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Descobri hoje via twitter que o famoso blogueiro de ciência americano PZ Myers vai passar a ter uma coluna no jornal britânico de renome internacional “The Guardian“. Na verdade ele não escreverá sozinho esta coluna. Além do biólogo-blogueiro, também foram recrutados um físico, um psicólogo, dentro outros. Cada um deles será responsável por uma coluna mensal, em um blog dentro do sítio do The Guardian.

Bem, com nomes de peso achei que valeria a pena a visita do novo blog. O conteúdo é bem interessante e vale a visita. Mas o que me motivou a escrever este post não foi a qualidade do blog. O motivo real foi um susto que eu levei quando entrei lá pela primeira vez (e que se mantem até agora no ar).

Reparem nos banners de propaganda na barra lateral e no topo do blog. Se você desconfia que tem algo de errado em uma revista que estampa na capa “Criação ou Evolução”, você acertou em cheio. Não é só uma revista com um conteúdo criacionista tradicional (pseudociência de quinta categoria). É uma revista de ótima qualidade gráfica que é entregue de graça na sua casa com conteúdo criacionista tradicional. Então vamos refletir. Uma propaganda em um blog sobre ciência, no sítio de um dos jornais de mais prestígio do mundo. Você confiaria na fonte? Tenho certeza que 99,9% das pessoas confiariam. Ainda mais que você pode ganhar um livro de graça! Pessoas acreditam em qualquer bobagem na internet, imagina em algo dentro de um portal de pestígio. Pelo resumo do livro você já pode ter uma ideia do conteúdo. Tirei uma pérola dando uma olhada rápida no pdf do livro. Ele começa devagar, mas já mostra para o que veio.

“Evolucionistas exercitam a percepção seletiva quando olham para a evidência – como decidir se o copo está meio cheio ou meio vazio. Eles escolhem insistir mais em similaridades do que em diferenças. Fazendo isso eles te levam para longe da verdade da matéria: que similaridades são evidências de um designer comum atrás da estrutura e funcionamento das formas de vida.”

Creation or Evolution? Página 32.

Uma pergunta simples seria…”Como o The Guardian deu espaço para uma propaganda deste tipo em seu blog de ciência?”. O jornal não “deu espaço” para esta notícia específica. Ele apenas se rendeu ao senhor da internet mundial, aquele que não podemos citar o nome. O mais odiado e adorado. O Google. Este não é um problema apenas do blog de ciência citado acima. A maior parte dos blogs, principalmente do blogspot (serviço ‘gratuito’ do google), utilizam a ferramenta de propaganda chamada adsense. As vezes podemos ver vários banners de propaganda antes mesmo de um blog novo ter mais do que 1 post. As pessoas fazem isso porque ganham rios de dinheiro com o Google Adsense? Não, longe disso. Para ganhar dinheiro com adsense você precisa apenas de uma coisa: milhares de acesso. A maior parte dos blogs estão longe de terem centenas de acessos por dia. Desta forma fazemos propaganda praticamente de graça e, dependendo da sorte, apresentamos propagandas com um conteúdo bem questionável dentro dos nossos blogs. Esse problema se agrava quando estamos falando de blogs de ciência.

Como muito discutido no EWCliPo, blogs de ciência realmente nunca terão o mesmo número de acessos de blogueiros profissionais como o Cardoso e o Edney. Podemos procurar maneiras de aumentar nossos acessos, mas cair em certas armadilhas é muito fácil. Vamos falar de temas mais populares? Linguagem mais simplificada? Estes podem ser caminhos. Mas queremos isso para os nossos blogs ? Temos a ferramenta ideal, onde não estamos submetidos a ditadura da maioria dos canais de televisão. Publicação fácil de textos, alcance quase ilimitado. De certa forma, o lucro com blogs (através de propaganda) pode ser a morte prematura de uma ótima ideia. Não em blogs em geral, que visam apenas mais acesso e grana. Mas em blogs que visam o conteúdo, como os “blogs de ciência”.

Podemos cair no mesmo erro da televisão aberta e da paga. Mesmo em canais que teoricamente não são tão pressionados pela audiência como o Discovery Channel, podemos ver o crescente e avassalador domínio da pseudociência e ambientalismo. OVINIs, espirítos e “termas verdes” são pautas recorrentes da programação. Um canal que tinha tudo para focar em ciência tomou um caminho bem diferente. Será que é pela qualidade da equipe? Talvez. Mas acho que nada é maior do que a pressão do público. Eles transmitem o que o público quer, o que dá audiência. Algo fora deste escopo acaba tendo baixa audiência, o que resulta em menos publicidade. Queremos passar por esta pressão da audiência?

Depois de refletir sobre tudo isso, resolvi fazer um adsensecídio. Como vocês devem ter percebido, o blog não apresenta mais propagandas de qualquer tipo. Pode não parecer nada demais, mas acho que é importante a reflexão em escala maior. Precisamos sim de leitores, pois sem eles a divulgação científica perde o sentido. Mas a qualquer custo?

Comecei essa discussão com o Charles e Água neste post do “Um longo argumento” e continuamos aqui em um post meu (ver comentários).