A era das parcerias

Networking: o lado profissional do “fazer um social” (Imagem: Ghozt Tramp/ Flickr)

A edição mais recente da Nature trouxe um encarte analisando o poder das parcerias na construção de pesquisas científicas de qualidade. Sua rede de relacionamentos será uma grande aliada nas suas conquistas. Adam e Loach (2015) apontam num comentário desse encarte que pesquisas que ultrapassam instituições e fronteiras são mais impactantes, mais citadas e mais aceitas em periódicos de alto nível. O Brasil já aparece nesse panorama com diversas parcerias internacionais, liderando junto com o México e o Chile as colaborações dentro da América Latina. Parcerias internacionais são vitais para a construção de pesquisas significativas no Brasil. Mas como entrar nessa onda?

Cientistas são frequentemente pessoas tímidas por natureza, diz a piada que para identificar um cientista extrovertido, repare se ele está olhando para a ponta dos sapatos dos outros. Isso já inibe muito nosso networking e precisará ser superado se quisermos firmar parcerias internacionais. Se esse é o seu caso na hora de abordar um possível colaborador científico, pense que provavelmente ele será igualmente tímido, portanto irá entendê-lo. Da mesma forma, sendo assim alguém precisará tomar a iniciativa da abordagem. Se você é um interessado, tome essa iniciativa. Aí vão algumas sugestões para facilitar o processo.

  • ENVOLVA-SE – É claro que só será possível formar parcerias internacionais conhecendo pesquisadores estrangeiros. Estar numa grande instituição já ajuda porque os estrangeiros estão circulando nos corredores delas. Também é possível herdar parcerias do seu orientador, não desperdice essas oportunidades. Mas não há nada melhor do que ir direto à fonte. Congressos internacionais da sua área acadêmica são perfeitos para isso. Atenda aos congressos, apresente seu melhor trabalho com o inglês editado da melhor maneira possível e mostre que seu país faz parte do mapa de produção científica daquela área. Circule e se apresente a outras pessoas que estudem temas semelhantes. Troque contatos.
  • DECIDA – É impossível se relacionar com todo o mundo para quem você é apresentado. Você precisará decidir com quem manterá mais contato. Para tanto, veja dois fatores: Você pode ajudar a pessoa? A pessoa pode te ajudar? Se a resposta for afirmativa para ambos e essas ajudas forem mutuamente importantes, então vale a pena investir no relacionamento. A longo prazo reavalie seus contatos. Quem são aqueles que geraram mais frutos e que mais colaborou contigo? Use o princípio de Pareto para identificar quais são as 20% dos seus contatos que geram 80% dos resultados. Esses deverão ser mantidos mais de perto. Mantenha contato, peça conselhos, atualize-os de seus novos projetos. Não queime seus contatos, mas invista seu precioso tempo sabiamente.
  • COMECE PEQUENO – Reuniões muito grandes são intimidadoras para os introvertidos e trazem ruído demais aos laços feitos. Em vez de ir ao maior congresso mundial da sua área, com 1200 participantes, talvez valha a pena investir num pequeno simpósio mais específico e com menos pessoas, mas as pessoas certas. É o mesmo princípio da festa no Centro Acadêmico versus o almoço intimista. Os relacionamentos gerados no segundo são mais significativos e profundos. Mesmo que vá a um grande evento com centenas de participantes, estreite seu círculo. Veja a programação antecipadamente e descubra com quem você gostaria de falar. Defina um momento para isso e uma estratégia de abordagem, vale até ler a produção científica do seu alvo antecipadamente para ter assunto. Outra opção é descobrir um conhecido em comum com quem você já tenha alguma intimidade e pedir que ele faça as apresentações e puxe o início da conversa.
  • SEJA PRESTATIVO – Certamente você é capaz de resolver um problema que alguém numa sala está enfrentando. Se networking te parece tirar proveito de alguém, ofereça-se. Com o tempo você irá perceber que parece que é você que está explorando. Isso é sinal de que ambos estão cooperando. Se você se aproximou de alguém oferecendo algo, não esqueça de cumprir o que prometeu. Caso contrário seu esforço foi perdido e sua imagem manchada. Alternativamente, apresente pessoas que precisem se conhecer. Construa as pontes e será reconhecido por isso.
  • APRESENTE-SE – Tenha um roteiro de apresentação preparado em sua cabeça. Grosso modo ele deve conter seu nome, afiliação, titulação e que tipo de perguntas científicas te interessam. Ensaie esse protocolo, mas lembre-se também de ser espontâneo. Quanto mais você treinar, mais se tornará natural. Não se esqueça de perguntar (e prestar atenção) as mesmas informações do seu interlocutor. Muitas pessoas preconceituosamente acham que networking trata-se de usar pessoas para atingir seus objetivos. Isso não é verdade porque o networking é uma via de mão dupla. Ao mesmo tempo em que você recebe ajuda, oferece oportunidades. Networking é diferente de concessão de favor, portanto pare de pedir desculpas a seus colaboradores, eles também deverão estar lucrando.
  • CONVERSE – Muitas vezes parece que você não tem nada em comum com alguma pessoa que deseja conhecer para dar início a uma conversa. Isso obviamente está errado. Seu próprio interesse naquela pessoa sugere um assunto em comum que pode servir de substrato para quebrar o gelo inicial. Se estão todos num congresso de energia atômica é porque todos têm interesse nesse assunto. Entrar numa conversa dando sua opinião é complicado, ainda mais numa língua estrangeira, como frequentemente será o caso se você estiver firmando parcerias internacionais. Então experimente começar fazendo uma pergunta. Ouça ativamente o outro, faça perguntas para esclarecer o que foi dito, reorganize o que ouviu para garantir que entendeu, chame seu interlocutor pelo nome. Tudo isso dará ignição à conversa.

Com essas seis sugestões você já tem muito mais chance de firmar parcerias, talvez internacionais, e potencializar o impacto do seu trabalho. Vivemos uma nova era na qual a ciência não pode mais ficar restrita a um país ou um pesquisador. Cada vez mais trabalharemos em grupo e com parceiros distantes. Esteja preparado.

Discussão - 1 comentário

  1. Cientista S/A disse:

    […] problema raro, já que os artigos eram assinados por um ou dois pesquisadores, mas à medida que a era das parcerias avança, estudos aparecem com centenas e até milhares de autores. Hoje, conhecer diretrizes para […]

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