Tendências educacionais no ensino superior

O Horizon Report é um relatório que deriva de entrevistas com educadores e especialistas de vanguarda. A edição de 2013 acabou de ser publicada e traz algumas coisas interessantes voltadas à educação superior. O relatório é dividido por horizonte de ocorrência. Então, como será a educação universitária nos anos por vir?

Daqui a um ano ou menos:

Em um ano a equipe consultada vê aplicação de dois recursos, os MOOCs e os Tablets. Os MOOCs (Massive Online Open Courses – Cursos Onlines Abertos Massivos) são cursos das mais diversas áreas disponíveis a pessoas no mundo todo por meio da internet. Você acessa, escolhe o curso, se inscreve, assiste as aulas, faz os exercícios e trabalhos e recebe seu diploma. Uma disciplina pode ser cursada por turmas gigantescas ao redor do mundo todo. Tem-se a vantagem de assistir aulas de pessoas tão gabaritadas que dificilmente te dariam uma aula presencial. Um dos portais mais conhecidos é o Coursera, um verdadeiro cardápio de delícias para nerds. Os cursos ainda são na maioria em inglês, mas já existem iniciativas de tradução para o português.

Um aluno compra o livro-texto de uma disciplina pela qual se interessou mais, todos os dias o leva para a aula. Depois assiste um vídeo na internet sobre um conceito que não ficou muito claro na aula. Baixa dois papers para o grupo de discussão de alunos da pós. Depois faz uma lista de exercícios e já recebe sua nota. É a descrição de uma rotina normal de universitário, mas isso tudo pode ser feito num tablet. Livros didáticos estão cada vez mais disponíveis (e ricos em recursos) na versão digital. Isso sem mencionar que no tablet o livro fica bem mais leve e fácil de transportar. Telas grandes e o acesso à internet ajudam muito a usar recursos visuais. Ferramentas online de leitura e discussão de artigos permitem integrar participantes pelo mundo todo em quase qualquer área de interesse imaginável. Trabalhos e exercícios podem ser feitos e enviados online em aplicativos especiais.

Principles of Biology, o livro-texto interativo da Nature Publishing Group para tablets. Fonte: nature.com

De 2 a 3 anos:

Se distrair da aula por causa de jogos eletrônicos combina mais com estudantes de ensino médio que com universitários. Mas e se os exercícios e as avaliações tiverem a cara de um jogo? Uma tendência que talvez demore um pouquinho mais para cair no gosto da universidade é a gamificação, transformar conteúdo em jogos eletrônicos. A princípio pode parecer meio bobo, infantil. Mas às vezes essa infantilidade pode ser a diferença entre cativar um estudante ou não, entre se fazer entender ou não. E não está longe  da realidade. Esses dias saiu no Ciência à Bessa o Biotest, um aplicativo desenvolvido pelo pessoal do Laboratório de Tecnologia Educacional da UNICAMP.

BioTest: Gamificação no ensino de Biologia. Fonte: itunes

Outra ideia interessante é a educação customizada baseada no aprendizado analítico. Educação customizada quer dizer que você estuda aquilo que te interessa mais, monta seu próprio currículo dentro de certos critérios. O aprendizado analítico se baseia em avaliações que, além de devolver uma nota para o aluno, indicam que áreas ele domina mais, onde tem mais dificuldades e em que especialidade ele será mais promissor como profissional.

De 4 a 5 anos:

Pense em todos os modelos visuais difíceis de fazer um estudante visualizar. O modelo atômico de Bohr, um crânio de Australopithecus ou o padrão de enovelamento do DNA numa histona podem ficar muito mais fáceis de entender com modelos tridimensionais coloridos impressos em impressoras 3D.

Aprendizado hands-on. Fonte: 3dmoleculardesigns.com

Mais surreal parecem ser as aplicações educacionais da tecnologia para vestir. Já há alguns Horizon Reports que mencionam a internet das coisas entre as tendências (tipo pedir um cafezinho para sua cafeteira elétrica por e-mail), esse ano ela veio na forma da tecnologia de vestir. O exemplo mais badalado são os óculos (ou seria um óculo) da Google. Na lente única uma tela apresenta dados como o nome da rua em que se está, os contatos do Gmail que estão por perto etc. Isso pode ser aplicado a uma aula de campo com informações sobre o bioma, sua geologia e hidrografia, por exemplo. Outro exemplo é um jaleco que muda de cor se a concentração de uma substância tóxica supera um limite predefinido, mas que pode ainda não ser perceptível aos nossos sentidos, e até dispara um alarme de evacuação do prédio.

Pode ser meio viajandão, mas quem sabe o que o futuro nos reserva? Vale o exercício de conhecer e até se planejar sobre como cada ferramenta dessas poderia ajudar na sua disciplina. Mas outro exercício engraçado é olhar previsões do futuro de épocas passadas e se divertir com quão feio eles erraram.

Discussão - 2 comentários

  1. Philips disse:

    Interessante, mas há algumas problemáticas a se pensar. Primeiro, se a Universidade caminha para uma educação à distância se acentua aquela dicotomia do seu papel de formação profissional vs formação humana. E segundo, como ficaria o frequente anunciado tripé da Universidade, ensino, pesquisa e EXTENSÃO.

    • Eduardo Bessa disse:

      Com certeza, Philips. E pensar sobre é o objetivo. Não sei se a universidade caminha para a educação a distância, essa seria apenas uma complementação e uma alternativa. Acredito que a alternativa do EAD possa até deixar mais tempo para a formação humana e talvez a profissional mais aplicada. O mesmo vale para o tripé, os MOOCs estão, inclusive, figurando entre as mais atuais ações de extensão.

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