Manada

Escorria.
Escorria mesmo e parecia água.
O som era inconfundível.
“Pode escorrer água do chão?”
Contra natura.
“Salto?”
O som que lhe entrava pelos ouvidos e lhe confundia a razão, fez agora sentido.
No meio da escuridão intermitente, estava a 20 metros do chão, prestes a saltar para o vazio.
As luzes pirilâmpicas não cessavam.
Não se podia abrigar do lado esquerdo.

Estava atrasado e não entendia como os da meteorologia se enganam cada vez menos – chovia e não parava de chover, tal como haviam repetido na rádio.
Ainda abrandou.
Sempre era uma cortina de granizo que não se abria perante o pára-brisas.
Rodou e rodou.
Tudo parecia mais luminoso nesse final de tarde em que caía granizo.
Rodou e rodou.
Se se encolhesse o bastante, menor seria a probabilidade de algo metálico lhe conhecer o corpo.
A dança mecânica tinha acabado.
O seu lado anti-social, aparentemente, também se revelava com metais.
E agora?
Sair.
Fugir da manada e saltar para lá da barreira.
Do lado esquerdo.
Escapar das involuntárias apresentações automóveis.
E conhecer o vazio.

Tinha migrado para o lado direito e a manada não parava.
Havia que os desviar.
Irracionalizados pelo caminho obrigatório, não findavam a passagem.
Havia que os parar.
Como?

P.S.- qualquer semelhança entre este texto e um despiste na A8 não é pura coincidência.

Imagem – indicações na mesma.

Discussão - 2 comentários

  1. tche/sou um brasileiro semi analfabeto mas esforçado/ belo texto/ uma pena que nao tenho a capacidade para aprecia-lo / degustalo como gostaria- na visao de um idiota como eu achei fantastico alem de adorar arqueologia/palentologia.

  2. Caro André Leite,Se não entendeu o texto a responsabilidade é toda minha, que não fui capaz de ser claro.Vou tentar ser mais claro da próxima vez.AbraçoLuís Azevedo Rodrigues

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