Por que recusar uma revisão por pares

Às vezes somos obrigados a recusar prestar esse serviço à ciência e temos que rejeitar um pedido de revisão de um editor. Bons referees são raros e um dos principais fatores complicadores para corpos editoriais de periódicos, portanto, seja generoso. Em todo caso, o que justificaria uma recusa de revisão?

Bons referees são raros e um dos principais limitantes para corpos editoriais (Imagem: grcorporate.com.br)

 

Os dois primeiros motivos são da ordem dos relacionamentos. Ao receber um pedido de revisão de um artigo que você saiba vir de uma pessoa muito próxima a você, um amigo, colaborador frequente ou um parente (lembre-se que muitos casamentos surgem às margens da bancada), seu parecer pode ser visto com desconfiança. Por mais que você se esforce para oferecer um parecer isento, quem souber que você corrigiu o manuscrito tem grande chance de enxergar a proverbial marmelada. Surpreendentemente, ao aceitar ser parecerista de um amigo você pode se esforçar tanto para ser rigoroso que corre o risco de exagerar nas críticas.

Antagonicamente, ter um histórico de desafeto com o avaliado é outro bom motivo para recusar um parecer. Por mais que racionalmente nos esforcemos, vai ser difícil ser isento. Novamente, mesmo que sejamos, pode parecer a quem está de fora que nosso parecer foi implicância em vez de uma avaliação honesta. Em ambos os casos mencionados acima vale a pena ser claro com o editor e explicar por que você não se sente confortável em emitir o parecer. Caso ele precise ou queira ouvir a sua opinião, pode te pedir para reconsiderar o convite. O local ideal para fazer essa alegação é nos comentários diretos ao editor ou nos conflitos de interesse.

O terceiro motivo para recusar um parecer é não estar apto a avaliar aquela área de estudo. Este é um problema frequente de paradigmas emergentes, para os quais ainda não existe uma massa crítica de pesquisadores capaz de revisar mutuamente os trabalhos. Acaba que dois resultados são possíveis, ou o referee será demasiadamente cético, e será difícil emplacar a novidade, ou o referee deixará passar por não entender os furos conceituais. É claro que você não vai querer opinar sobre um tema que não entende. Mesmo assim, pense que entender o problema, mesmo que ignore o modelo experimental (ou vice-e-versa) pode ser uma vantagem sua enquanto revisor. Novamente, esclareça para o editor suas limitações e deixe que ele decida. Também saiba que mesmo referees experientes precisam estudar para emitir seus pareceres, então mesmo que você não saiba tudo sobre o manuscrito, leia um pouco sobre o tema e emita seu melhor parecer. Ater-se aos pontos que a revista pede que sejam analisados é uma excelente saída.

O último, e talvez mais frequente, motivo para recusar uma revisão é não ter tempo para devolvê-la no prazo solicitado. As revistas costumam indicar quando esperam ter aquele parecer preenchido, então considere suas tarefas, consulte sua agenda e decida se pode ou não revisar o artigo. Avise o editor de sua recusa o mais rapidamente possível. Ele precisará encontrar um substituto e isso tomará tempo e atrasará a publicação do artigo. Suas primeiras revisões irão tomar alguns dias, mas com o tempo você ganha prática e fará isso em questão de horas, desde que comece a treinar cedo.

Vale a regra de ouro. Se você não gostaria que acontecesse o que citamos acima a um artigo seu, por que se daria o direito de submeter um colega a isso? Seja generoso e seus artigos também serão revisados em tempo hábil. É altruísmo recíproco. Qualquer que seja o motivo, não podendo emitir um parecer recomende ao editor um substituto disponível. Ele ficará muito grato.

Discussão - 1 comentário

  1. Roberto Berlinck disse:

    Muito bom, Eduardo.

    Veja um artigo que apresenta a correção de um artigo anterior. Se o anterior tivesse sido bem avaliado, os resultados errados não teriam sudo publicados.

    http://pubs.acs.org/doi/pdf/10.1021/np500260z

    Abraço,
    Roberto

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