamos prestes a explorar. Em meados dos anos 90 descobriu vértebras e alguns ossos das patas do que é considerado o maior dinossáurio alguma vez descoberto – o Argentinosaurus.
Este dinossáurio saurópode (herbívoro e quadrúpede), e com base nas proporções dos restos ósseos descobertos, mediria cerca de 40 metros de comprimento e pesaria mais de 100 toneladas.
Descobriu ainda restos fossilizados do maior dinossáurio carnívoro, Giganotosaurus (maior do que o famoso T-rex), em conjunto com Phillipe Currie do Tyrrel Museum do Canadá, e em parceria com Alberto Garrido e Luis Chiappe, revelou ao mundo as riquezas paleontológicas da jazida de Auca Mahuida. Pouco a pouco todos os elementos da expedição saíam das suas tendas.
Esta manhã parte da equipa tinha que ir desatascar o veículo que na noite anterior nos havia transportado. Para tal foi preciso recorrer aos “serviços” do Mercedes Unimog. Como iria perceber nos dias seguintes, sem esta verdadeira “mula” dos tempos modernos, a maioria das deslocações até à base do Serro teriam sido talvez impossíveis.

Nota: como quem já esteve na Argentina sabe o que é o Mate, convém explicar para quem não esteve. O mate é uma planta a partir da qual se faz a infusão de nome idêntico. Bebe-se a partir de um recipiente – calabaza – feito de uma pequeno abóbora, e sorvido por um tubo de metal chamado bombilla. Para além de funcionar como refescante e estimulante, é parte de um ritual de partilha e socialização. Os argentinos tomam-no a toda a hora, andando, por todo o lado, com um termo de água quente. Agradecer, indica que já não desejamos beber mais.
(Continua)

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