Tamborilar
Se bem que é perfeitamente dispensável o uso de computador para o acto de escrever um qualquer banal texto, também é certo que já me afeiçoei ao dedilhar no teclado da máquina.
Mais do que servir de mero prolongamento das palavras que no cérebro pululam, é a coreografia de dedos que muitas vezes me serve de iniciador de um texto, despudoradamente comparável aos movimentos de um pianista.
Uma mera mecânica catalisadora.
Mexo e remexo os dedos à procura de uma ordem para as palavras, para as ideias.
Que façam sentido. Que nesse tamborilar digital elas se organizem sob as teclas.
E elas lá vêm, quais notas.
Desafinadas, umas; no tom e ritmo certos, outras.
A caneta, por muito que a criatividade romântica seja maltratada, não me oferece o mesmo prazer. Preciso desse ataque múltiplo ao inexistente papel oferecido pelas teclas, que o escopro individual da caneta não oferece.
Não esculpo.
Tento tamborilar.
Referências:
Haueisen, J. and Knösche, T. R. 2001. Involuntary Motor Activity in Pianists Evoked by Music Perception. Journal of Cognitive Neuroscience 13:6, pp. 786-792.
Abstract
“Pianists often report that pure listening to a well-trained piece of music can involuntarily trigger the respective finger movements. We designed a magnetoencephalography (MEG) experiment to compare the motor activation in pianists and nonpianists while listening to piano pieces. For pianists, we found a statistically significant increase of activity above the region of the contralateral motor cortex. Brain surface current density (BSCD) reconstructions revealed a spatial dissociation of this activity between notes preferably played by the thumb and the little finger according to the motor homunculus. Hence, we could demonstrate that pianists, when listening to well-trained piano music, exhibit involuntary motor activity involving the contralateral primary motor cortex (M1).”
Imagem:
daqui
Discussão - 2 comentários
Que bacana...
Eu também prefiro "tamborilar" a "esculpir", pelos mesmos motivos!
Abraços,
Fernanda
Precioso... Te dejo un poema de Salinas:
Quietas, dormidas están,
las treinta, redondas, blancas.
Entre todas
sostienen el mundo.
Míralas, aquí en su sueño,
como nubes,
redondas, blancas, y dentro
destinos de trueno y rayo,
destinos de lluvia lenta,
de nieve, de viento, signos.
Despiértalas,
con contactos saltarines
de dedos rápidos, leves,
como a músicas antiguas.
Ellas suenan otra música:
fantasías de metal
valses duros, al dictado.
Que se alcen desde siglos
todas iguales, distintas
como las olas del mar
y una gran alma secreta.
Que se crean que es la carta,
la fórmula, como siempre.
Tú alócate
bien los dedos, y las
raptas y las lanzas,
a las treinta, eternas ninfas
contra el gran mundo vacío,
blanco en blanco.
Por fin a la hazaña pura,
sin palabras, sin sentido,
ese, zeda, jota, i...
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