Jonatasianices

Desculpem, mas não resisti…só mesmo rindo dos comentários de sempre dos jonatasianos.

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No meio das claques…

(Na sequência de um post que publiquei e a que a Palmira F. Silva fez referência fui apelidado, por um blogger anónimo, de “…(e agora até liga outros) blogs anti-religião.”)

Caro anónimo(s) jonatasianos e criacionistas menos derivados,

Raramente vos comento em matérias que não envolvam a minha área de trabalho.
Não poderia, no entanto, deixaria de vos dizer o seguinte:
-com agrado, fundado apenas na ignorância de pessoas por quem nutro desacordo intelectual, verifiquei que os epítetos à minha pessoa entraram num campo original – apelidarem-me de anti-religioso.
-poderia tecer considerações sobre a minha religiosidade ou a inexistência dela mas seria, na minha opinião, revelar pormenores pessoais que somente a mim dizem respeito – não conhece quem quer, apenas quem a isso está disposto – e Vossas Excelências não merecem tal agrado.
-é com satisfação que vejo que não largaram as dicotomias argumentativas a que, habitualmente, se recorrem – ou pró-criacionismo ou anti-religioso.
Deverei, por analogia e no mesmo nível de raciocínio, perguntar-vos que se for pró-Beira-Mar serei um esconjurado anti-Académica? Pois então sim! Venham de lá essas capas da Briosa inundar os meus ovos-moles beira-maristas!!

E quanto ao Sumol? Prazenteiros consumidores de Sumol de ananás inibirão a consulta de blogs pró-Sumol de laranja?

Se ser anti-religioso é pactuar intelectualmente com as atoardas, ignorâncias voluntárias e maniqueísmos de Ciência vs Religião, pois que seja.

Prefiro partilhar o Inferno com os primos Pan troglodytes que o Céu com exemplares Homo sapiens como vós.
Ao menos sei o que move os meus primos – felicidade, seja a procriar, comer ou o que for.
A vós o que vos move? A felicidade dos outros?
Duvido.
O medo. A ignorância. A manipulação deliberada.
A mim move-me procurar a minha felicidade e a dos outros.
Se passar pela religião, que passe.
Se não passar, deixai-a.
O que vos digo é o mesmo que digo a quem critica a religião alheia: não voltareis a provocar que sinta tristeza por pertencer ao mesmo género e espécie que vós.
Ignoro-vos. Ou melhor, tento.

Luís Azevedo Rodrigues

O mar e as entranhas – histórias de bactérias

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 12/07/2007)
A escuridão é total. Mas há vida.
Não poderíamos viver nestes ambientes. Mas conhecemo-los.
Ou partes dele.
O fundo do mar.
O nosso sistema digestivo.
O grande desconhecido que é o profundo marinho tem equivalências no invisível interno humano.
O PNAS*, de 5 de Julho de 2007, publicou um estudo sobre a vida microscópica, onde se relacionam os dois ambientes, com personagens que estão mais relacionadas do que até aqui se imaginava.
Quer o sistema digestivo quer o fundo do mar são ambientes inóspitos – escuros e com baixas concentrações de oxigénio.
Ainda assim estão repletos de bactérias.

Sulfurovum litthotrophicum, descrita em 1984, e Nitratiruptor tergarcus são duas espécies de bactérias do grupo ε-Proteobacteria, que habitam o fundo do mar. Sobrevivem a temperaturas comos as que temos no frigorífico lá de casa, 4º C, até aos 70º C. Vivem ambas no substrato marinho de grandes profundidades obtendo energia através da fixação de azoto provenientes de fontes hidrotermais. São consideradas das mais resistentes formas de vida, pois conseguem sobreviver naqueles ambientes adversos, onde as temperaturas podem atingir mais de 100º C, a profundidades, como no caso da fonte hidrotermal “Menez Gwen” dos Açores, de 1700 m.
Apesar da enorme resistência daquelas bactérias em ambiente natural, só recentemente foram cultivadas em laboratório permitindo que fossem estudadas mais detalhadamente.

O outro grupo de bactérias que ninguém gostaria conhecer, pelo menos na prática ocupa, com maior ou menor frequência, o nosso sistema digestivo.

A Helicobacter pylori, descoberta em 1982, está presente em metade da população mundial, sendo a causadora da inflamação da mucosa do estômago bem como das úlceras gástricas e do duodeno. A descoberta desta relação concedeu, em 2005, o prémio Nobel da Medicina a Barry Marshall e J. Robin Warren.
O minúsculo ser vivo acompanha a espécie humana desde há muito num fenómeno coevolutivo, facilitado pela sua grande variabilidade genética.
Segundo investigadores do Instituto Max Planck em Berlim, a Helibobacter tem sido transmitido de pais para filhos desde a nossa ancestral saída de África.
Reconstruindo a árvore evolutiva desta bactéria, foi possível identificar dois grandes ramos – um que infecta os europeus e norte-americanos e outro que afecta sobretudo os asiáticos. Essas duas linhagens estão associadas às migrações humanas, permitindo reconstituir essas antigas movimentações.
Outro dos géneros de bactérias patogénicas analisado foi o Campylobacter jejuni, responsável por intoxicações alimentares nomeadamente a gastroenterite. Os ambientes favoritos para a sua disseminação são leite cru ou mal pasteurizado, aves mal cozinhadas e água não tratada (líquida ou em gelo).

A equipa de investigadores procedeu à análise do ADN presente nas bactérias que partilham o nosso ambiente digestivo – Helicobacter e Campylobacter – e o das bactérias das profundezas marinhas – Sulfurovum e Nitratiruptor.
Os dois grupos de bactérias apresentaram afinidades genéticas, que lhes possibilitam viverem em ambientes hostis. Entre as semelhanças estão a quase ausência de genes de reparação do ADN. Este facto permite não só a grande adaptação destes seres vivos a novas condições extremas, mas também ao próprio sistema de defesa de um organismo hospedeiro.
Segundo os investigadores, as bactérias humanas evoluíram a partir de ancestrais de grande profundidade, adquirindo o seu “mau-feitio” quando estabeleceram relações simbióticas com invertebrados marinhos.
Não era novidade que tínhamos todos uma origem marinha.

Foi de lá que viemos.
O profundo marinho e o sistema digestivo humano partilham coincidências evolutivas.
O sistema digestivo humano serve de mar a uma variedade de fauna microscópica; sabemos agora que parte dessa fauna tem parentes próximos nos fundos marinhos.

* Proceedings of the National Academy of Sciences


Referências consultadas

-Inagaki, F. et al. 2004. Sulfurovum lithotrophicum gen. nov., sp. nov., a novel sulfur-oxidizing chemolithoautotroph within the ε -Proteobacteria isolated from Okinawa Trough hydrothermal sediments. International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, 54, 1477-1482.
-Nakagawa, S. et al. 2007. Deep-sea vent ε-proteobacterial genomes provide insights into emergence of pathogens PNAS published July 5, 2007, 10.1073/pnas.0700687104.
-Nakagawa, S. et al. 2005. Nitratiruptor tergarcus gen. nov., sp. nov. and Nitratifractor salsuginis gen. nov., sp. nov., nitrate-reducing chemolithoautotrophs of the -Proteobacteria isolated from a deep-sea hydrothermal system in the Mid-Okinawa Trough. International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, 55, 925

Bioformas



Fotos – Ettan Ettan; Bilal Zaheer; Igor Siwanowicz; Yuri Bonder

Museus de História Natural – visões paralelas


Ilustrações – Humor antigo, o meu obrigado a Medina Ribeiro; e daqui

Livros que ando a ler

Para além da quantidade absurda (no freio que lhe devia dar e não pela qualidade) de papers e livros da especialidade que ando a ler, circulam os seguintes livros à minha volta.
Obrigado pelo desafio de listagem feito Porfírio Silva.

Ciência ou Vodu
Robert Park, Editorial Bizâncio, 2002

Comprado recentemente nas promoções, comecei-o a ler na esperança que fosse um dos manuais que recorrentemente uso para desmistificar crenças, mitos, criacionismos e outros atentados à honestidade intelectual. O até agora principal manual desse tipo era “Porque é que acreditam as pessoas em coisas estranhas” do director executivo da Skeptics Society, Michael Shermer.
Este livro, escrito por um investigador e Professor de Física da Universidade de Maryland que, durante vários anos, foi também responsável de comunicação da Sociedade Americana de Física. Provavelmente esta função contribuiu para este livro, onde se analisa o processo de produção científica, com os seus inerentes erros, vícios e virtudes, num contexto sempre personalizado quer ao nível dos conceitos em causa quer das pessoas envolvidas.
Aliando esta metodologia à exploração e desmontagem de conceitos científicos alternativos ou erróneos, presentes na sociedade americana, Robert Park consegue (nos capítulos que li) manter o discurso muito interessante.
Para além do citado livro de Shermer, este vai constituir uma ferramenta de consulta para debates com Jónatas e outros que tais…

Vertigem Americana
Bernard-Henri Lévy, Caderno, 2007

Num interesseiro pedido, recebi este livro. Leio-o de forma avulsa e esporádica. Para compreender e aferir dos vários períodos que vivi naquele país. E também para poder ser um melhor advogado-do-diabo em discussões com amigos que odeiam Bush. Para compreender, de forma resumida, a viagem inspiradora para este livro de Alexis de Tocqueville, que percorreu os EUA no séc. XIX. em busca do esplendor da democracia americana.
O filósofo percorreu milhares de quilómetros e instituições diversas, entre prisões, hospitais, bares de beira de estrada e outros antros e não só na busca do que é ser América.

Seven deadly colours
Andrew Parker, Free Press, 2005

Comprado num alfarrabista de Londres, está dividido em poucos capítulos – sete, um para cada cor. Em cada um deles são apresentados exemplos naturais em que a cor tem um papel fundamental na sobrevivência dos seres vivos.
A cor é, neste livro, o conceito unificador do percurso evolutivo e de uma variedade de comportamentos adoptados pelos organismos.
Este é o segundo volume de uma trilogia dedicada à evolução da visão e da cor. O volume anterior “In the blink of an eye: how vision kick-started the big bang of evolution” incidia mais especificamente na evolução da visão no mundo animal.

Audiobooks

Não serão propriamente audiobooks, no sentido em que não são livros propriamente ditos, mas antes crónicas de jornais, fundamentalmente as de Arnaldo Jabor. São deliciosas análises do humano, em especial do brasileiro, mas com generalização possível a todos os países. O Amor, a Vida e as Vacas, passam por lá e é tão bom passá-los no carro ou ouvi-los no MP3 enquanto se corre.
Igualmente desta fonte de palavra escuto a de Carlos Drummond de Andarde; curioso é que desde que comecei a ouvir audiobooks constatei que sou incapaz de ler poesia mas ouvi-la é mais do que um prazer.
Neste site podem encontrar-se, gratuitamente e em português, obras literárias digitais ou em áudio.

Viciado
Matt Richtel, editora Dom Quixote, 2007

Em alturas de maior trabalho preciso “desligar” o cérebro (aquilo que a maioria diz fazer com as leituras de Verão), nada melhor que um livro de suspense, num ambiente de intriga e gadgets. A acção passa-se em São Francisco mas transfere-se frequentemente para Silicon Valley.
Cumpre a função para que o comprei – ler em intervalos regulares e com efeitos terapêuticos.

Os que desafio em seguida são: João Moedas (Terra Que Gira); Miguel Marujo (Cibertúlia);
Escrita Rude e Tosca; QCrescente; Darren Naish (Tetrapod Zoology)

Mensagem

Apesar de ter odiado ter olhado pareceu-me que o devia divulgar.
Este tigre, fotografado duas vezes nos últimos meses, resistiu à cruel armadilha.
Resistiu não percebo como.
Mas resistiu.
Apesar do horror que causa, mesmo com a cadência ininterrupta de estímulos visuais da mesma natureza com seres humanos, que nos anestesiam, deixa uma mensagem de esperança.
Esperança que tal não volte a acontecer.
Para que não continuem a amputar a Natureza.

Fonte – Reuters
Foto – REUTERS/WWF/Handout

Não me comam o trabalho!

Camponeses comiam ossos de dinossauro
“Diversos camponeses do centro da China desenterraram mais de uma tonelada de ossos de dinossauro, que cozeram e moeram para usar na medicina tradicional, noticia hoje a imprensa chinesa.
Os camponeses acreditavam que os ossos pertenciam a dragões voadores e tinham poderes curativos, segundo o jornal oficial New Beijing Daily.
Até ao ano passado, os fósseis eram vendidos na província central de Henan como ossos de dragão por cerca de quatro renminbi (40 cêntimos de euro) por quilo, disse o cientista Dong Zhiming ao jornal Luoyang Daily.
Durante pelo menos duas décadas, conta Dong, o professor do Instituto de Paleontologia da Academia Chinesa de Ciências, «eles acreditaram que os ossos eram de dragões que voavam pelos céus».
Os ossos, ricos em cálcio, eram fervidos juntamente com outros ingredientes e dados às crianças como um tratamento para as vertigens e cãibras nas pernas.”

P.S. – Foto Dong Zhiming e a minha pessoa (Lufeng, 2006) – juro que não tínhamos comido nada neste momento…depois é que vieram, para a mesa, as larvas de vespa!!
Notícia- fonte

Longevidade

Ambos animais.
Ambos vivem.
E morrem.
Um mais rápido.
O outro mais lento.
Qual valerá mais ser vivida?

P.S.- Tartaruga – 250 anos
Gastrotricha – 3 dias

Pro studio et labore