A César o que é de César…menos em Portugal!

Até que ponto devem ser atribuídos os créditos pelas correcções/informações de âmbito profissional que se fazem a uma exposição ou a uma notícia de jornal?
Esta questão por várias vezes tem cruzado a minha atitude profissional perante a divulgação científica.
Explico.
Após ter organizado e produzido uma revisão científica (pois eram mais do que muitos os erros…) da exposição “Monstros Marinhos”, do Oceanário de Lisboa, e de ter enviado a dita aos responsáveis da instituição, recebi, ao fim de mais de 4 meses, um agradecimento “A participação positiva dos nossos visitantes e «amigos» é de facto uma mais valia para o Oceanário de Lisboa e para a manutenção da sua qualidade.”
Igualmente fui informado de que as várias correcções que tinha feito não poderiam ser-me referenciadas, pois o contrato que tinham com a empresa responsável pela montagem da exposição não lhes permitia uma referência externa, i.e., à minha pessoa.
Aproveitavam para me dizer que me iriam enviar um convite para a exposição – a primeira visita paguei-a eu; desta vez ofereci o convite recebido…
Fizeram-no. Obrigado.
Meus caros, se quiserem mais correcções façam-nas vocês, que, apesar de ainda não me ter cansado de trabalhar à borla, o mínimo de creditação, espero-a!

Ontem decidi cair na mesma “patice”.
O Público on-line (aqui em versão cached num outro site, pois a versão errada já não está on-line) publicou, no dia 15 de Novembro, uma notícia referente a novos dados sobre um saurópode.
Como a versão feita pelo Público do artigo publicado pela agência noticiosa AFP apresentava alguns erros, decidi enviar um comentário. Entre os erros contava-se, por exemplo, o facto de o nome da espécie estar errado, para além de cientificamente mal grafado, o nome do paleontólogo que o descobriu estar incorrecto, e, finalmente, afirmar que o animal em questão era bípede, quando é quadrúpede.
Preciosismos, pensa a maioria das pessoas e, às vezes, quase o penso também eu.
Preenchi o formulário on-line de comentários e esperava vê-lo aparecer publicado. Passadas algumas horas, recebi mail de um jornalista que me agradecia as correcções. Bom, deixa cá ver se aparecem publicadas, pensei eu. Como não apareciam, decidi questionar quem me tinha contactado, por mail, sobre esse facto. A resposta, lacónica e seca, transcrevo-a em parte:

“o ponto 6 dos «Critérios para publicação de comentários dos leitores»:
6 – Por regra devem ser publicados os comentários que criticam a nossa abordagem noticiosa. São excepção os casos em que essa crítica se refere a um aspecto que pode e deve ser corrigido (ex.: um erro ortográfico ou em matéria de facto.) Não teria sentido manter o erro na notícia após a sua detecção e não teria sentido publicar o comentário uma vez a correcção realizada.”

Só faltou dizer: não leu os critérios de publicação? Problema seu!!
Esta atitude de Chico-esperto tem como único resultado que não volte a tentar que o Público seja rigoroso no tratamento que dá aos conteúdos científicos que aborda.

Não pretendo que o meu nome seja referenciado por si só.
Mas porque desejo ver tratados, de forma correcta, assuntos que profissionalmente me dizem respeito, nos órgãos de comunicação social ou em exposições.

A pergunto que deixo: vale a pena perder este tempo?

P.S. o que me deixou satisfeito foi que entre as duas versões da notícia a corrigida está mais detalhada.

Já agora fica aqui a história pela agência Reuters – perdi vontade de a dissecar.
E envolvia o meu orientador.
Imagens – Daqui e daqui

http://www.reuters.com/resources/flash/includevideo.swf?edition=US&videoId=70909

Discussão - 8 comentários

  1. Anonymous disse:

    "A pergunto que deixo: vale a pena perder este tempo?"Vale, claro que vale. Mesmo que às vezes os agradecimentos pela ajuda prestada deixem muito a desejar. É importante que a sociedade tenha mecanismos de minimizar a desinformação que nos rodeia. Infelizmente a desinformação existe em cada vez maior quantidade (seja por ignorância/incompetência/falta de cuidado/tempo, seja por interesses em deliberadamente desinformar), influenciando decisões, conduzindo a outros erros piores, etc. Hoje qualquer um de nós pode ser um media. A uma grande quantidade de medias potencialmente desinformadores tem de se contrapor uma grande quantidade de medias informadores. A qualidade da informação que envolve os cidadãos é vital para as sociedades, é um factor que influencia o seu sucesso. Possivelmente, a melhor forma de uma sociedade melhorar a qualidade da sua informação passa por os seus elementos darem o seu contributo individual, na sua esfera de competências e à medida do seu tempo, sempre que possível, sem esperar nada em troca.Cumprimentos, Nuno Ferreira

  2. Caro Nuno,Concordo com quase tudo com o que afirmou.Em relação ao casos que referi duas abordagens:-considero absolutamente lamentável que o serviço que prestei não tivesse sido referenciado. Estamos a falar de uma exposição feita por uma entidade privada, que contratou uma empresa para produzir um produto que tinha erros. Não fazendo, no mínimo, referência ao prestador de um serviço (gratuito) acho que eticamente esse comportamento é reprovável;-no que diz respeito ao Público, como referi no post, foi a atitude hiper-legalista que me aborreceu. E que me leva a que, das duas uma, ou escreva ao Director com o objectivo de a possível correcção do erro seja publicada na íntegra e com a devida referência ou, pura e simplesmente, não me volte a preocupar com a credibilidade das notícias científicas publicadas nesse jornal.Resumindo: vivemos num país em que é habitual atribuir crédito a quem efectuou determinada correcção/revisão.Não gosto e acho incorrecto.Luís Azevedo Rodrigues

  3. Abobrinha disse:

    LuísO caso do Oceanário ainda me parece mais caricata porque obviamente compraram gato por lebre e comeram o gato quando lhes foi dada a provar a lebre. E aquilo deve estar pejado de Biólogos (espero eu!), que possivelmente teriam obrigação de ter dado conta da gralha. Um convite não me parece suficiente e seria interessante que tivessem confrontado a empresa que contrataram e obrigado os indivíduos a fazer a coisa em condições. Em relação ao Público, sugiro que escrevas directamente para o provedor do jornal e para o director. Não me parecem assim niquices e deviam ter dado o crédito a quem se preocupa com o rigor nas notícias em Ciência. Não é qualquer um que se dá ao trabalho de interromper o que está a fazer por preocupação com o desempenho profissional de outros. Porque é disso que se trata, e o jornalismo tem maltratado a Ciência. Por acidente ou pura falta de cuidado. Keep up the good work... mas refila!Ficas a saber que o meu sobrinho vai ter de prenda um ovo de dinossauro... ou será de dragão? Ooooops...

  4. Abobrinha,Só tu para me animares!:)Tens razão que devemos "refilar" quando vemos que nos entram pelo quintal e ainda por cima com os "vegetais" estragados!Mas também é verdade que, por vezes, dou por mim a pensar "Mas para que é que estou a perder o meu tempo!?"Aparece mais vezesLuís Azevedo Rodrigues

  5. Anonymous disse:

    Caro Luís, apenas queria dizer que concordo inteiramente consigo e que a referência deve ser feita, obviamente! (Apenas acho que mesmo que ela não seja feita, não é tempo perdido informar correctamente as pessoas.)Cumprimentos,Nuno Ferreira

  6. Caro Nuno, É verdade que nuca é tempo perdido informar correctamente as pessoas.Mas também é verdade que cansa batalhar e outros ficarem com os créditos.Abraço e apareça mais vezes:)Luís Azevedo Rodrigues

  7. on disse:

    A BBC publicou um artigo antes do ultimo jogo Portugal-Inglaterra para o europeu. Faziam um historial das partidas Portugal-Inglaterra em campeonatos do Mundo e da Europa. Esqueceram-se convenientemente de alguns jogos e concluiam que estávamos empatados. Acontece que não era verdade. Acabei por receber um mail a admitir a incorrecção da notícia. A correcção só apareceu uns dias depois do jogo,quando já não interessava a ninguém. Como ganhamos o jogo...

  8. Jaime disse:

    Acho que as pessoas têm direito a crédito pela sua contribuição, mas também acho que podem contribuir mesmo sem esperarem crédito, simplesmente para melhorarem algo.Existe ainda o lado da dimensão da contribuição: se ela for ínfima, pode ser não ser relevante dar crédito. Imagine-se um livro onde se pode ler «O autor agradece ao Zé Silva por o ter avisado que falta um ponto final na quinta frase da página 161.» 🙂

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