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Crédito: m vitor

óbvio
ób.vio
adj (lat obviu) 1 Claro, intuitivo, manifesto, patente. 2 Fácil de compreender.

Acho que a palavra “óbvio” pode muitas vezes ser relativa. Óbvio é algo que depende diretamente do ponto de vista em questão. Para um pescador não é óbvio que ele não pode pescar em determinada época do ano para permitir a reprodução dos peixes. Isso é óbvio para quem estudou e sabe que cada espécie tem uma época reprodutiva. Muitas vezes, mesmo depois de saber do problema, muitos pescadores continuam pescando na época de reprodução dos peixes. Eles fazem isso porque que? Necessidade. Como sustentar a família durante o período em que eles não podem pescar? Eles podem buscar uma nova fonte de renda, mas este caminho é longo. E muitas vezes caro, pois precisariam fazer cursos, aprender uma nova profissão, etc. Muitas vezes estas pessoas eram filhos, netos, bisnetos de pescadores. Têm identidade com este modo de vida e investir em uma nova profissão não é a saída. Qual é a solução para este impasse? Existem duas maneiras complementares: suporte financeiro e fiscalização. Elas não funcionam sozinhas. Dar suporte financeiro sem fiscalização pode estimular os pescadores a continuarem pescando, mesmo recebendo uma ajuda financeira. Apenas fiscalizar sem o suporte financeiro pode punir quem realmente precisa deste meio para sobreviver.

Parece óbvio para todos nós que os governantes de todos os países tem que aceitar as metas de emissão e quem não aceita é por má fé ou até “burrice”. Acho que nos dias de hoje não temos mais políticos que não sabem das conseqüências do aquecimento global. Mas existem diferenças muito grandes entre os países. Lembro que a pouco tempo atrás foi comemorado pela mídia a notícia de uma ilhota que se declarou livre da emissão de carbono. Claro que para uma ilha que depende apenas do turismo é muito fácil. Mas e para os EUA? A matriz deles é completamente suja, baseada fortemente em carvão. Será que é tão simples para eles assumir metas rígidas? Não que eles estejam certos de não assinar, mas temos que ter em mente que um país que está passando pela maior crise financeira da história ter que aumentar (e muito) os seus gastos com energias renováveis caras e menos eficientes do que as fósseis é algo complicado. Casos como o do Brasil são extremos. Se reduzirmos de forma considerável a taxa de desmatamento, grande parte do nosso “problema” em relação a emissão de gases estufa estaria resolvido. Mesmo sendo assim tão “fácil”, ainda encontramos problemas para discutir metas sobre emissões futuras.

Essa situação é que faz com que esses “acordos” internacionais não dêem certo. Claro, acordos relacionados a produção de energia. O protocolo de Montreal deu certo porque tratava de um assunto que não iria mexer com o “desenvolvimento” do mundo, a emissão de gases do grupo CFC. Demoramos para entender o problema, mas depois que ele foi comprovado cientificamente não havia motivos para fugir do acordo. Claro que as empresas que produziam produtos que emitiam CFC tiveram problemas. Mas nada como os problemas que os países vão enfrentar para limpar as suas matrizes de energia.   Acordos como o de Montreal podem ter sucesso apenas se considerando a obviedade de problemas ambientas iminentes. Mas apenas quando esta obviedade não resulta em mudança de paradigmas. Principalmente quando este paradigma é o maior de todos. O de que devemos sempre investir em desenvolvimento econômico a qualquer custo.

O aquecimento global é um problema grave, mas a limpeza da matriz de energia suja de vários países do mundo em relativo curto espaço de tempo também o é. Claro que um problema ambiental desta escala pode ser ruim para todos. Mas sem uma ferramenta confiável de que o processo de limpeza em escala mundial será o menos traumático possível, encontros, como o de Copenhage, serão infrutíferos. Países viciados em óleo e carvão são como os pescadores que não conseguem ver outro caminho além de pescar em época de reprodução. O problema é que na situação ambiental atual estamos longe de sair da época de reprodução dos peixes, onde a pesca seria liberada novamente. Estamos em um caminho sem volta, onde teremos que alterar a nossa maneira de produzir energia de forma drástica. Sem fiscalização forte sobre as emissões de cada país e suporte financeiro e tecnológico para países que não possuem este tipo de recurso, continuaremos sem solução para o problema. E, obviamente, se continuar como está,  nos veremos na COP 45.

Obrigado Paula, @maria e @takata pela ajuda na reflexão.