Crises e prioridades
Um dos principais empecilhos à produtividade é a dificuldade de definir prioridades. Aí está uma coisa que frequentemente percebemos nos cursos e palestras nos quais abordamos gerenciamento do tempo. Um pesquisador encara uma lista de itens que precisa realizar naquela semana, percebe que a somatória do tempo estimado para sua realização excede em muito 40 horas de trabalho, mas não consegue avaliar quais itens da lista seriam dispensáveis. É difícil, e chega a soar pedante, procurar vantagens em momentos de crise. Mas aceitamos assumir o risco. Momentos de crise são ótimos professores sobre nossas reais prioridades. Imagine que você está numa daquelas semanas sufocantes. Tem relatórios a entregar, um parecer importante para emitir, filhos cobrando sua presença fora do trabalho, reuniões longas, experimentos sendo rodados dia e noite. Uma loucura! De repente vem a notícia de algum acontecimento grave. Digamos que sua mãe foi internada. Num passe de mágica as reuniões deixam de ser importantes, você delega os experimentos a um colega e escreve avisando que aquele parecer e os relatórios infelizmente não poderão ser entregues no prazo pedido e renegocia uma data.
Perceba o que aconteceu. Ninguém faz tempo, todos somos agraciados pela imutável lei universal da gravitação com dias de 24 horas. Como então você foi capaz de ir ao hospital visitar sua mãe e até passou algumas noites com ela enquanto se recuperava? No momento de crise você teve uma revelação sobre suas prioridades. É claro que isto não se aplica a qualquer ocasião. O grupo não irá aceitar sua constante ausência em reuniões, um parecer ou relatório atrasado pode não ter prazo sempre renegociável, um experimento delegado pode exigir um favor recíproco no futuro, mas não é disso que se trata. A questão é que o prazo sempre foi negociável, você que não se permitiu isto antes da crise. O experimento não precisava ser feito por você, delegar sempre foi uma opção. A reunião nem era assim tão vital. Você precisou mudar de perspectiva para perceber isso tudo. Na verdade, mesmo suas semanas mais assoberbadas não exigem que você cancele tantos compromissos, isto é privilégio das crises. Na sua rotina você só precisa se dar o direito de pequenos remanejamentos para ter o tempo necessário para o que realmente importa. Agora é a sua vez. Vasculhe sua memória tentando se lembrar de uma crise. Como você criou tempo para contorná-la? O que priorizou durante ela? De qual tarefa poderia se livrar hoje usando uma tática parecida?
Discussão - 1 comentário
Eduardo,
Ótimo texto. O que eu percebo é que muitos professores/pesquisadores não conseguem priorizar nem se organizar. Tentam fazer rudo ao mesmo tempo. Aí, ja viu... Acaba ficando tudo uma loucura.
Abraço,
Roberto