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Códigos de barras são comumente usados em nossa sociedade. Eles servem como identificação de um produto: preço e tipo. Agora, podemos imaginar uma tecnologia dessas identificando seres vivos? Calma, calma. Não é algo parecido com o que os nazistas fizeram com os judeus em campos de concentração (tipo uma tatuagem). Estamos falando de um código de barras genético. Este conceito se baseia em regiões do genoma de seres vivos que seriam usadas para identificar uma espécie, isto é, cada espécie teria uma sequência de pares de bases específica numa dada região analisada. Por exemplo, para animais seria uma sequência de 658 pares de bases presentes no gene que codifica a enzima citocromo C oxidase (componente de cadeia respiratória). Para vegetais, essa região ainda é questão de debates, sendo possível serem usadas mais de uma para identificação.


Porém, a explosão do uso dessa ferramenta só se deu a partir das
novas técnicas de sequenciamento. Limitado pelas primitivas técnicas de
sequenciamento manual (eletroforese capilar, seguida por clonagem em
bactérias e sequenciamento de milhares de clones), o uso do código de
barras de DNA foi acelerado a velocidade da luz com as novas técnicas
de sequenciamento (de kilobites para gigabites de informações genéticas
lidas pelos novos aparelhos em apenas 1 semana de análise). Neste
contexto, o consórcio Código de Barra da Vida procura desenvolver (padronização mundial) e difundir essa nova ferramenta.

Mas
o que isso vem a acrescentar ao método morfológico de identificação de
espécies? Muita coisa! Métodos morfológicos se baseiam basicamente no
que o especialista vê, sendo assim, possui uma certa influência de
subjetividade (os taxonomistas vão me matar). Além disso, alguns
caracteres morfológicos mudam ou se perdem com o desenvolvimento do
organismo. Fora a plasticidade fenotípica encontrada dentro da mesma
espécie. Sendo assim, métodos genéticos padronizados podem driblar
esses obstáculos.

Por exemplo, o filo nematoda
possui organismos com grande importância em alguns ciclos
biogeoquímcos, mas sua identificação é extremamente difícil (poucos
caracteres morfológicos a serem avaliados). Estima-se que a riqueza de
espécies dos componentes marinhos dessse grupo supere a casa de
milhões, porém somente algumas milhares de espécies sejam descritas até
agora. Este fato mostra como o código de barras de DNA poderia revelar
um novo mundo para os taxonomistas.

Como outros exemplos de
avanços possibilitados por essa técnica, temos: identificação de
animais por fezes ou urina do mesmo, reavaliação de interação entre
espécies (especialistas ou generalistas) devido a descoberta de
espécies crípticas, identificação de partes espécies  ameaçadas de
extinção (impossíveis de serem identificadas morfologicamente) em
produtos contrabandeados e, no campo da biossegurança, fácil
identificação de espécies exóticas.

Além desses avanços, um
outro muito importante é na área de paleoecologia. A identificação
morfológica de fósseis é um sério problema, ainda mais quando falamos
de vegetais. Deste modo, o código de barras de DNA pode ajudar os
cientistas a reconstruírem ecossistemas pré-históricos com a
identificação mais precisa de espécies animais e vegetais. Um exemplo é
a análise de amostras coletadas no permafrost siberiano que revelam a
mudança na composição de espécies vegetais entre o Pleistoceno e
Holoceno, além de revelar 8 espécies de mamíferos 8 (incluídos mamutes
e lemmings).

É claro, que como qualquer técnica científica, o
código de barras de DNA tem seus problemas. Problemas na análise de DNA
mitocondrial ou do cloroplasto, a escolha das regiões (código de barras
do DNA) que serão analisadas e um dos mais importantes na minha
opinião, o quanto de diferença na sequência de DNA vai ser usado para a
separação em espécie, família, gênero… Este último quesito, esbarra
nos problemas das análises estatísticas (usadas para essa
diferenciação) causados pelo pequeno número de indivíduos da mesma
espécie que são analisados, o que não permite a correta estimativa da
variação intraespecífica (mesma espécie) para ser comparada com a
variação interespecífica (entre espécies diferentes). Mas mesmo assim,
devemos prestas bastante atenção nessa inovadora ferramenta. Nos
devidos limites, ela pode revelar um novo mundo, onde a diversidade de
espécies é tão grande e suas interações são tão complexas que nossa
visão atual sobre o funcionamento do nosso planeta terá que ser
totalmente revista.       

Referência:
VALENTINI, A., POMPANON, F., & TABERLET, P. (2009). DNA barcoding for ecologists Trends in Ecology & Evolution, 24 (2), 110-117 DOI: 10.1016/j.tree.2008.09.011