Na Patagónia – VII (continua)

Começo a sentir-me isolado. Não pelo carácter desértico e estéril da paisagem patagónica – a vastidão da paisagem desenvolve em mim um distender da imaginação onde a solidão não teme espaço -, mas pelo hábito de estar sempre contactável pelo telemóvel, aqui sem a mínima cobertura.
No entanto, nestas enormes extensões de chão, um outro produto da tecnologia é absolutamente necessário – o GPS. As grandes distâncias e o carácter monótono da paisagem exigem que se utilize este instrumento tecnológico para se referenciarem e localizarem zonas fossíliferas.
Era isto que pensávamos Alberto, Xavier e eu quando nos dirigíamos onde, no dia anterior, Xavier havia descoberto vestígios de saurópodes. Não tendo tido tempo para proceder a uma avaliação cuidada e necessitando de uma opinião mais especializada, Xavier pediu-nos que regressássemos ao local.
Uma tarefa pouco fácil. Embora a área de prospecção se encontre numa das raras elevações, continua a ser muito difícil reconhecer e localizar o mesmo sítio de um dia para o outro. Referências visuais facilmente identificáveis aqui são escassas. Apesar do sentido de orientação apurado dos paleontólogos, o GPS é indispensável. Mas hoje o aparelho parecia não dar com o sítio. O resultado foi uma tarde a subir e a descer barrancos muito idênticos, variando somente as cores das rochas. Cansados e quase desistindo, Xavier fez mais um esforço para defender a sua “honra”. Eu fiquei a fumar um cigarro na base de mais um barranco desfrutando da paisagem. Do alto de mais de 60m, chamavam-me “Es aqui portugues!!“. Esqueço a referência patriótica e o possível novo engano e começo a subir. Fazia calor e o cansaço acumulado pesava. Quando cheguei não visualizei imediatamente o que Xavier me queria mostrar. Recuperei o fôlego e então sim, pude observar melhor. A princípio só se via uma pequena porção a aparecer mas depois de uma pequena limpeza pude verificar que, sim eram ossos fossilizados. “Que le parece a vos?”.
Xavier estás perdoado!.
“São de saurópode“, respondi. E prometem, pensei.
Essa tarde passámo-la escavando, quase junto ao topo do cerro, aquilo que já foram os ossos que permitiram a algum saurópode ter caminhado.

P.S. – segunda foto: Marina aponta para a base do cerro que temos que descer!

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