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Ontem estive presente no Campus do Centro Universitário de Volta Redonda, no interior do estado do Rio de Janeiro, para falar um pouco sobre como as novas ferramentas da Web 2.0 estão mudando a ciência. Vou fazer neste post um pequeno resumo das ideias que tentei passar para o público. A mudança que a Web 2.0 pode causar na comunicação da ciência não é pequena e pode ser maior até do que a introdução dos periódicos científicos no século XVII. Talvez pela primeira vez iremos fazer uma divulgação científica verdadeira, onde não precisamos convencer o público que ciência é importante. O público atualmente pode participar ativamente tanto do financiamento de trabalhos científicos como da análise e produção de dados que servem como base para muitos artigos publicados recentemente.

A introdução dos primeiros periódicos em meados do século XVII trouxe várias vantagens sobre a forma como a ciência era comunicada até então. Cartas mantinham as descobertas de uma forma privada, livros eram caros para serem editados e demoravam muito tempo para serem publicados e as reuniões das recém criadas sociedades científicas ainda não atingiam um grande público. Os primeiros periódicos científicos diminuíram os custos, diversificaram o conteúdo por publicaram experimentos e descobertas de vários cientistas diferentes e introduziram um controle de qualidade pela revisão por pares. Essa importante ferramenta para a comunicação da ciência foi muito importante, mas pouco evoluiu nos últimos séculos. As vantagens que a introdução dos periódicos trouxeram no século XVII se transformaram em grandes problemas.

O controle da editoração dos periódicos passou de sociedades sem fins lucrativos para empresas, que cobram caro pelo serviço, mesmo sendo o trabalho de revisão por pares ainda feito de forma gratuita pelos cientistas. Além disso o tempo entre a conclusão de um experimento até a publicação do artigo pode levar de meses até anos para ser concluído. Como o número de cientistas aumentou e as ferramentas modernas multiplicaram a velocidade de análise dos dados e escrita dos manuscritos esse tempo se transformou em uma eternidade. Quanto a revisão por pares, o controle de qualidade dos artigos pode não ser tão isento, privilegiando artigos submetidos por certos autores de certas instituições. Pode também suprimir novas ideias, já que o financiamento da própria ciência depende dos artigos publicados, aumentando a guerra entre cientistas e laboratórios pelo pouco dinheiro destinado a ciência.

Com a popularização da Web, muitos acharam que essa seria a salvação para a comunicação da ciência. Diminuição dos custos de editoração, distribuição do conteúdo, aumento da velocidade da revisão por pares…eram promessas que não aconteceram. A ciência manteve os seus velhos hábitos, agora em um meio eletrônico. As novas ferramentas que podem – e estão – alterando a ciência de forma avassaladora: como publicamos, como fazemos, como se ensina/aprende e como divulgamos ciência.

Novas maneiras de se pensar a publicação e distribuição de artigos científicos como os portais ArXiv e PLoS, de contribuir diretamente com a ciência sem intermediários como os exemplos do projeto Genoma do Mexilhão Dourado e do Programa Alexa, de ajudar na geração e análise de dados científicos sem sair de casa  através da computação distribuída do projeto BOINC e de jogos como o Foldit, de mudar efetivamente como encaramos o ensino de ciência pela Khan Academy e o Veduca. E claro, novas maneiras de reinserir a ciência na cultura através de iniciativas como o Science Blogs Brasil, despertar a curiosidade científica através do Manual do Mundo ou mesmo participar de uma conversa de bar sobre ciência realmente entendendo o que está sendo falado como no Dragões de Garagem e no Fronteiras da Ciência.

A Web 2.0 pode trazer a ciência não só para perto do grande público, mas fazer com que ele participe em tempo real e ativamente do processo científico. Acho que não existe uma melhor maneira de fazer divulgação científica do que colocar o público dentro dos nossos muros e não apenas dizer para eles como a ciência é importante através de cartas e vídeos enviadas da nossa torre de marfim.

 

Textos complementares (todos de acesso aberto, claro):

Redes sociais, artigos científicos e novas métricas. Post do Atila no Blog Rainha Vermelha.

A ciência acontece fora do papel. Artigo de minha autoria publicado no site da Ciência Hoje.

Comunicação da ciência e Web 2.0. Dissertação de mestrado do Thiago Henrique Santos, publicada no blog Polegar Opositor.

Scholarly communication – Historical development and new possibilities. Artigo de Nancy Fjällbrant, da Universidade de Tecnologia Chalmers, Suécia.

Science 2.0 — Is Open Access Science the Future? Artigo da revista Scientific american.

Open science: policy implications for the evolving phenomenon of user-led scientific innovation. Artigo de Victoria Stodden da Universidade de Columbia sobre várias iniciativas de participação do público na construção da ciência.

Open Access and the Progress of Science. Artigo de Alma Swan na American Scientist a revolução que o acesso aberto pode causar na comunicação da ciência.

Moving from Script to Science 2.0 for Scholarly Communication. Artigo dos indianos Khaiser Nikam e Rajendra Babu H. publicado no periódico Webology.

 

Atualização (07/09/2013)

O jornalista Bruno de Pierro da Revista Pesquisa FAPESP fez um post em seu blog pessoal comentando e ampliando a discussão sobre o papel da web 2.0 para a comunicação da ciência. Não deixe de ler.