A Debandada do Intelecto

Carracci,_Agostino_-_The_Flood_-_1616-1618.jpg
Tenho assistido, com perplexidade e por vezes com deleite assustado, a inúmeras manifestações de irracionalidade, originadas nas recentes catástrofes – Haiti, Madeira, Chile e o mau tempo de sábado.
Alguns dos que lia no Twitter associavam fenómenos como o aquecimento global com sismos; o relativo mau tempo com o recrudescimento de vulcanismo; e as derrocadas madeirenses a uma qualquer reacção vingativa da Natureza.
De quase tudo li no Twitter.
Esta confusão generalizada de conceitos e fenómenos, imbuídos de um neo-animismo vingativo, confirma que a irracionalidade grassa em situações de crise, ainda que não directamente vivenciadas, relatadas quase em directo pelos novos meios de comunicação.
O absurdo quase generalizado atesta ainda que, por muita informação de que se disponha, e esta jorra de todo o lado em maior quantidade e de forma quase instantânea, esta parece ter apenas como resultado o ampliar do efeito manada embrutecida.
A informação, que deveria filtrar os medos e temores mais irracionais, parece apenas gerar novas confusões e a debandada do intelecto.
Imagem:
Agostino Carracci – The Flood – 1616-1618.

Discussão - 7 comentários

  1. m. disse:

    Já foi muitas vezes dito, apenas repito: o excesso de informação não esclarece, embrutece_ e já nem refiro as implicações das... "tonalidades" em que os factos são apresentados.
    Mas também é de não esquecer que, no que toca às "traduções" das emoções, não é o intelecto a "ter a palavra"... e apenas à superfície delas chega.

  2. Verdade... continuo achando que falta um estudo mais aprofundado de estatística nas escolas - talvez confusões a respeito de aquecimento global (resultado de médias obtidas a partir de longos períodos) e eventos como abalos sísmicos (resultados de uma "flutuação" aleatória na média) não ficassem tão embaralhados para a população em geral.

  3. jorge disse:

    O intelecto já nos abandonou há muito. E tudo o que se discute é no cenário bruto e irrealista de quem nada sabe ouvir. Os temporais, as catástrofes, são a tendência primavera-verão 2010. E como dão jeito nas primeiras páginas dos dias que correm.
    abraço

  4. Luisa L. disse:

    Não podia estar mais de acordo!

  5. Eliana Tomás disse:

    eu também tenho lido muitas coisas sobre estas catástofes naturais e há pergunta que me vem sempre à cabeça à qual ainda não encontrei a solução. provavelmente é a pergunta mais descabida que vai ler, mas não resisto deixá-la aqui: porque será que estas catástofes acontecidas nos ultimos anos ocorrem quase sempre durante a noite, quando a maior parte dos habitantes estão a descansar desprovidos de qualquer cautela? há explicação lógica para tal? ou será que a minha pergunta não tem qualquer fundamento? obrigado.

  6. A Santos disse:

    Sabemos que a televisão sendo o meio mais previligiado para dar informação, não tem como propósito o esclarecimento do povo que lhe é fiel.Principalmente o canal RTP devia ter programas de cultura geral oferecidos em formato apelativo, apresentado por gente de verbo acessivel e correcto, em horário nobre aos fins de semana.
    É ainda a televisão que beneficia do contacto mais directo com as populações, pelo que mais fácilmente se apercebe da pouca instrução que grassa no país,mesmo a nivel dos que tem acesso ao ensino. Diria até professores e outros profissionais com os quais o cidadão têm de lidar nas diversas instancias.Ao invés, bombardeiam-nos com os mesmos temas durante semanas, até que surja outro assunto de igual impacto.Foi o Haiti, é agora a Madeira. Pior ainda exploram os casos mais confragedores de ignorancia ou de desespero.
    Nem temos sequer hipotese de mudar de canal porque estão todos sintonizados.
    Como podemos mudar?

  7. Amaro Cavalcante de Andrade disse:

    Analise DRAMATURGO - substantivo sobrecomum? Substantivo masculino, e tem feminino?
    Ouvi e vi o Jô Soares chamar uma moça de DRAMATURGA!!!!!!!!!
    Por favor analisem e me digam... Amaro

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