No começo do mês a nossa vizinha Paula fez um post bem enfático, convocando as pessoas a pararem de ajudar o planeta. Concordo com grande parte da sua argumentação, mas faço um complemento ainda mais enfático. Mesmo as pessoas que acham que fazem alguma coisa pelo planeta, podem estar fazendo um trabalho muito pouco eficiente, quase imperceptível diante de uma grande heterogeneidade da produção mundial de energia. Um artigo publicado no blog da revista Wired na semana passada coloca essa questão em destaque.
A principal ideia levantada no artigo é a seguinte: uma atitude considerada “verde” pode ter um impacto completamente diferente dependendo da fonte de energia da sua região. Quanto mais suja (carvão, termelétricas, etc) é a matriz energética da sua cidade ou região, maior será o impacto de ações individuais. Se a matriz for basicamente limpa, trocar sua geladeira ineficiente por uma geladeira mais eficiente pode ter um impacto quase insignificante na emissão total desta região.
Um exemplo bem simples. Trocar uma geladeira que consome muita energia por uma mais eficiente em Chicago diminuiria a emissão em aproximadamente 450 Kg de CO2 por ano. Já em Nova Iorque essa diminuição seria de apenas 260 kg de CO2 por ano. Se este cálculo fosse feito para uma cidade brasileira, esta diminuição seria ainda menor. Outro exemplo é a utilização de carros elétricos ou híbridos. Dependendo do país e, consequentemente, da matriz energética em questão, o carro híbrido pode emitir menos CO2 que o carro elétrico. E aquelas mochilas “verdes” que tem painéis solares, campeãs em vendas entre os ambientalistas? Podem ser piores para o meio ambiente do que as mochilas normais. Mesmo se você recarregar seu celular e ipod com os painéis solares dela durante 2 horas por dia, demoraria 7 anos para você evitar a emissão de apenas 13 Kg de CO2 do que se tivesse carregado os aparelhos em uma tomada convencional.
Mochila com painéis solares. Selo verde? #greenFail
Então agora podemos usar carros a gasolina e diesel, geladeiras ineficientes, luz incandescente sem ter problemas de consciência? Claro que não. Mas antes sair por aí falando para todo mundo que você ajudou a salvar o planeta porque desligou a lâmpada da sala por 1 hora em 1 dia do ano, pesquise um pouco. Leia sobre o verdadeiro impacto de cada pessoa na emissão de gases estufa. Em um país com a nossa matriz energética, apagar a luz por 1, 2 horas por dia não vai ter quase nenhum mpacto em nossa emissão total. Isso sem falar das pessoas que não tem acesso a energia elétrica do país. Vamos deixar elas no escuro para diminuir o consumo de eletricidade? Então coloque no seu cálculo os 12 milhões de brasileiros que não tem acesso a rede elétrica.
Para fechar este post, uma frase bem interessante do autor do post no blog da Wired, que resume bem o que eu acho sobre este tema:
“Conservar a biodiversidade do planeta e os recursos naturais não será simples e não pode ser completada por um pequeno grupo de pessoas que desligam suas luzes por 1 hora ou que vão ao trabalho a pé por 1 dia. A escala desta solução não se ajusta a escala dos problemas energéticos do mundo. Nós temos um declínio nos recursos derivados de petróleo em um mundo viciado em óleo, muito carbono indo para a atmosfera e bilhões de pessoas sem eletricidade.”
Como podemos resolver essa equação? O Breno deu uma ideia muito boa…
Fonte: Wired Science
Outro ponto de vista, que diferença faz eu apagar toda a cidade apagar as lampadae e economizar miseros watts se a industria funciona 24h por dia com carga máxima!
acredito que o uso na industria tenha um impacto muito maior!
outra coisa que eu sempre vejo é aquela velha lenda de "economizar água" lavando seu carro com um balde de água...
Você está economizando na conta! mas não está economizando água, a água no brasil (na maioria das cidades) vem de rios, rios (de agua corrente) que terminam no mar, agua no mar = agua desperdiçada. agua na calçada igual evaporação e agua retornando em forma de chuva. ou seja você teoricamente estaria conservando a agua em sua regiao, não desperdiçando!
Olá Carla, obrigado pela visita e pelos elogios.
Aguardo os seus comentários!
descobri o blog de vcs hj por uma acaso e gostei muito, já está salvo nos meus favoritos. Sou advogada e mestre em Direito ambiental e estou professora de ecologia. Estou descobrindo um mundo novo , meu coordenador achou que só pelo fato de eu ser mestre em d.ambiental poderia encarar essa e confesso que pensei em desistir, mas fui em frente e meus alunos me deram força, estamos aprendendo juntos.
Hj foi só um oi, outro dia comento o post.
abraços
Olá Bastet, obrigado pelos elogios.
Como disse para a Claudia, claro que devemos reduzir o consumo. Mas para isso não precisamos usar argumentos incorretos.
Abraços e volte sempre.
Concordo plenamente consigo, Luiz. A ciência é composta de muitas ciências e de muitas teses, por vezes bem contraditórias. Não há verdades absolutas, há verdades prováveis, mas neste caso, acho que só não vê que há efectivamente aquecimento global quem não quer ver.
Tudo bem, que parte dele pode ser devido a causas naturais. Mas não há dúvida de que ele existe e de que a nossa civilização para isso contribuiu, continua a contribuir e infelizmente continuará.
Quanto ao impacto de desligar uma lâmpada, é certo que pode ser muito diferente no seu país ou no meu (Portugal), mas o que mais importa é criar hábitos de redução de consumo, consciencializar as pessoas de que gastamos demasiado os recursos de que dispomos.
P.S.: Gostei imenso do seu blogue. Vou colocar um link para ele no meu. Parabéns.
Roberto, você já deu uma lida nos posts aqui do blog que falamos dos céticos do clima?
http://scienceblogs.com.br/discutindoecologia/ceticos/
Não li a tese que você mandou o link, mas pelo tom do abstract parece que o discurso não é muito diferente dos que eu comentei nos posts anteriores. Sou contra o consenso em ciência, mas daí falar em "falsas premissas" é outras história.
Ela diz "(...) não existe um consenso quanto às causas, conseqüências e mesmo quanto à realidade do aquecimento global." Discordo veementemente. Sou contra a palavra consenso, mas existem sim provas de que o aquecimento é real. Existe sim dúvida se todo o aquecimento é antrópico e quanto a força das consequências. Mas não vamos jogar todos os estudos feitos nas últimas décadas no lixo.
Aaah! Sim! Isso é um problema mesmo, nem tudo é só por causa do Aquecimento Global! Aquecimento Global é só 1 dos problemas...
Oi Luiz,
Nada contra tuas propostas, muito pelo contrário.
Mas... não sei se você tomou conhecimento desta dissertação de mestrado desenvolvida na USP, contestando veementemente a hipótese do aquecimento global:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8135/tde-05112007-121023/
abraços,
Roberto
Claro Claudia, você está certa. Mas a ideia do post é combater o pessoal que faz essas coisas falando em aquecimento global. Economizar água, diminuir o consumo...tudo isso é interessante. Mas desde que não seja feito utilizando um argumento falso.
Até concordo c/ vc qdo pensamos apenas em emissoes de gases do efeito estufa, mas acho interessante sempre diminuir o consumo de energia simplesmente para diminuir nossa "carga" sobre o planeta. Penso q aqui no Brasil a gente nao economiza energia pra diminuir a emissao de gases, mas pra nao ter q ficar construindo mais e mais hidreletrica, termeletrica...