O Défice Certo

27_mythol_.jpgA necessidade de anestesiar o meu centro de tomada de decisões fez-me, uma vez mais, ligar a TV.
Pendentes imagens de flácidos corpos jorravam da caixa.
A visão de transformação corporal que aquela exibição ordenava acordou o órgão hibernante.
A crise económica actual da Europa, ou de parte dela, mais não é do que um prolongamento do concurso televisivo às realidades geográficas e sociais que são os países europeus.
Há que emagrecer, dizem os neo-económicos.
Cortem na Saúde que vos torna países menos bonitos em termos orçamentais.
Subsídios de desemprego são maus para a vossa capacidade de encantar, há que os reduzir. Educação pública faz com que vos olhem de lado na rua.
Cortem, cortem, cortem…
O reality show do momento é este: o FMI não vos deixará viver com a dieta dos últimos seis anos
Imagem: Peter Paul Rubens, “The Drunken Silenus” (1616-1617)

A Económica e a Executiva

36460.jpgPormenores, dirão alguns.
Importantíssimo, dirão outros.
Ainda não sei que direi, tendo em conta a velocidade das transformações que se estão a dar na Europa.
O caso é o seguinte, apresentado por este vídeo de Miguel Portas, deputado no Parlamento Europeu – a partir de 1’45”, embora todo o vídeo seja muito interessante em termos de ética política.

Ou seja, por uma questão ética e de exemplo, opinião minha, os deputados europeus deveriam viajar em classe económica, deixando de lhes serem pagas viagens em classe executiva, com algumas excepções, como a idade e estado de saúde do deputado, bem como a duração.
A proposta foi recusada por uma maioria de deputados europeus, tendo havido um empate entre os deputados portugueses.
Este assunto interessou-me deveras, mais do que pelas quantias absolutas em causa, mas pela possibilidade de uma verdadeira mudança nos políticos que nos representam enquanto proto-continente institucional.
Desconheço a argumentação que terá levado estes deputados a perderem a oportunidade de exprimir a sua solidariedade perante os cidadãos que representam, materializando assim uma vontade de partilhar esforços nestes tempos de dificuldades económicas.
Há dois dias questionei no Twitter a deputada europeia Edite Estrela sobre os motivos da sua abstenção. Se a princípio me ignorou estoicamente, a verdade é que após alguma insistência, a senhora me respondeu.
Os argumentos foram pouco claros na justificação da sua abstenção mas posso transcrevê-los:
@editeestrela
“posso estar enganada, mas votei na convicção de estar a ajudar empresas nacionais:TAP e agência de viagens.”
“abstive-me porque tive dúvidas qual o melhor para o meu país. Quem ia beneficiar? Um burocrata qualquer ou a TAP?”

Parece-me que os argumentos seria o de favorecer a TAP e/ou agências de viagens já que as mesmas seriam feitas para aquelas empresas portuguesas…
E que tal alugar uma casa em Bruxelas a emigrantes portugueses? Parece-lhe bem?
@editeestrela
“as pessoas falam por falar e porque em tempos de crise a inveja cresce. É humano.”
Claro, quando se questiona algo nos tempos que correm a melhor resposta é argumentar que a pergunta é fruto da crise económica e da inveja. Claro.
@editeestrela
“votei a favor da redução orçamental, mas disso ninguém fala. As viagens são mais mediáticas, claro!”
Parafraseando a resposta de @helderlib , reduzir o orçamento sem reduzir a despesa parece-me uma má opção, mas que sei eu de economia. Talvez a proposta de redução orçamental não seja tão má mediaticamente como parece…
@editeestrela
“teria sido mais simples votar a favor ou nem votar, para não me comprometer. Votei em consciência, sem certezas.”
Desconhecia que as funções de deputado europeu possibilitassem não votar, julguei mesmo que fosse essa uma das principais funções para que haviam sido eleitos, ou seja, representar os seus eleitores. Mas que sei eu, se calhar não é para isso que serve um deputado…
Escrita de outra forma, perguntei aquilo mesmo a Edite Estrela que me respondeu:
@editeestrela
“pergunte isso aos deputados portugueses que não votaram.”
Obrigado por ter contribuído para o meu esclarecimento sobre o funcionamento do Parlamento Europeu…
@CienAoNatural
De toda a forma, agradecido pela disponibilidade em me responder. Não creio nos seus argumentos, acho-os fracos, mas agradeço-os
Apesar de reconhecer que a resposta que a seguir transcrevo possa ter sido dada sem que Edite Estrela tenha lido a minha despedida, esta argumentação final revela o que não deve haver num político: sobranceria.
@editeestrela
“olhe, meu caro, não sei quem você é mas desafio a provar que trabalha mais do que eu e que defende mais o interesse do país.”
As minhas questões não pretendiam revelar qual de nós dois tem trabalhado mais e melhor pelo país; apenas perceber os motivos pelos quais os deputados portugueses no Parlamento Europeu votaram contra, se abstiveram ou nem sequer votaram a proposta de que aqueles passem a voar em classe económica, e não em executiva como continuarão a fazer.
Concluindo, continuo a:
não perceber as motivações dos deputados neste caso;
não ter melhor ideia, nem informação, sobre o Parlamento Europeu, nem dos seus deputados;
pensar que os políticos portugueses não gostam que se lhes coloquem questões directas e objectivas;
pensar que os políticos adoptam várias estratégias de fuga às perguntas, como falar de outros assuntos, atribuir às perguntas um pendor de ataque ou motivação pessoais, invocando defesa do país e bondade da sua actuação pessoal quando estas não foram sequer questionadas;
Como ponto positivo destaco a disponibilidade de Edite Estrela em dialogar.
Mas não serve o Twitter também para isso, servir de plataforma de disseminação de mensagem política…?
Já agora parecer-me-ia interessante saber as opiniões dos outros deputados, nomeadamente os que votaram contra a proposta.
P.S. as mensagens do Twitter de Edite Estrela são públicas tendo-as eu publicado por isso, sem a necessidade de autorização da referida.
As mensagens estão neste texto por ordem cronológica na sua maioria.
Imagem: Anjur

Filogenia de café

Afastada do balcão, a mesa estava pejada de figuras de dinossauros. De lado opostos, dois primatas falantes e de idades distintas, dissertavam sobre aqueles bonecos.
Mas este também tem quatro patas.“, argumentava o mais baixo, condizente com a idade.
Todos têm quatro patas.“, ouvi eu dizer ao mais velho, meu contemporâneo. “Isso não quer dizer nada. Este tem cornos na cabeça e este do pescoço comprido não, vês?”, rematava glorioso enquanto agarrava no bicho de plástico.
Está bem, mas podem-lhe ainda não ter nascido…“, devolveu a criança.
São qualidade diferentes, não estás a ver. São diferentes, logo são qualidades diferentes de dinossauros.“, terminou o mais velho enquanto eu terminava o segundo café da manhã ao balcão.
Esta argumentação, pouco diferente é das que os paleontólogos têm em congressos ou em revistas da especialidade.
Os grupos de dinossauros, como outros seres vivos, são agrupados consoante as semelhanças e diferenças físicas, indo-se de detalhe em detalhe até o animal ser colocado numa árvore onde estão representados todos os possíveis parentes – dos mais próximos, aos mais longínquos.
Os meus colegas paleontólogos provavelmente arrancarão cabelos com a esta minha heresia, mas a filogenia tanto pode ser feita no laboratório, com a ajuda de potentes computadores, como à mesa de um café, utilizando bonecos.
Esta última análise, mais simples, pode utilizar os mesmos princípios da sofisticada investigação.
Mas não deixa de ser uma filogenia.
De café.
Imagem – ilustração dos princípios de Sistemática Filogenética, do paleontólogo Matthew Bonnan
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Sarrazin, o anti-sarraceno

courb110.jpgNa leitura semanal que faço do jornal El País de domingo, um artigo com o perfil e excertos em discurso directo de Thilo Sarrazin, despertou-me para uma realidade desconhecida.
Que Angela Merkel havia já declarado que o multiculturalismo na Alemanha estava morto e era preciso enterrá-lo, já o sabia. A Chanceler tinha-o proferido publicamente. Em Portugal, quase ninguém o comentou, embrenhados que estamos em pensar no pão que poderá ainda vir dos bávaros e companhia, esquecendo os lírios sociais que despontam por aquelas bandas.
O artigo a que acima fiz referência aponta uma possível origem para as declarações da senhora Merkel.
Thilo Sarrazin, ex-dirigente do Bundesbank e ex- Ministro das Finanças da cidade de Berlim, publicou no ano passado um livro que continua a gerar muita discussão e polémica – para além de mais de um milhão de exemplares vendidos, coisa pouca…
No campeão de vendas “Deutschland Schafft Sich Ab“, Sarrazin defende a tese de que a Alemanha está à beira da extinção. Esta implosão social está a ser fomentada pela emigração turca, em particular, e pela muçulmana, em geral, defende Sarrazin.
Afirma este senhor que devido à baixa taxa integração social e enorme taxa de natalidade, os emigrantes muçulmanos estão a ameaçar a coesão social alemã.
Contudo, a perigosa retórica de Thilo Sarrazin vai mais longe; a fraca inteligência, originada pelo mau património genético dos emigrantes muçulmanos, está a contaminar a população alemã, sendo responsável pela extinção a que a Alemanha está condenada, afirma Sarrazin, sendo estes emigrantes “o coração do problema”.
Os critérios avaliadores da integração social de um grupo de emigrantes são, para este ainda militante do SPD:
1) o êxito dos jovens dessa comunidade no mercado laboral;
2) os resultados escolares desses jovens:
3) a percentagem de pedidos de apoios estatais por parte dessa comunidade emigrante.
Não li a obra, e pelas amostra impressa no El País não o conto fazer, mas
posso julgar, contudo, que ideias de Sarrazin manifestas no jornal são perigosas.
A saber:
1) que se caracterizem e infiram comportamentos sociais de determinados grupos com base em supostos padrões e tipificações genéticos é uma aberração, quer política, quer social. Acrescento que, à semelhança do que pensa o ex-Chanceler alemão Helmut Schimdt, misturar “tradições civilizacionais com herança genética” é, no meu entendimento, profundamente errado, quer científica, quer eticamente.
2) que uma recente sondagem do jornal sensacionalista alemão Bild, tenha revelado que 18% do inquiridos votaria Sarrazin se este se apresentasse a eleições.
3) as ideias do senhor Sarrazin, acrescenta o artigo do El País, têm vindo a ser profusamente difundidas entre a extrema direita alemã, como seria de esperar, acrescento eu…

Talvez fosse altura de olharmos menos para o pão que poderá ou não vir da Alemanha e mais para algum joio que poderá aparecer misturado naquele hipotético cereal.
Porque nem só de pão vive o homem…

Referências: El País, 20 de Março de 2011, suplemento Domingo, p.8-9.
Imagem: Gustave Courbet, “Les cribleuses de blé”

Fortaleza Europa

Genoese_fortress_in_Sudak_by_inObrAS.jpgOs pastores que não guardavam os seus rebanhos, e os seus cães de guarda, seus dos pastores que às ovelhas mordiam apenas, estão a cair. As rezes revoltaram-se, jogando o jugo para trás.
Os pastos vazios de anos de opressão não chegam agora às rezes sem guia e, como noutros tempos, viram-se para o outro lado do Mediterrâneo, em busca de melhor sorte.
Empurrados para a tolerante Europa, dão de caras com a fortaleza.
A Fortaleza Europa.
“Tunísia, Marrocos, Egito, Bahrei e Iémen continuam num clima de instabilidade e de contestação com os contestatários, liderados pela juventude, exigem profundas reformas políticas e constitucionais e lutam pela instauração da democracia no seu país.”

Referências: Asian Dub Foundation, “Fortress Europe”, Enemy of the Enemy, 2003
Imagem: daqui

1 000 000 000 de dólares

Algumas ideias de como gastar mil milhões de dólares, especulações de diversos cientistas, entre os quais um paleontólogo…
A ver…e a pensar.
O que fazer com este dinheiro?

Não sei se foi a banda sonora oficial destes depoimentos mas poderia-o muito bem ter sido…

Fonte: Scientific American

Saudável Liberdade

396058018_a754cff31a_z.jpgJosé estava mais do que preparado para o embate que se avizinhava – a entrevista de emprego.
Nos últimos dois anos, para além de inúmeros contactos pessoais e envio de CV’s, tinha-se preparado afincadamente para o momento: cursos, especializações e até umas aulas de mandarim lhe haviam ocupado o tempo sem trabalho.
Sentou-se, carregado da sua competência, formação e atitude.
“O senhor fuma?”, perguntou o inquisidor laboral.
“Já uma pausa?”, pensou José. “Sim, fumo.”, respondeu em tom agradecido.
“Humm…Então parece que a entrevista vai ter que ficar por aqui. Sabe, a nossa empresa tem a política de não contratar fumadores. Escuso já de ver o resto do seu CV.”, debitou monocordicamente o ex-futuro-empregador.
Actualmente nos E.U.A. existe já um número considerável de empresas que negam trabalho a fumadores, chegando a realizar análises sanguíneas para se detectarem eventuais vestígios de nicotina.
Se não se podem negar os malefícios do tabaco, mas esta cruzada da saúde esconde outro tipo de controlos. Agora é o tabaco, amanhã o sal ou o açúcar, e num futuro mais próximo do que antevemos, iremos ter que provar geneticamente se desenvolveremos Alzheimer, quais as probabilidades de contrairmos cancro numa idade precoce, ou mesmo a disposição para votarmos num determinado partido.
No passado, a purificação da raça foi lema de algumas mentes doentes. Hoje, são as mentes da saúde que procuram a pureza dos genes.
Atentar contra a liberdade individual é mais fácil (e mais barato) do que educar os indivíduos para o livre arbítrio.
Relato agora um diálogo que há tempos tive com a minha cardiologista, tinha a Assembleia da República acabado de legislar sobre os teores de sal nos alimentos.
A Liberdade e a Cardiologista
Abandonei o silêncio penitente a que se remetem os pacientes.
Farto da parede muro-das-lamentações que me tapava a vista, falei.
“E o sal, doutora?”.
Não o meu; o da Assembleia da República.
“Legislaram bem. Apesar de não ser original, já que os teores de sal são já controlados em muitos alimentos…Olhe, até nos refrigerantes eles põem sal!”.
Reforçou o argumento espetando-me o peito com maior intensidade.
“Bem…”, ganhei balanço, entre empurrado pelo desconforto do ecocardiógrafo.
“Não se trata só de uma questão de Saúde Pública. É também uma questão de liberdade individual, de escolha pessoal. A seguir vem o quê? A cor dos meus boxers?”.
Agradeci encontrar-me num cardiologista e não num urologista, já que a estética cromática é uma lacuna grave da minha personalidade.
“Liberdade? O senhor sabe o custo para os contribuintes do consumo excessivo de sal? Sabe que o cancro do estômago está relacionado com teores de sal na urina, que por sua vez reflectem o consumo de sal? É caríssimo, não há dinheiro. É preferível cortar essa pequena liberdade!”.
Num instante, o meu miocárdio deve ter posto a língua de fora porque a médica me perguntou:
“Tem andado a sentir-se bem?”.
Maldita tecnologia, pensei. Não dá a mínima hipótese, qual detector de mentiras.
“Claro que tenho, doutora. O meu dealer salino está em promoções!”.
Imagem: daqui

Texto Publicado no jornal barlavento, 24/02/2011

Doutores

deolinda (Large).jpgAcordei e entretive o café com mais um bom texto do Rui Tavares(1).
As palavras sarnavam a minha geração, transferindo-as para uma letra dos Deolinda(2).
Depois dei com os vídeos abaixo(3), feitos por gente que estuda, e roubados ao blog do parceiro Átila Iamarino, meu parceiro blogueiro no Science Blogs Brasil.
Não sei que fazer com estes dois blocos de informação.
Triste, pela cada vez maior estufa profissional que gerações de gente qualificada são obrigadas a suportar?
Alegre, pelo manancial de jovens ultra-preparados?
Ou que quando for hora, terão ferramentas e não só boas vontades para mudar o mundo?
Não sei.
Digam-me vocês…

Referências:
1 – artigo de Rui Tavares no Público de 2 de Fevereiro de 2011.
2 – vídeo dos Deolinda, “Parva Que Sou” (na página a letra da música).
3 – blog Rainha Vermelha de Atila Imarino

Pirâmides nas trevas

Em 1988, eu e o meu pai tínhamos chegado ao Cairo pela noite.
A escuridão e o calor foram as primeiras sensações que tive do Cairo.
Era tarde e fomos transportados directamente do aeroporto para o hotel. Cansado, acabei por adormecer sem verdadeiramente perceber que estava noutro país, noutro continente.
Acordei bastante cedo, despertado pelo sol que entrava pelas cortinas do quarto. O meu pai ainda dormia. Levantei-me e, como sempre, procurei o sol matinal.
Abri as cortinas com as duas mãos para ver a cidade do alto, já que o nosso quarto estava num dos últimos andares hotel.
Não mais esqueço a sensação que tive de seguida. A interromper a paisagem amarelada, de casas que me pareciam de areia ou cartão, ao fundo plantava-se um objecto geométrico, enorme. A escala do objecto foi o que me deixou sem fôlego. Apesar de estar a vários quilómetros de distância, o objecto, porque apenas um me parecia, interrompia-me o horizonte de uma forma como nada até aí o havia feito.
“Pai, anda ver!”, chamei.
O meu pai, sem que eu tivesse percebido, estava desperto, atrás de mim.
“Sim, são as pirâmides”, disse-me ele.
E ficámos os dois, por uns instantes, a ver aqueles gigantescos objectos que interrompiam o horizonte, como se tivessem caído do céu.
Na véspera, a escuridão não havia deixado perceber a escala das coisas.
giza-pyramids-soaring-above-500.jpg
Esta banal história veio-me à memória, no meio de informações ininterruptas que me chegam do Egipto e do Cairo.
Algo grande aparece no horizonte, mas ainda não se entende o que é, através da escuridão que é a incerteza.
Que não venham as trevas, espero, quer sob a forma de Irmandades Muçulmanas, quer de quaisquer outros tipos.
Apenas isso.
Que as trevas não impeçam que se veja a escala das coisas.
Já agora: proporá também a Esfinge egípcia um enigma aos manifestantes?

Imagem: daqui

Ensitel ou o Preço da Justiça

tyrtyt.jpgO caso Ensitel (aqui e aqui, por exemplo) veio demonstrar algumas tendências, pelo menos do que acompanhei pela Twitter.
Gostaria de fazer algumas considerações prévias sobre este “caso”:
1 – Considero que o comportamento da Ensitel foi e é de profundo desprezo pelo seu cliente;
2 – O comportamento da Ensitel revelou um enorme desconhecimento do actual papel/influência das redes sociais como mecanismo de pressão/divulgação;
No dia 28 de Dezembro tentei manifestar as minhas opiniões sobre este assunto no Twitter.
Qual anti-cristo, fui apelidado de quase tudo.
O que penso:
1 – Este caso não teria sido ampliado como foi caso a cliente em causa não fosse gestora dos blogs da Sapo;
2 – Que o caso serviu de válvula de escape a desejos de actuação directa que a maioria dos utilizadores das redes sociais nomeadamente do Twitter e do Facebook têm.
Estes desejos de acção directa foram ampliados pelos recentes acontecimentos de boicote/sabotagem dos sites de algumas empresas por apoiantes de Julian Assange e da Wikileaks.
3 – Se os custos da justiça/legais em Portugal não fossem proibitivos para o cidadão comum, a cliente/gestora dos blogs da Sapo processava a Ensitel por tentativa de condicionamento da sua liberdade de expressão.
Assim, o cerne do problema é o cidadão comum não ter dinheiro para travar batalha legal contra um batalhão de advogados da Ensitel.
Desta forma, a sensação de David contra Golias, apesar de não consciencializada, é ampliada neste caso, sendo facilitada pela resposta perfeitamente básica da Ensitel.
4 – Apesar de ser uma causa justa e a resposta colectiva interessante, pela tentativa de condicionar liberdade de expressão, considero que foi um desperdício de energia reivindicativa já que o caso poderia ter sido simplesmente resolvido não fora o ponto 3.
Nos dias que correm, as redes sociais poderão ser o veículo do descontentamento político que as estruturas partidárias não permitem.
Parafraseando-me do Twitter:
“Caríssimos: apesar de justa, a causa de Ensitel permite que se sintam válidos. Boa. Mas fazei mé mé mais baixo…”
Imagem: daqui
P.S. (30/12/2010) – este texto, melhor argumentado que o meu, reflecte no geral as mesmas ideias que o meu. Do Apdeites