Agrotóxico: você tem medo de quê?

Publicado por Descascando a ciência em

A palavra agrotóxico se tornou, num conceito popular, algo ruim para a saúde e o meio ambiente. A meu ver, as pessoas também acreditam que são produtos feitos de forma descontrolada e que não há muita pesquisa e ciência no seu desenvolvimento.

Os agrotóxicos são uma preocupação recorrente na agricultura moderna. Há muitos anos, as pessoas têm medo de consumir alimentos que foram tratados com esses produtos químicos, acreditando que eles podem causar danos à saúde. No entanto, essa preocupação é frequentemente exagerada e muitas vezes baseada em desinformação.

A desinformação é perigosa e de alto risco

Para entender por que os agrotóxicos não são tão perigosos quanto se pensa, é importante entender a diferença entre “risco” e “perigo”. O perigo é uma propriedade inerente de uma substância, enquanto o risco é a probabilidade de que uma pessoa seja exposta a esse perigo e sofra danos como resultado. Em outras palavras, uma substância pode ser perigosa em sua forma pura, mas pode ser usada com segurança se a exposição for limitada.

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Os agrotóxicos são um bom exemplo disso. Embora alguns produtos químicos usados na agricultura possam ser perigosos em sua forma pura, eles são aplicados com cautela e em quantidades limitadas, o que reduz o risco de exposição para a maioria das pessoas. Além disso, os regulamentos governamentais rigorosos garantem que os alimentos tratados com agrotóxicos sejam seguros para consumo humano.

Desenvolvendo um agrotóxico

Não pense você que o desenvolvimento de um novo produto é simples e fácil. Para o desenvolvimento de um agrotóxico, seja ele qual for, é preciso muita ciência, pesquisa e tempo, sendo que desde a escolha da substância ativa até o produto chegar no campo pode levar cerca de 15 anos. E desde o início do processo é preciso seguir normas internacionais de boas práticas de desenvolvimento.

Tudo começa com o teste de novas substâncias em laboratório, onde os pesquisadores avaliam desde a eficácia agronômica da molécula e suas formulações, até detalhadas investigações de segurança à saúde humana e ao meio ambiente. As empresas estudam milhares de substâncias (ingrediente ativo) até encontrarem algumas que atendam – entre 10 e 20% – aos requisitos necessários. Somente essa primeira fase leva cerca de dois anos para ser realizada.

Depois disso que os produtos são testados no campo, em grandes experimentos e para diferentes alvos – ou seja, para insetos, microrganismos, plantas daninhas etc. a depender da finalidade do produto. E nessa fase também são realizados testes toxicológicos e de química ambiental para atender aos requisitos dos órgãos reguladores no Brasil, nos EUA, na UE e em outros lugares.

Encontrado o candidato que atenda todas essas normas, agora começa o processo de registro do produto no país/território onde ele será utilizado. Isso porque cada local tem suas regras e necessidades no controle de pragas e o novo agrotóxico precisa seguir especificamente o que é pedido e comprovar que o produto é realmente efetivo ao alvo sem causar efeitos indesejados ao meio ambiente e à saúde das pessoas e animais.

Aqui no Brasil essa última fase dura em média oito anos para ser concluída. Isso porque são três órgãos governamentais que avaliam o agrotóxico. O IBAMA, que é responsável pela avaliação e liberação ambiental, o MAPA (Ministério da Agricultura) que comprova a eficiência agronômica do produto e a ANVISA que vai certificar que aquele produto segue os requisitos para a proteção da saúde humana.

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Passado todo esse processo de produção, avaliação e registro, ainda assim, quando os produtos chegam ao campo junto deles vai uma bula – igual de remédio – que contém todas as informações necessárias para o uso do produto e as boas práticas para garantir a segurança de quem aplica, ao meio ambiente e depois para nós, que vamos consumir aquele alimento.

O uso e a recomendação da dose de um defensivo agrícola não é receita de bolo. A recomendação deve ser feita por técnico qualificado, e cada tipo de planta (cada cultura) possui uma dose diferente para a sua utilização. Isso também muda dependendo das formas de aplicação e das condições climáticas, por exemplo. Por isso é importante eu um profissional qualificado faça o receituário agronômico.

Legislação, fiscalização e normas auxiliam a segurança

Um dos principais argumentos contra os agrotóxicos é que eles podem causar danos à saúde humana. No entanto, a evidência não suporta essa afirmação. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) realiza regularmente o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos (PARA), que monitora os níveis de resíduos de agrotóxicos em alimentos comercializados em todo o Brasil. Desde a sua criação em 2001, o programa mostrou que a grande maioria dos alimentos analisados ​​está dentro dos limites máximos de resíduos (LMR) permitidos pela legislação brasileira.

Os LMR são estabelecidos para garantir que os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos sejam seguros para consumo humano. Eles são baseados em avaliações de risco e são atualizados regularmente para garantir que estejam em linha com os padrões internacionais. Além disso, os agrotóxicos são avaliados em relação aos seus efeitos na saúde humana antes de serem aprovados para uso na agricultura.

Outro argumento comum é que os agrotóxicos podem causar danos ao meio ambiente. Embora isso possa ser verdadeiro em casos de uso excessivo ou inapropriado, a maioria dos agricultores usa agrotóxicos com cuidado e seguindo as orientações recomendadas. Além disso, muitos dos agrotóxicos modernos são projetados para serem menos prejudiciais ao meio ambiente e têm um perfil de toxicidade mais baixo do que seus antecessores.

É importante lembrar também que a agricultura moderna depende dos agrotóxicos para garantir que os alimentos sejam produzidos de maneira eficiente e acessível. Sem agrotóxicos, os agricultores enfrentariam uma perda significativa de colheitas e os preços dos alimentos aumentariam significativamente. Isso pode tornar os alimentos menos acessíveis para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica, aumentando assim os riscos de desnutrição e fome.

Portanto, é importante ter em mente que os agrotóxicos não são uma ameaça direta à saúde humana quando usados ​​corretamente e dentro dos limites estabelecidos pelos regulamentos governamentais. Esses produtos químicos são necessários para garantir a produção de alimentos suficientes para alimentar a população mundial crescente e garantir que os alimentos sejam acessíveis a todos.

Os LMR garantem que os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos sejam seguros para o consumo humano. O PARA da ANVISA é uma fonte confiável de informações sobre os níveis de resíduos de agrotóxicos em alimentos comercializados em todo o Brasil.

Sobre o autor:

Dr. Francisco Humberto Henrique: Engenheiro Agrônomo, mestre e doutor em Agricultura Tropical e Subtropical. Atualmente trabalha com comunicação e marketing no agronegócio e é divulgador científico no Descascando a Ciência.


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