A Debandada do Intelecto
Tenho assistido, com perplexidade e por vezes com deleite assustado, a inúmeras manifestações de irracionalidade, originadas nas recentes catástrofes – Haiti, Madeira, Chile e o mau tempo de sábado.
Alguns dos que lia no Twitter associavam fenómenos como o aquecimento global com sismos; o relativo mau tempo com o recrudescimento de vulcanismo; e as derrocadas madeirenses a uma qualquer reacção vingativa da Natureza.
De quase tudo li no Twitter.
Esta confusão generalizada de conceitos e fenómenos, imbuídos de um neo-animismo vingativo, confirma que a irracionalidade grassa em situações de crise, ainda que não directamente vivenciadas, relatadas quase em directo pelos novos meios de comunicação.
O absurdo quase generalizado atesta ainda que, por muita informação de que se disponha, e esta jorra de todo o lado em maior quantidade e de forma quase instantânea, esta parece ter apenas como resultado o ampliar do efeito manada embrutecida.
A informação, que deveria filtrar os medos e temores mais irracionais, parece apenas gerar novas confusões e a debandada do intelecto.
Imagem:
Agostino Carracci – The Flood – 1616-1618.
Discussão - 7 comentários
Já foi muitas vezes dito, apenas repito: o excesso de informação não esclarece, embrutece_ e já nem refiro as implicações das... "tonalidades" em que os factos são apresentados.
Mas também é de não esquecer que, no que toca às "traduções" das emoções, não é o intelecto a "ter a palavra"... e apenas à superfície delas chega.
Verdade... continuo achando que falta um estudo mais aprofundado de estatística nas escolas - talvez confusões a respeito de aquecimento global (resultado de médias obtidas a partir de longos períodos) e eventos como abalos sísmicos (resultados de uma "flutuação" aleatória na média) não ficassem tão embaralhados para a população em geral.
O intelecto já nos abandonou há muito. E tudo o que se discute é no cenário bruto e irrealista de quem nada sabe ouvir. Os temporais, as catástrofes, são a tendência primavera-verão 2010. E como dão jeito nas primeiras páginas dos dias que correm.
abraço
Não podia estar mais de acordo!
eu também tenho lido muitas coisas sobre estas catástofes naturais e há pergunta que me vem sempre à cabeça à qual ainda não encontrei a solução. provavelmente é a pergunta mais descabida que vai ler, mas não resisto deixá-la aqui: porque será que estas catástofes acontecidas nos ultimos anos ocorrem quase sempre durante a noite, quando a maior parte dos habitantes estão a descansar desprovidos de qualquer cautela? há explicação lógica para tal? ou será que a minha pergunta não tem qualquer fundamento? obrigado.
Sabemos que a televisão sendo o meio mais previligiado para dar informação, não tem como propósito o esclarecimento do povo que lhe é fiel.Principalmente o canal RTP devia ter programas de cultura geral oferecidos em formato apelativo, apresentado por gente de verbo acessivel e correcto, em horário nobre aos fins de semana.
É ainda a televisão que beneficia do contacto mais directo com as populações, pelo que mais fácilmente se apercebe da pouca instrução que grassa no país,mesmo a nivel dos que tem acesso ao ensino. Diria até professores e outros profissionais com os quais o cidadão têm de lidar nas diversas instancias.Ao invés, bombardeiam-nos com os mesmos temas durante semanas, até que surja outro assunto de igual impacto.Foi o Haiti, é agora a Madeira. Pior ainda exploram os casos mais confragedores de ignorancia ou de desespero.
Nem temos sequer hipotese de mudar de canal porque estão todos sintonizados.
Como podemos mudar?
Analise DRAMATURGO - substantivo sobrecomum? Substantivo masculino, e tem feminino?
Ouvi e vi o Jô Soares chamar uma moça de DRAMATURGA!!!!!!!!!
Por favor analisem e me digam... Amaro