Arquivo da categoria: Paleontologia Geral

Mais Paleontologia na telinha

O Núcleo Audiovisual da UFPE-PROEXT (NAV-CVT UFPE) fez uma série de curtas de pouco mais de 1 minuto sobre Paleontologia, que serão exibidos diariamente na programação da TVU/Canal Brasil. Os Colecionadores de Ossos participaram desse projeto, junto ao PALEOLAB UFPE, coordenado pela Profa. Alcina Barreto, com o objetivo de divulgar a ciência paleontológica e as riquezas dessa ordem que temos em nosso país.

Ainda é uma pequena parcela da sociedade que tem conhecimento sobre a definição de Paleontologia, a existência de núcleos de estudo dessa ciência em nosso país, a sua importância e a extensão do patrimônio fossilífero brasileiro. É por essas e outras razões que a riqueza paleontológica de nosso país é pouco e explorada e quando explorada, feita de forma danosa.

Os Colecionadores de Ossos se aliaram à equipe da Profa. Alcina Barreto em prol da desenvolver uma consciência paleontológica para a sustentabilidade. Esse recurso além de ajudar a produzir conhecimento, pode fornecer uma alternativa sócio-econômica sustentável para a população. A ideia é que os fósseis sejam abrigados em museus locais que ajudem a atrair turismo para a região, além de apoiar as escolas e universidades e promover o desenvolvimento de uma identidade local da comunidade com os fósseis.
Assista os curtas:




Veja mais no canal do Youtube dos Colecionadores de Ossos: CLIQUE AQUI.

Bambiraptor? Pintosaurus!?– Os nomes mais estranhos da Paleontologia!

Com contribuição de Thiago Marinho

O bicho é meu e eu coloco o nome que eu quiser nele!!!

Pintossauro, Gasossauro, Dinheirossauro, Fodonyx, Bambiraptor…? A lista é longa! Um mais estranho que o outro! Mas porque eles foram batizados assim?

Veja aqui uma amostra dos nomes mais estranhos da Paleontologia!

Ai Ai Estou Morrendo Seu Idiota da Silva Sauro

Quem não lembra do episódio da Família Dinossauro em que Baby é levado para o grande sábio afim de receber um nome, mas algo inesperado acontece? Ele acaba recebendo um nome meio que, digamos… incomum: “Ai Ai Estou Morrendo Seu Idiota da Silva Sauro”.

(se você nunca assistiu, veja o episódio AQUI 🙂 ).

Isso nos leva a pensar: Afinal, como são escolhidos os nomes dos dinossauros??

Certamente não é como no episódio da família dinossauro (ver post anterior), mas ainda assim parecem surgir alguns resultados meio… incomuns.

Neste post vamos reunir alguns dos nomes mais inusitados já escolhidos por paleontólogos.

Não são só os dinossauros que sofrem, mas toda ‘sorte’ de criatura extinta…

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Os 10 mais!

And the Oscar goes to:

1) PINTOSAURUS: gênero basal de procolofonídeo. Procolofoquê? Procolofonídeo! Procolofonídeos são pararépteis que lembram muito um “tipo robusto de lagarto”, mas na verdade não tem nada a ver com eles (Veja AQUI e AQUI para saber mais). Pintosaurus  foi descrito em 2004, encontrado em rochas de idade Permo-triássicas do Uruguai. Pinto- foi escolhido para homenagear o Dr. Iraja Damiani Pinto, paleontólogo gaúcho que contribuiu substancialmente para paleontologia sulamericana. (…)

2) CHUPACABRACHELYS: Trata-se de uma tartaruga do período Cretáceo, que foi encontrada no Texas, USA. Não tem muito a dizer… o nome realmente foi em homenagem ao “chupa-cabra”

3) GASOSAURUS CONSTRUCTUS: Dinossauro terópode chinês de médio porte. O nome foi escolhido para homenagear uma empresa de combustível. O dinossauro foi encontrado durante sua construção, por isso o nome da espécie é ‘constructus‘.

4) DINHEIROSAURUS LOURINHANENSIS: Uma espécie de dinossauro saurópode gigante, aparentado ao Diplodocus. Ele foi encontrado na região da Praia de Porto Dinheiro, concelho de Lourinhã, em Portugal. O nome deriva do local aonde ele foi encontrado. Tinha que ser um dinossauro português..

5) BAMBIRAPTOR: Sim, esse é um dinossauro que foi nomeado em homenagem ao Bambi. Isso mesmo, aquele personagem da Disney (…!!). Trata-se de um pequeno dinossauro carnívoro, com menos de 1m de comprimento. O nome foi escolhido porque aparentemente o espécime encontrado era um juvenil.

6) FODONYXRincossauro do Triássico Médio da Inglaterra. O nome significa “garra escavadora”. Em latim “fodere“=escavar e “onyx“=garra. “Tchau! vou ‘fodere’ dinossauros!”

7) MINOTAURASAURUS: Tipo de dinossauro anquilossaurídeo proveniente da Ásia. Foi descrito em 2008. O nome significa “Homem-touro-lagarto”.

8) GOJIRASAURUS: Gênero dúbio de dinossauro terópode encontrado em rochas triássicas do Novo México, EUA. O nome foi em homenagem ao monstro mitológico japonês. Gojira…. Gojira….Gojira…

Incisivosaurus – não é só o nome que é feio…

9) INCISIVOSAURUS: Um pequeno dinossauro terópode da China, provavelmente de hábito herbívoro. Sua dentição peculiar, com dentes proeminentes como os e um roedor, foi o que lhe rendeu o nome estranho.

10) PIKAIA: Representante basal do grupo dos cordados. O nome dessa criaturinha Cambriana encontrada em Burgess Shale significa “da Pika”. Pika é um tipo de pequeno mamífero aparentado dos coelhos, comumente encontrado na região aonde os fósseis de Pikaia foram descobertos. (Eu ri!)

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No mínimo exóticos:

– Enigmosaurus: Grande dinossauro terópode herbívoro (Therezinosauróide) do Cretáceo da Mongólia. Quando os seus restos foram encontrados, a anatomia não usual da pélvis do bicho deixou os seus descobridores tão confusos, que lhes pareceu um verdadeiro enigma. Assim sendo, resolveram nomeá-lo dessa forma.

– Camelotia: Gênero de um dinossauro prossaurópode do Triássico Inglaterra. Seu nome significa “de Camelot”. Camelot trata-se do lugar lendário na Grã-Bretanha, que teria abrigado o castelo e a corte do Rei Arthur.

– Erectopus: Dinossauro terópode allossauróide do Cretáceo da França. Descoberto no final do Século XIX, o seu nome significa: “Erecto=em pé”, “Pous=Pé”. Hm…

– Minmi: Dinossauro australiano da infraordem Ankylosauria. O nome é devido à Minmi Crossing, o lugar onde seus fósseis foram descobertos.

– Hallucigenia: Gênero de invertebrado fóssil do Período Cambriano. O nome é devido a sua forma bizarra, que aos olhos dos descobridores mais parecia uma alucinação. Já viu né!!

– Drinker: Pequeno dinossauro hypsilofodontídeo do Jurássico da América do Norte. O nome, traduzido do inglês significa “bebedor”, mas essa não foi a intenção, ele foi proposto para homenagear o renomado paleontólogo Edward Drinker Cope.

– Gargoyleosaurus: Um dos mais antigos anquilossauros já descobertos. Gargoyleasaurus foi encontrado em Wyoming, em rochas de idade Jurássica. Seu nome significa “lagarto gárgula”.

– Xixiasaurus: Dinossauro terópode troodontídeo descrito em 2010. Seus restos foram encontrados na região administrativa de Xixia, na província de Henan, China.

– Pawpawsaurus: Gênero de dinossauro da família Nodosauridae, da infraordem Ankylosauria. Seus restos foram encontrados na Formação Paw Paw, Texas, USA. Eu não consigo falar sem rir!
– Pedopenna: Dinossauro manirraptor do Jurássico da China. Pedopenna significa “pena no pé”. Este dinossauro recebeu esse nome por apresentar evidências da existência de longas penas inseridas ao longo de seus metatarsos.
– Ozraptor: Dinossauro terópode encontrado na Austrália, descrito em 1998. “Oz” faz referência ao apelido dado aos australianos,“Ozzies”.
– Borogovia: O nome deste dinossauro carnívoro troodontídeo é derivado dos “borogoves”, criaturas de um poema de Lewis Carroll,  Jabberwocky, parte da obra “Alice no país das Maravilhas”.
– Appalachiosaurus: Gênero de dinossauro terópode tiranossauróide do Cretáceo da América do Norte. O nome faz referência a região estadunidense conhecida como Appalachia, onde o fóssil do animal foi encontrado.

– Petrobrassaurus puestohernandezi: Dinossauro saurópode argentino. Foi descrito em 2011. O nome do gênero realmente é devido a companhia de petróleo brasileira, Petrobrás, e o nome específico se refere a “Puesto Hernandez”, um dos centros de extração da companhia, aonde o dinossauro foi encontrado.  Ahhh, invejosos! Queridos!!

– Atlascopcosaurus: Este dinossauro australiano recebeu seu nome em homenagem a companhia Atlas Copco. Esta companhia forneceu o equipamento para a expedição paleontológica que resultou na descoberta do novo dinossauro. Capessaurus, Fapespsaurus, Cnpqsaurus, vamo lá, galera!!

– Qantassaurus: Este dinossauro hypsilofodontídeo foi nomeado para homenagear a empresa aérea australiana, Qantas, que ajudou no transporte dos fósseis. Conclusão: australiano não sabe dar nome pra dinossauro!!

– Panamericansaurus: Outro gênero de dinossauro saurópode da Patagônia argentina. Foi descrito em 2010. O nome foi para homenagear a companhia petrolífera Pan American Energy, que deu apoio financeiro às pesquisas.

ArgentinosaurusAh…Esse só pra sacanear mesmo. Bonito nome.

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Homenagens curiosas:

Utahraptor spielbergi – Esse dinossauro raptor foi descoberto na semana de estréia do filme Jurassic Park. O nome da espécie foi escolhido para homenagear Stephen Spielberg, diretor de “Jurassic Park”. Posteriormente re-descrito, o nome da espécie mudou para ostrommaysorum. Depois de ganhar milhões com Jurassic Park, acho que S. Spielberg não deve ter ficado chateado….

Arthurdactylus conan-doylensis – Este pterossauro recebeu seu nome em homenagem a Sir Arthur Conan-Doyle, autor de “O Mundo Perdido“, mais conhecido pela sua série de livros “Sherlock Holmes”.

Tianchisaurus nedegoapeferima (Informalmente chamado de Jurassosaurus) – Tendo doado dinheiro para pesquisa de dinossauros na China, Stephen Spielberg sugeriu para esse dinossauro o nome de Jurassosaurus – em razão do lançamento do filme Jurassic Park em 1993.  O nome esdrúxulo só pegou na informalidade. Porém ainda assim, o nome da espécie (nedegoapeferima) homenageia Jurassic Park: ele é formado pelas letras iniciais dos sobrenomes dos principais atores/atrizes que participaram do filme: Sam Neil, Laura Dern, Jeff Goldblum, Richard Attenborough, Bob Peck, MartinFerrero, Ariana Richards e Joseph Mazzello.

Dracorex hogwarsia – O coitado desse bicho foi batizado como um tributo a obra de J.K. Rowling, “Harry Potter“. – hogwarsia faz alusão a ‘Hogwarts’, a escola de magia.

Mimatuta morgoth – O Professor da Universidade de Chigado, Leigh Van Valen, nomeou uma série de mamíferos paleocênicos com base em personagens da série de livros “Senhor dos Anéis”. Morgoth foi em homenagem ao “The Dark Lord”, mas além dele ainda temos:

Alletodon mellon – mellon é a palavra élfica para “amigo” e a senha para a entrada nas minas de Moria.

Mithrandir onostus – Mithrandir sendo outro nome para Gandalf.

Oxyprimus galadrielae – Em homenagem a Lady Galabriel.

Protungulatum gorgun – ‘gorguns’ são os orcs.

Bom gosto esse cara.

Masiakasaurus knopfleri – Esse pequeno dinossauro predador recebeu seu nome em homenagem a Mark Knopfler, guitarrista da banda Dire Straits. De acordo com Scott Sampson, seu descobridor, o time resolveu batizar assim o dinossauro depois de escutar Dire Straits durante a escavação. De acordo com eles, novos dinossauros só eram encontrados quando esse som estava no rádio. Já tentamos essa tática, mas pra gente só funciona com “Hotel California” do Eagles… #sarcasmo

Aegrotocatellus jaggeri –  Essa espécie de trilobita foi nomeada realmente a fim de homenagear estrelas do rock! O nome da espécie (jaggeri)  foi um tributo a Mick Jagger, vocalista do Rolling Stones, enquanto que o nome do gênero “Aegrotocatellus” significa em latim “Sick Puppie” (ver a banda de rock alternativo australiana ‘Sick Puppies‘).

aegrotocatellus-jaggeri
Jagger e seu trilobita

Um dos caras que ajudou a descrever esse trilobita (Greg Edgecombe), não satisfeito, nomeou uma outra série desses artrópodes primitivos com nomes de integrantes de bandas!  Ele homenageou Sex Pistols (Arcticalymene viciousi, A. Rotteni, A. jonesi, A. cooki, A. matlocki), Ramones (Mackenziurus johnnyi, M. joeyi, M. deedeei, M. ceejayi), John Lennon, Ringo Star e Simon & Garfunkel (Avalanchurus lennoni, A. starri, A. simoni, A. Garfunkeli).

Norasaphus monroae Esse trilobita foi uma homenagem de Richard Fortey, paleontólogo inglês, a Marlin Monroe.

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Trava-línguas:

– Malawisuchus mwakayasyunguti  Malawisuchus m(coloque-letras-nesse-espaço)

Piatzinigkosaurus – WTF? Isso foi sacanagem dos argentinos.

Huehuecanauhtlus tiquichensis – uheuheueheuh!! 

– Nqwebasaurus – Primeiro dinossauro com o som de “CLICK” em seu nome. Pronuncia-se: N – (som de click com a língua) – KWE – BA – SAU – RUS. Nqweba é o nome do lugar aonde o dinossauro foi encontrado, na África do Sul. Trata-se de uma palavra na língua da tribo Bantu.

– Jinfengopteryx – China 1

Jingshanosaurus – China 2

– Szechuanosaurus – China 3

– Jinzhousaurus China 4. Os nomes chineses sempre são os mais impossíveis!

– Phuwiangosaurus – Tailândia.

– Bruhathkayosaurus – Índia. Correção: Os nomes asiáticos são sempre os mais impossíveis.

– Parapropalaehoplophorus – fale-3-vezes-rápido!

–> Agora-fale-tudo-junto!!!!

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“Éééé do brasiiilll!!!”

Como se já não bastasse o Baurusuchus e lanches salgadoensis (Veja o post anterior), ainda temos uma série de crocodilos tupiniquins com nomes estranhos:

Morrinhosuchus – Ganhou seu nome em homenagem a um morro  (!) que fica próximo ao local de coleta do fóssil, o “Morrinho de Santa Luzia”.

Barreirosuchus – Mais uma alusão ao local de coleta, o bairro de Barreiros, em Monte Alto, SP;

Caipirosuchus paulistans – que significa “o crocodilo caipira de São Paulo”.

– Pepesuchus – O nome foi uma homenagem ao Prof. José Martin Suárez (conhecido pelos colegas como Pepe).

Fora os dinossauros:

Oxalaia quilombensis – O gênero é uma referência a divindade africana ‘Oxalá’ e a espécie refere-se aos alojamentos quilombolas da Ilha do Cajual (local onde o fóssil foi encontrado).

– Irritator challengeri – Dinossauro brasileiro nomeado por pesquisadores estrangeiros (David Martill e colegas) que ficaram “extremamente irritados” devido a “restauração” feita pelo seu coletor amador. Buscando fazer o fóssil parecer mais completo e valioso, o coletor clandestino acabou obscurecendo a real natureza do animal e dificultando o trabalho dos pesquisadores. Isso que dá comprar fóssil ilegalmente Dr. Martill!!!  O nome da espécie foi uma homenagem ao Prof. Challenger, personagem do livro “O Mundo Perdido” de Arthus Conan Doyle.

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E para encerrar, Panamericansaurus pra vocês:

[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=NXZdvgzOvY4″]

* Agradecimentos aos colegas paleontólogos que contribuíram ajudando (pelo facebook!) a reunir os nomes mais bizarros de seus respectivos campos do conhecimento!

Como os cientistas conseguem reconstituir o passado?

Mesmo com evidências escassas e pistas fragmentadas, paleontólogos conseguem recriar histórias complexas de interação entre seres extintos e povoar mundos perdidos com criaturas de toda sorte e natureza. Como isso é possível?

Afloramentos cretácicos em Sousa, Paraíba, Brasil – Foto por Aline Ghilardi, todos os direitos reservados

Nas mãos de paleontólogos, ossos, mesmo poucos e fragmentados, se tornam poderosas ferramentas e parecem suficientes para esclarecer relações biológicas intrincadas e até mesmo recriar o retrato esquecido de criaturas há muito desaparecidas.

Ao passar os olhos por um afloramento fossilífero, um paleontólogo pode saber exatamente em que período de tempo geológico ele se encontra e – para o espanto de muitos – em que exato tipo de ambiente aquele registro se formou.

Como o passado pode ser tão claro para estes cientistas?

Em tempos modernos, os paleontólogos trouxeram não só o passado, mas muitas de suas criaturas de volta a vida e não foi por meio de uma máquina do tempo sensu strictu, mas através do bom e velho método científico alimentado por uma boa dose de questionamento intelectual.

Para falar a verdade, é como se essas simples ferramentas da ciência fossem verdadeiras máquinas do temposensu lato, desta vez -, permitindo-nos espiar mundos antigos e examinar criaturas cuja existência foi negada. Temos que concordar que são maquinas do tempo muito pouco usuais....

Para viajar ao passado utilizamos teorias, computadores, complexos equipamentos de laboratório e até mesmo experimentos. Porém, mais comumente são utilizadas somente as rochas. As rochas que procuramos são bem específicas. Elas são estratificadas e conhecidas como ‘rochas sedimentares’. Este é o tipo de rocha que contém fósseis e são elas e os fósseis que nos ajudam a explorar o tempo profundo.

As rochas sedimentares contém a melhor informação que temos para estudar o passado. Mas como podemos acessar essa informação?

Qualquer afloramento de rochas sedimentares contendo fósseis apresenta pistas sobre a sua idade e o local de origem do material, que pode ser bem diferente do local aonde as rochas hoje se encontram. – Temos que lembrar, que a superfície do planeta não é estática, mas incansável.

Serra da Capivara – Rochas sedimentares, estratos através dos tempos – Foto por Aline Ghilardi, todo os direitos reservados

Rochas contém pistas sobre a natureza do ambiente aonde elas foram formadas. Algumas das características úteis nesta investigação são o tamanho ou a organização de seus grãos e ainda a qualidade dos mesmos. 

Após serem torturadas, as rochas contam quase tudo! 

É possível descobrir se os materias de que são compostas litificaram (se tornaram rocha) no continente ou em mares rasos, em um clima quente ou frio, seco ou úmido, pobre em oxigênio ou não, entre outras tantas outras variáveis ambientais.

É um ótimo começo, porém nenhuma intervenção científica por si só extrai toda a informação. Muitas ferramentas e técnicas devem ser combinadas. Por isso, “ler” os fósseis também é importante. Eles oferecem informações complementares. O passado é uma rede complexa de interações e temos que estudá-lo em todas as suas dimensões.

Fóssil de peixe, Bacia do Araripe, Fm. Santana, Nova Olinda, Ceará, Brasil – Foto por Aline Ghilardi, todos os direitoss reservados

As rochas informam sobre o ambiente, assim como também os fósseis. O elenco biológico está intimamente ligado ao seu entorno, não é mesmo? Fósseis de peixes, por exemplo, só podem indicar um ambiente aquático.

Os fósseis também ajudam a dar uma resolução temporal, ou seja, eles calibram a máquina do tempo. Determinados organismos funcionam como fósseis guia e indicam períodos específicos do tempo geológico.

Os amonites (cefalópodes com concha, cujo primo ainda vivente é o Nautilus), por exemplo, são indicadores da Era Mesozóica (250 a 65 milhões de anos atrás), período bastante extenso de tempo. Já alguns microfósseis (fósseis de microorganismos), costumam ser indicadores muito mais acurados: Pelo fato de sua taxa evolutiva ser alta, diferentes espécies ou associações de espécies estão representadas em períodos mais restritos de tempo.

Avaliar o passado sob diferentes perspectivas – utilizando diferentes ferramentas -, pode gerar, no entanto, ambiguidades. Isso é comum quando se adicionam muitas variáveis a uma equação…

Veja bem, o passado não existe mais, é apenas uma memória, certo?

Duas pessoas que tenham presenciado o mesmo evento podem guardar lembraças diferentes do que ocorreu. A interpretação do registro fóssil pode ser exatamente assim. Diferentes testemunhas ou diferentes “máquinas do tempo” frequentemente fornecem diferentes perspectivas do acontecido.

Usualmente existem multiplas versões de uma mesma história. Decidir qual representa a verdade pode ser difícil. Mesmo assim, a ambiguidade acaba sendo um aspecto positivo. As pessoas discutem, os argumentos são resolvidos e normalmente o resultado é o progresso científico. A ambiguidade pode ser aceitável quando se investiga o tempo profundo. Afinal, o único material que temos para trabalhar é uma pequena amostragem do todo. Vamos concordar que isso  aumenta a diversão de se empenhar neste tipo de ciência: sempre haverá uma descoberta nova e maravilhosa que vai mudar o rumo do que se conhecia até então.

Nenhuma ‘máquina do tempo’ consegue recriar inteiramente o passado. Cada uma é como uma pincelada ou uma única cor de um quadro complexo. Por si só, carregam muito pouco significado, mas quando combinadas, montam um quadro compreensível daquilo que passou.

O paleobotânico, o paleozoólogo, o palemicrobiologista, o geoquímico, o tafonomista etc., combinam as suas artes para ajudar a espiar um singelo quadro do que teriam sido complexos e maravilhosos ecossistemas enterrados no passado distante. Cada um utiliza a sua ‘máquina do tempo’ – sejam equipamentos complexos ou o humilde e poderoso  ‘poder preditivo da rocha’ – e oferecem assim as suas interpretações mais precisas. O final pode ser sim uma obra de arte…

Painel de Raul Martin ilustrando o Eoceno de Messel, na Alemanha.

Como isso tudo é traduzido para o público? Aí precisamos de outros profissionais, os paleoartistas, mas isso é outra história. Se tiver interesse, continue lendo AQUI.

Os Sobreviventes

A história da vida na Terra tem em torno de 3.8 bilhões de anos, mas devo enfatizar que esta não foi uma jornada fácil. Mesmo espécies bem sucedidas por milhares ou centenas de milhares, até mesmo milhões de anos, estiveram altamente suscetíveis aos mais catastróficos e devastadores eventos de extinção do nosso planeta (5 no total). A lição de humildade: Todos somos criaturas efêmeras – querendo ou não -, frágeis e vulneráveis ao completo desaparecimento.

Espécies mamalianas não costumam durar mais que um milhão de anos antes de desaparecerem por completo ou serem substituídas por outras melhor adaptadas a um ambiente particular. Isso também vale para outros grupos de vertebrados e muitos invertebrados. Porém, vez por outra, a evolução tira a sorte grande. Um determinado tipo de organismo, sem sofrer extraordinárias modificações morfológicas, pode rasgar o tempo e sobreviver por eras, quase como se a espécie tivesse sido transportada por uma máquina do tempo. Estes são verdadeiros sobreviventes, e o seu tempo no Planeta Terra é contado por dezenas ou até centenas de milhões de anos. São organismos tão respeitáveis, que sobreviveram até mesmo aos golpes mais duros dos piores eventos de extinção em massa. Darwin os nomeou de “fósseis vivos” – oxímoro que também sobreviveu por quase um século e meio até cair em desuso no meio científico.
 
Fóssil de Carangueijo-ferradura e seu repressentante vivente
 
Pegue o exemplo extremo dos estromatólitos – associações microbianas que formam acumulações sedimentares caracteristicamente estratificadas (Veja fotografia). Eles são encontrados em poucos lugares inóspitos do planeta hoje em dia, como Shark Bay na Austrália. Suas estruturas laminadas são virtualmente indistinguíveis daquelas encontradas no registro fóssil por todo mundo, cuja idade pode ter até 3.45 bilhões de anos, quando a vida no planeta ainda era ‘recém-nascida’.
Estromatólitos atuais em Shark Bay, Austrália
Fósseis de Estromatólitos
Outro exemplo bastante impressionante é o do braquiópode Lingula. Braquiópodes são animais marinhos de corpo mole que foram muito abundantes durante o Paleozóico. Eles são compostos por duas valvas ornamentadas (conchas), a semelhança dos moluscos bivalves atuais, porém possuem simetria diferenciada. Lingula, em particular, tem o seu nome devido à semelhança ao formato à língua humana. Apesar de seu desenho ser tão simples e o animal não ter nada de extraordinário, Lingula foi muito bem sucedida e está presente no Planeta Terra há mais de 500 milhões de anos.
Lingula atual e Lingula ordoviciana
Lingula atual
Outros sobreviventes são mais carismáticos, apesar de menos extremos:
Podemos citar o Límulo ou carangueijo-ferradura, que sobreviveu quase inalterado por mais de 450 milhões de anos, ou os celacantos, um grupo de peixes de nadadeiras lobadas, aparentado dos peixes pulmonados, que está no planeta há aproximadamente 400 milhões. – Os próprios peixes-pulmonados permanecem sem grandes mudanças há mais de 220 milhões de anos.

Carangueijo-ferradura (Limulus) atual
Carengueijo-ferradura fóssil
Celacanto atual e fóssil
É fascinante a idéia de mergulhar no tempo profundo e encontrar criaturas que sobreviveram por tão longo período, enquanto galhos inteiros da árvore da vida foram ceifados. Porém é triste observar, que alguns sobreviventes extremos não consigam ultrapassar a barreira da presença humana no planeta. Nós, Homo sapiens sapiens declaramos a grande Sexta Extinção em Massa. – Mais uma vez, após 60 milhões de anos, a taxa de extinção de espécies ultrapassa a taxa evolutiva (“criação” de espécies). A taxa média de extinção extrapola e muito a chamada ‘taxa de extinção de fundo’ e centenas de espécies desaparecem antes mesmo de serem conhecidas pela Ciência.
O Náutilo, um raro cefalópode com concha, único sobrevivente de um ramo muito diverso de organismos que preencheram os mares mesozóicos, está hoje em perigo iminente. O ilustre sobrevivente da extinção cretácica (aquela que pôs fim não só aos dinossauros não-avianos, mas também a outra série de organismos extraordinários, como os grandes grupos de répteis marinhos e pterossauros) pode desaparecer pelas mãos humanas, graças à pesca excessiva, e principalmente a pressão da indústria turística, atraída pelas suas conchas peroladas.
Nautilus
Nautilóide fóssil
 
A vingança dos ‘verdadeiros sobreviventes’ virá, todavia, com muita ironia: O mundo será das baratas, os animais mais prováveis a sobreviverem ao Apocalipse Nuclear ou a qualquer outra catástrofe que possamos imaginar que venha a destruir o nosso reinado primata. Elas estão quase imutáveis, morfologicamente dizendo, há mais de 300 milhões de anos e fornecem um lembrete desgostoso da fragilidade de nossa própria espécie. Onde está a ‘superioridade evolutiva’? Existe ‘superioridade evolutiva’?
Apesar do exemplo desses fortuitos sobreviventes, é importante enfatizar que o fato de possuir uma característica adaptativa bem sucedida não é garantia de sobrevivência na certa. É preciso muita sorte também. A nossa suposta inteligência primata pode ser uma boa arma na competição evolutiva, mas também dependemos da causalidade. Incontáveis vezes na história biológica do Planeta Terra, inovações evolutivas extraordinárias foram silenciadas por eventos catastróficos inesperados. A história biológica, portanto, poderia ter sido completamente diferente e, sob esta perspectiva, somos um verdadeiro milagre.
Da mesma forma, é importante salientar, que a aparente imutabilidade morfológica não significa a ausência do processo evolutivo propriamente dito. A morfologia do animal apenas reflete parte das mudanças ao longo do tempo geológico. A evolução procede majoritariamente de forma invisível aos olhos humanos, dentro das cadeias de moléculas que regem o que é o ser. Apenas algumas alterações tornam-se visíveis, ou macroscópicas, quando expressas fenotipicamente. A maior parte das mutações permanece obscura, na forma de deleções, inserções e trocas mudas no DNA. A aparência do animal pode ser ‘primitiva’, mas ele não deve ser considerado dessa forma. A respeito de tempo, ele esteve constantemente evoluindo, e não parado no tempo. A diferença é o equilíbrio ou constância de seu plano morfológico: se ele funciona muito bem para os seus propósitos, não há porque alterá-lo. A evolução, dessa forma, procede de ‘maneiras misteriosas’, rastreadas com auxílio de estudos genéticos aplicados.
Não há um ápice evolutivo. A evolução não segue um caminho. De acordo com o tabuleiro do jogo, determinados jogadores serão mais bem sucedidos que outros – até que haja uma reviravolta. A evolução sempre tem um ‘porém’. Esses caras aí em cima, até agora têm sido supremos vencedores, lugar no pódium que muito dificilmente macacos com polegares opositores poderão conquistar enquanto tomarem atitudes coletivas tão pouco inteligentes como as quais temos demonstrado em massa nos últimos milênios. A vangloria de nossa própria civilização – o progresso – nos colocou numa ‘barca furada’. Nós já apertamos o gatilho e seremos nossos próprios algozes. Estamos correndo contra o tempo pela nossa própria sobrevivência. Uma grande ironia.

Estromatólitos recentes
Richard Fortey acabou de lançar um livro que discorre exatamente sobre essa temática, chamado ‘Survivors’. Está atualmente disponível somente em inglês e dificilmente será traduzido tão cedo para o português. Richard Fortey ficou famoso no Brasil pelo seu livro “Vida, uma biografia não autorizada”. Seu jeito leve e descontraído de escrever conquistou dezenas de milhares de leitores pelo mundo. Sua literatura é acessível tanto para profissionais das ciências geológicas e biológicas, como os não formalmente introduzidos na área. Vale a pena conferir, já está disponível pela Amazon.com.

>O Museu de Marília e o nosso querido amigo William na PreHistoric Times!

>

A edição #97 da revista PreHistoric Times veio com uma ótima surpresa! O colega Agustín publicou um artigo sobre o Museu de Paleontologia de Marília e a sua fascinante coleção de fósseis cretácicos.
A revista PreHistoric Times é uma publicação editada na Californa, EUA, que aborda temas de arte e modelagem dentro da paleontologia, além de variados tópicos de pesquisa na área.
William Nava tem trabalhado por anos pela divulgação e manutenção do Museu de Marília, sempre demonstrando muita paixão e dedicação. Tudo o que foi encontrado na região depende dos esforços desse nosso amigo, que, palentólogo de coração, já tem influenciado muitas gerações.
Tudo isso é fruto do seu esforço!

O artigo é um bom resumo da história paleontológica de Marília, e, apesar de em inglês, tem uma linguagem bastante acessível e enxuta. Vale a pena conferir! Tenha acesso ao pdf clicando AQUI.

Parabéns William! Parabéns Agustín!

Homepage da PreHistoric Times: http://www.prehistorictimes.com/
Visite o Blog “Dinossauros em Marília”: http://dinosemmarilia.blogspot.com/ O artigo de Augustín está disponível em português AQUI.