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…nos comentários.

Video – Luís Azevedo Rodrigues

Natal Geotérmico

O bafo era quente.
Mal fora, já que provinha de um mamífero. Ao lado outro, mamífero e bafo, completava o bestial serviço. O felizardo com o ar tépido pêlos não tinha, apenas um têxtil mal engendrado lhe cobria a pele nua. Não fora o mistral dos animais, a cria não aqueceria.
Burro e vaca estavam ao serviço do filhote, mantendo-lhe caldo o corpo. Quais alergias, qual quê, o que importava era o calor para que a cria sobrevivesse.
Bafejado pela sorte sê-lo-ia, pelo menos até aos 33, mas agora era-o pelo calor.
Calor de um corpo alheio.

ResearchBlogging.orgEste mísero intróito natalício, para além dos motivos sazonais óbvios, serve de introdução a breve descrição de uma descoberta científica.
Nas vastidões argentinas a presença de vários ninhos de dinossauros saurópodes já era conhecida. Paleontólogos argentinos apontam agora para que a fonte de calor necessária à incubação dos ovos daqueles animais tenha sido…a Terra.
Os investigadores apresentaram um conjunto de provas de que alguns dinossauros teriam utilizado a energia geotérmica como incubadora dos seus ovos.
A jazida de Sanagasta ofereceu vários ovos fossilizados de dinossauro, mais de 1000, com uma idade aproximada entre os 134 e os 117 milhões de anos. Para além desta actividade biológica passada, foi possível também identificar actividade hidrotermal da mesma época. As estruturas geológicas identificadas mostraram que naquela zona e na mesma altura teria existido actividade geotérmica.
Mas foram apenas estas informações que permitiram afirmar que um grupo de dinossauros utilizou o calor da Terra para incubar os seus ovos?
Não.

Análises geoquímicas revelaram também a influência de calor externo nos sedimentos onde foram encontrados os ovos fossilizados. Complementarmente, já se conheciam na Coreia do Sul ovos morfologicamente idênticos aos agora encontrados na Argentina. Os ovos coreanos procediam também de jazidas que geologicamente apresentavam a mesma influência hidrotermal. As coincidências reduzem-se…
Parece assim que a natalidade dos dinossauros saurópodes, mais concretamente dos Neosauropoda, está associada às condições ambientais, mais concretamente condições hidrotermais.

O Menino foi bafejado pelos mamíferos, já o sabíamos.
O que o passado do planeta nos revela agora é que os bebés dinossauros precisavam (também) do bafo da Terra para nela poderem caminhar.

P.S. Santo Natal, para todas as espécies!

(texto publicado também no jornal Sul Informação)

Referência:
Fiorelli, L., Grellet-Tinner, G., Alasino, P., & Argañaraz, E. (2011). The geology and palaeoecology of the newly discovered Cretaceous neosauropod hydrothermal nesting site in Sanagasta (Los Llanos Formation), La Rioja, northwest Argentina Cretaceous Research DOI: 10.1016/j.cretres.2011.12.002

Imagens:

1 – Aspecto da jazida de Sanagasta – do artigo referido.
2 – A-C Esquema do arranjo espacial dos ovos encontrados; D-F – imagens dos ovos fossilizados encontrados. Imagem do artigo referido.

Perspectiva do Cão

Tal como muito da vida, as coisas devem ser perspectivadas de vários ângulos, com o risco de nos enganarmos, fazermos algo maior ou mais pequeno do que realmente é.
A escala e a perspectiva andam de mãos dadas (?).

Imagem de Daniel Rodrigues – ” Vouga na pedreira”.

Enganar o Tempo…e Einstein.

Foi do que me lembrei quando vi esta montra.

Ciência Pop

(Este é o primeiro texto da colaboração com o jornal “Sul Informação”, novo diário da região sul. O texto foi publicado aqui)

 A palavra dinossauro é vastamente utilizada no discurso informal, e quase sempre com sentido pejorativo. Basta apenas um pouco de observação para identificar outros conceitos científicos presentes na cultura popular.

A Teoria da Relatividade Geral, bem como as recentes novas quanto à velocidade da luz ter sido ultrapassada pelos neutrinos, fascinam-nos a todos. As implicações de algo conseguir ultrapassar a velocidade da luz são enormes em termos de imaginário: a capacidade de fintar a barreira do tempo, viajarmos através dele como se fosse uma auto-estrada, torna-nos aparentemente livres.

Filmes como “Regresso ao Futuro” ou mesmo “A Guerra das Estrelas”, materializam essa alteração do real, libertando o ser humano das amarras do Tempo. O ultrapassar das leis da Física contribui assim para que as condicionantes sociais, económicas e até éticas, possam ser ultrapassadas tudo assente na capacidade de se viajar mais rápido que a luz. O ultrapassar dessa fronteira faz-nos não só donos do tempo, mas oferece-nos igualmente a possibilidade de recriarmos o nosso presente – aquilo que fizermos na viagem ao passado obviamente influirá no presente. Quantos de nós não desejámos alguma vez modificamos algo no nosso passado?

“Para baixo todos os Santos ajudam”, diz o povo. Este dito popular não revela o carácter altruísta dos objectos da Hagiologia, antes é uma conhecida redundância de que a Gravidade existe, existiu e existirá, originando que o esforço envolvido em subir seja completamente distinto do de descer. O Mito de Sísifo não existiria se a força gravítica não se exercesse sobre este filho de Éolo. Sísifo, condenado a empurrar uma pedra encosta acima, vê-la-ia regressar à base, sobre a acção da gravidade, vez após vez, numa condenação eterna.

A mitologia revela-nos que a astúcia de Sísifo, que enganou a Morte por duas vezes, não foi capaz de vencer a Física. Que me desculpem Albert Camus, bem como todos aqueles que cuidam a condição humana como sendo desprovidas de sentido: não é a labuta diária que empurra a pedra pela encosta baixo, antes é a Gravidade a ser mais forte que Sísifo.

Ser verdadeiro não implica qualquer indicação da matéria física de que somos feitos. Ainda assim, a cultura popular associa a Física e a Ética. “A verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima”, sempre ouvimos dizer. As distintas densidades (a massa a dividir pelo seu volume) da água e do azeite, que originam a sua imiscibilidade, são remetidas para uma moral de comportamento: azeite e verdade são duas realidades que acabarão por flutuar: o azeite, pela sua menor densidade relativamente à água; a verdade, sabe-se lá por que caminhos, espero que venha sempre à tona dos dias e dos acontecimentos.

Esta correcta sabedoria é mais acertada na sua componente física uma vez que na vertente moral a sua eficácia revela graves lacunas. Pelo menos no que vou observando nos dias que correm.

Outros exemplos existem da relação sabedoria popular vs. Ciência, mas a tarde está soalheira…

Referência:

Van Riper, A. B. 2002. Science in Popular Culture: A Reference Guide. Greenwood Press. ISBN 0-313-31822-0.

Imagens: daqui e daqui

A Formiga e a Europa

ResearchBlogging.org(Publicado no jornal Barlavento, 28 de Julho de 2011)
Os tempos mudaram.
O que se dizia de Esquerda e viu o país afundar, afastou-se.
Por cá e, verdade seja dita, um pouco por toda a Europa, os sinais da crise económica e de valores são cada vez mais ensurdecedores.
A Europa afunda-se?
Talvez. Porque é cada um por si e, pensamos nós erradamente, a Comissão Europeia por todos.
Falta-nos um verdadeiro esforço conjunto, uma causa que nos cimente, que nos una.
A solução para o dilúvio existencial e económico que se aproxima passa por aprendermos não com os gurus da Economia, os visionários da Tecnologia ou outros quaisquer bruxos, mas com… uma formiga, mais concretamente a Solenopsis invicta.

Apesar do seu nome comum ser formiga-de-fogo, há muito que um comportamento deste animal na água desperta a curiosidade dos biólogos. Originária da América do Sul, embora esteja distribuída um pouco por todo o mundo, esta formiga reage a inundações formando pequenas jangadas cujos constituintes são as próprias formigas.
Um estudo recente da Universidade de Geórgia Tech revelou que, de uma forma absurdamente simples, as formigas da espécie Solenopsis invicta em momentos de inundação conseguem sobreviver graças à sua união.
Se individualmente as formigas apresentam uma capacidade hidrofóbica razoável, sendo capazes de flutuar, essa capacidade é muito maior se se unirem.
Nos momentos em que as águas tudo invadem, e esses momentos são frequentes nas florestas tropicais, as formigas unem-se literalmente às suas companheiras, cravando as suas mandíbulas e exercendo forças 400 vezes superiores ao seu peso corporal, formando assim uma verdadeira jangada.
Esta jangada, revela o estudo, é uma massa viscosa e elástica formada por “moléculas” que são as próprias formigas. A estrutura flutua graças à sua capacidade para repelir as moléculas da água, muito maior quando as formigas-de-fogo se unem às suas irmãs.
Desta forma, a sobrevivência deste animal passa pelo colectivo e não pelo individual. Este comportamento foi quantificado e modelado pelos investigadores, que foram assim capazes de comprovar as vantagens evolutivas das jangadas de formigas-de-fogo.
O modo invejável como a Solenopsis invicta faz frente aos dilúvios poderá servir para a velha Europa e para Portugal.
Tudo o que recentemente se passou de momento não interessa.
O que agora interessa é não nos afundarmos mais ainda com a inundação não prevista, não tratada, enfim… não cuidada.
O que a Europa desconhece ou não quer ver é que a salvação individual passa pela salvação colectiva.
Que abdicar de alguma parte do grupo, ou de um país, não é a solução, antes o apressar do fim.
Somos apenas quando fazemos parte, quando o somos em grupo, apesar e com a nossa individualidade, seja da pessoa, seja do país.
Sozinhos aguentamos, até cairmos por fim.
Em grupo venceremos.

Referência Mlot, N., Tovey, C., & Hu, D. (2011). Fire ants self-assemble into waterproof rafts to survive floods Proceedings of the National Academy of Sciences, 108 (19), 7669-7673 DOI: 10.1073/pnas.1016658108
Imagem: adaptada do artigo. Esquerda – o carácter moderadamente hidrofóbico de um indivíduo de Solenopsis invicta. Direita – a jangada submersa pelos investigadores revelando bolsa de ar.
Vídeo – material suplementar do artigo.

Vida de cão

…ou melhor fotos de cães, pelo fotógrafo William Wegman.
O que me chamou a atenção para o seu trabalho foi ter visto esta foto:
Wegman.jpg
A metáfora evolutiva é possível mas fica a cargo de cada um…
Apenas mais uma imagem que me ficou no feitio canino:
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Aqui uma breve apresentação do seu trabalho com cães.
Há quem não ache piada nenhuma; eu limito-me a sorrir com os focinhos que me miram…

Um pouco mais de informação sobre este fotógrafo pode ser encontrada aqui.
P.S. – À memória do meu amigo durante 15 anos, o Vouga.
Imagens: William Wegman Untitled (1987) e Pile Up (1998)

Rock Colours, Algarve

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Imagens – Luís Azevedo Rodrigues

Miss Evolução

A pergunta colocada às candidatas a Miss América 2011 era:
“Deve a Evolução ser ensinada nas escolas?”
O resultado está abaixo e intitulei-o Miss Evolução.
Ou como compilar, apesar de as respostas serem pouco diversificadas, alguns chorrilhos sobre Evolução, Ciência e Religião.
Acrescento, e pergunto, quais seriam as opiniões se a pergunta fosse:
“Acha que a Gravidade deveria ser ensinada nas Escolas”?
Aceitam-se sugestões de outras perguntas/respostas…

P.S. – a única resposta minimamente não ofensiva, ainda que pouco argumentativa, veio curiosamente da única católica assumida…