Já tive várias discussões com amigos sobre o que seria uma pesquisa útil para a sociedade. Pesquisamos sobre assuntos de ponta, mas nosso povo ainda morre devido a mazelas centenárias (esquistossomose, dengue, malária e, o pior ainda, fome, diarréia e falta de água potável). Nesse contexto, alunos do ensino médio de Seattle foram desafiados por seu professor de química para aperfeiçoar a fabricação de vinhos! Isso mesmo, o relato feito pelos estudantes ao entrar no laboratório é de um aroma doce e frutado. Claro, até começarem a usar a autoclave (o negócio para feder!!!).
A noiva do professor, que é uma consultura de vinhos, comentou com ele sobre um problema na produção de vinhos brancos, que é parar a atividade das leveduras, isto é, fazer com que elas parem de realizar fermentação (uma maneira de se produzir energia, tendo como subproduto o etanol). Isto é de extrema importância para os produtores de vinhos, pois quanto mais tempo as leveduras agirem, maior será o teor alcoólico da bebida. E como sabemos e bebemos, existem vinhos que são mais doces que outros. A fementação é artificialmente interrompida pela adição de metabissulfeto de potássio (conhecido pela sigla KMBS). Entretanto, a quantidade a ser adicionada de KMBS é o grande segredo. Para vinhos tintos secos, os produtores conhecem bem a dinâmica, mas para vinhos brancos a dificuldade é maior.
Sendo assim, é preciso conhecer o pH e a quantidade de açúcar e solídos em suspensão para ajustar a quantidade de KMBS com intuito de parar a fermentação em um momento onde nem todo açúcar foi consumido e a concentração de etanol não é tão grande. É aí que reside o perigo, pois, por mais que exista literatura farta sobre isso, esta se baseia em simplificações das variáveis que afetam o resultado final ou se baseiam em “achismos“.
Com isso, após coletarem 26 amostras de vinhos, diluirem em diferentes concentrações, medirem diferentes variáveis físico-químicas e plaquearem, os alunos chegaram em uma tabela onde pode-se calcular a quantidade exata de KMBS a ser adicionado para o seu tipo de vinho para que a fermentação pare no momento exato. Isto é de grande importância para a indústria do vinho ter mais controle sobre a qualidade do seu produto final. Abaixo tem o vídeo dos alunos (parecem menores de idade, mas tinham 20 anos quando a pesquisa foi iniciada).
O bom de se trabalhar com vinho é degustar o resultado final. Imagina ter que provar para ver se a tabela estava realmente produzindo bons vinhos. Acredito que não conseguira realizar essa pesquisa, faltaria amostra no meu laboratório.
E vocâ achando que seu objeto de estudo é super interessante. Meu próximo projeto é tentar repetir isso, mas agora com cerveja!
Fonte: The Scientist
Então vamos lá né gurizada.
Venham todos para a Serra Gaúcha fazer alguns experimentos interessantes nas vinícolas daqui! hahahaha
Ótimo post! 🙂
Foram pesquisas desta natureza que um certo William Gosset foi contratado pela Guinness para fazer com sua cerveja. Os métodos para comparar o sabor do produto final o levaram a propor um teste para comparar médias que ele não podia publicar por ser segredo corporativo. Ele furou o segredo publicando o teste com o pseudônimo de Student.
Caro Breno
Muito motivante este seu texto. Faz lembrar os chamados vinhos licorosos,resultantes da paragem da fermentação por efeito da adição de aguardentes vínicas. Dois desses vinhos são,como sabe,o do Porto e o do Madeira.
Pobres leveduras,nestes casos,que não resistem a tanto álcool. Acontece,até,como deve saber,que se tem ,por veses,de deitar água nas lagaradas,pois as leveduras "amuam".
No caso que nos trouxe, é o SO2, que se liberta do metabissulfito de potássio em meio ácido, o agente paralizante das leveduras,por acção poderosamente redutora desse gás.
Quanto à cerveja,a coisa antevê-se mais complicada, devido à matéria prima ser amilácea,envolvendo mais passos.
Assim,o seu texto tem uma grande carga desafiante,pelo que está de parabéns.
Muito boa saúde Breno.