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Já discutimos qui no blog sobre a valoração das emissões de carbono (1 e 2). O famoso mercado do carbono se baseia na compensação. Emito gases estufa em uma parte de mundo e compro apreensão em outra (via principalmente projetos que ajudem na preservação ou reflorestamento de áreas verdes). Acredito que no modelo de sociedade em que vivemos, dar preço a poluição (neste caso, dar preço a tonelada de carbono emitida) pode ser o idioma que as grandes corporações entendam.

Neste contexto, o Simpósio Global de Negócios de Biodiversidade teve como objetivo refletir sobre o verdadeiro valor de um ecossistema preservado. Acredita-se que o motivo de tanta degradação ambiental se deve a ignorância do real valor do ambiente. Por exemplo, ao derrubarmos florestas ou aterrarmos um manguezal, perdemos vários serviços como contenção da erosão no litoral, produção pesqueira, sequestro de carbono, controle do clima, entre outros que não aparecem no balanço da danosa ação.

Sendo assim, colocar um preço em cada um dos benefícios que o meio ambiente intacto é capaz de dar ao homem uma real ideia da importância da preservação na economia mundial. Um outro exemplo de como a valoração pode afetar a cadeia de consumo/preservação seria o seu uso na Floresta Amazônica. Ao botarmos preço na floresta, quando um agricultor desmatar ela para a plantação de soja, o preço da carne aumentará (a soja é um dos componentes principais da ração animal) refletindo na queda do consumo desse alimento. Com isso, a busca por métodos menos destrutivos ou, até, programas de preservação de outras parte dessa mesma floresta para compensar o aumento no custo de produção.

Outra providência, agora mais institucional, é a taxação ou sobre-taxa de serviços, usando o dinheiro arrecadado para a preservação das fontes do próprio. Assim, para industrias que usem as águas do Rio São Francisco (por exemplo) tanto para abastecimento, como para descartar seus resíduos deveriam pagar pela preservação de sua bacia de drenagem.

amazonia.jpg O que vale mais: soja ou floresta?

Porém, os próprios organizadores do simpósio acreditam que sobre-taxas ou mais impostos recolhidos pelo governo não podem ser as únicas formas ressarcimento. Além do mais, o próprio descrédito na alocação (ou melhor, desvio) de recursos arrecadado pelo governo põe em xeque essa alternativa. Com isso, sugerem que o melhor seria um mercado regulado pelo governo, mas nos moldes da bolsa de valores. Com isso, uma empresa que destrua uma parte do cerrado para extrair recursos naturais, ela deve (necessariamente) investir em projetos ambientais no mesmo bioma. Sendo que, valorizando o que foi ressarcido, neutralizaria o passivo e poderia vender os créditos (caso existam) para novos empreendimentos no mesmo bioma. Porém, afirmam que somente o governo pode criar e regular a demanda para os projetos de grande escala.

No fim, os próprios organizadores apontam as bases para tal mercado: um governo capaz de regular e fazer cumprir, uma infra-estrutura de mercado que permita esse comércio e condições condizentes com o tamanho do proprietário da terra (olhar especial para pequenos agricultores e populações nativas).

Bem, resumindo, isso não funcionará no Brasil de hoje. Com isso, eles alegam que sem esses pilares dependeremos de ações voluntárias de preservação e compensação das empresas. Com isso, somos obrigados a ver propagandas da Vale dizendo que é muito boazinha com o meio ambiente, ou da Natura dizendo que protege a natureza, mas sem deixar de extrair quantidades enormes de recursos para produzir seus produtos. Esses são só alguns exemplos. Acredito que a valoração é necessária, porém se cumpríssemos somente o que dizem as nossas leis, acredito que já estaríamos fazendo um grande avanço. Apesar do deputado Aldo Rebelo ter feito aquela merda modificações no código florestal brasileiro, ainda acredito que a fiscalização do cumprimento da constituição é o melhor caminho.

Fonte: Nature 

e-mail: bagsouza@gmail.com