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Lendo uma entrevista de Slavoj Zizek no jornal Folha de São Paulo, filósofo esse que (devido minha ignorância) não conhecia, me deparei com uma declaração que é o norteador deste blog quando comentamos sobre o movimento ambientalista atual.

       “O sr. tem batido muito na tecla da “farsa ecológica” alimentada pela culpa das elites. Não existe de fato uma ameaça ecológica?
Existem problemas graves, é óbvio, mas as soluções para eles não estão
nas “ecobags” ou noutra idiotice desse tipo. Entre as classes média e
alta, é chique dizer que você é “consciente”, que recicla lixo e se
preocupa com o ambiente. Isso é imbecilidade, me desculpe.
É praticamente uma superstição, algo que tira a sua culpa e faz você se
sentir bem. Os ecologistas radicais são os maiores críticos desse tipo
de ritual da elite, eles chamam isso de “lifestyle” ecologista e
pesquisas provam que o impacto positivo desse tipo de atitude no cenário
global é irrelevante.”

Vale a pena ler toda a entrevista.

Os marketeiros são grandes responsáveis por esse tipo de comportamento (pensando bem, como qualquer tipo de comportamento de grupos em nossa sociedade). Vendem para você um falso ticket de “protetor do meio ambiente”. Para mim, ambientalistas deste tipo são tão ludibriados quanto crentes que cromparavam um terreno no céu.

A maior arma de proteção ao meio ambiente é o seu consumo. O que, quanto e onde você compra. Isso mesmo! O consumismo que é o grande problema também é a solução. Saber dosar que é a questão chave. E, é aí que as pessoas falham. Todos nós. Nós estimulamos isso. Somos ávidos por pertencer a um grupo (mais ecologicamente, um nicho).

Lerei mais sobre esse filósofo para entender melhor suas posições. Termino com um trecho de uma entrevista de Zizek:

  “É precisamente no terreno da ecologia
que podemos delinear a demarcação entre a política da emancipação e a
política do medo na sua forma mais pura. De longe, a versão predominante
da ecologia é a da ecologia do medo – medo da catástrofe, humana ou
natural, que pode perturbar profundamente ou mesmo destruir a
civilização humana. Essa ecologia do medo tem todas as oportunidades de
se converter na forma ideológica predominante do capitalismo global, um
novo ópio das massas que sucede o da religião. Assume a função
fundamental da religião, aquela de impor uma autoridade inquestionável
que estabelece todo limite. Apesar de os ecologistas exigirem
permanentemente que mudemos radicalmente nossa forma de vida, é
precisamente isso que subjaz a essa exigência no seu oposto, isto é, uma
profunda desconfiança em relação à mudança, em relação ao
desenvolvimento, em relação ao progresso: cada transformação radical
pode conter a consequência inestimada de detonar uma catástrofe. É
exatamente essa desconfiança que converte a ecologia em um candidato
ideal para tomar o lugar de uma ideologia hegemônica, pois faz eco da
desconfiança em relação aos grandes atos coletivos.

Trecho entrevista de Zizek para revista Unisinos