Um importante conceito relacionado ao uso de ferramentas anteriormente apresentado aqui à vocês é a solução de problemas nos animais. Segundo o dicionário de comportamento animal do Dr. McFarland, a solução de problemas pode ser compreendida como a habilidade de alcançar um objetivo que inicialmente parecia inatingível. No estudo da solução dos problemas nos animais, os problemas são geralmente estabelecidos por humanos, mas certos tipos de tais problemas devem ocorrer naturalmente em vida livre, principalmente “problemas de desvio” e problemas associados a colher alimentos de forma mais eficiente.
A habilidade de solucionar problemas é geralmente considerada como um sinal de comportamento inteligente nos animais. Afinal, solucionar um problema requer elevado processamento cognitivo. Entretanto, segundo o Dr. McFarland, não é possível elaborar um teste de inteligência de forma fidedigna para um animal. Pois, algumas espécies são boas em resolver alguns tipos de problemas, enquanto outras espécies são melhores em outros (o que está provavelmente associado ao hábito natural de vida da espécie). Além disso, a performance dos animais depende muito do aparato de teste em si. Por exemplo, os ratos tem desempenho muito melhor em resolver problemas envolvendo discriminação visual se eles precisam pular no símbolo de sua escolha ao invés de correr até ele. Dessa forma, não é possível encontrar o melhor aparato de teste para uma dada espécie, porque nem todas as possibilidades podem ser testadas. Além disso, também não é justo comparar animais testados em diferentes circunstâncias, nem é justo testar animais de diferentes espécies no mesmo aparato.
Ainda segundo o dicionário de comportamento animal, um importante problema a ser testado em animais, do ponto de vista teórico, é o problema da inferência transitiva, porque ela é considerada como a base da racionalidade. Para entendermos melhor o que é “inferência transitiva”, vamos ver um exemplo. Se A é maior que B e B é maior que C, por inferência transitiva, concluímos que A é maior que C. Assim, será que os animais também são capazes de realizar essa inferência? Para determinar isso, esse tipo de problema pode ser apresentado de várias formas diferentes, sendo que já foi observado que jovens crianças, primatas, pombos e até mesmo peixes são capazes de solucionar problemas de inferência transitiva, indicando alguma habilidade inata de ordenar as coisas racionalmente. Entretanto, a forma como o problema é apresentado pode fazer uma grande diferença para o resultado, o que novamente torna a solução de problemas uma área difícil de investigar.
Apesar das dificuldades mencionadas acima envolvendo o estudo da solução de problemas, está mais do que evidente que vários animais são capazes de solucionar problemas aparentemente insolúveis. E isso, deve sim representar alto grau de capacidade cognitiva, novamente demonstrando que nunca devemos subestimar a capacidade dos animais não humanos.