Imortalidade


Há duas formas de conseguir a imortalidade: A primeira é coletiva. O ser humano individual é mortal, mas não as totalidades humanas as quais ele pertence. A Igreja, a Nação, o Partido, a Causa, vão viver muito mais que o indivíduo, talvez até para sempre. Assim, pode-se justificar a morte individual: “Não foi em vão!” Mas o indivíduo se vai de qualquer forma. A imortalidade individual dissolve-se no empreendimento de servir à imortalidade do grupo.
A segunda forma é individual. Fisicamente, todos os homens vão morrer, exceto alguns, que permanecerão na memória dos outros homens. Para isso ocorrer, esses homens devem ter realizado feitos incomuns à maioria dos homens.
Zygmunt Bauman nota que a imortalidade individual não é particularmente adequada ao consumo de massa pois só tem sentido enquanto a individualidade permanece o privilégio de poucos. A imortalidade coletiva por sua vez, requer a supressão da individualidade.
Se a modernidade se esforçou para desconstruir a morte, em nossa época pós-moderna é a vez de a imortalidade ser desconstruída. Esse é mais um exemplo do atraso da medicina, ramo da cultura humana que ainda permanece tentando desconstruir a morte! Mas, continua Bauman:
“A imortalidade não é mais a transcendência da mortalidade. É tão instável e extinguível quanto a própria vida, tão irreal quanto se tornou a morte transformada no ato do desaparecimento: ambas são receptivas à interminável ressurreição, mas nenhuma à finalidade. Foi a consciência da morte que insuflou vida na história humana. Por trás da ilimitada inventiva sedimentada na cultura humana, achava-se o conhecimento da morte, que convertia a brevidade da vida numa ofensa à dignidade humana – um desafio à inteligência humana, que requeria transcendência, alargava a imaginação, incitava à ação. Sem conhecer a morte, os animais vivem na imortalidade sem realmente se esforçar por isso; os seres humanos devem merecer, conquistar, construir a sua imortalidade.
Eles enfim o conseguiram, mas somente ao ceder a imortalidade a uma espécie artificial, vivendo a própria imortalidade como uma realidade virtual. Com essas oposições entre realidade e representação, signo e significado, virtual e “real” progressivamente obliteradas, a imortalidade técnica e virtual não se apoderaria do que a imortalidade outrora possuiu como um empreendimento, como sonho irrealizado? A nova imortalidade virtual e técnica, a imortalidade por procuração, não é um desvio, um sinuoso retorno à imortalidade a priori, imortalidade por desconhecimento da espécie não-humana (e inumana!)?”
É a imortalidade que buscamos a nossos pacientes? Que exemplo melhor de imortalidade técnica e vida na realidade virtual que aquela das unidades de terapia intensiva? Como Bauman, perguntamos se essa imortalidade é a humana, ou se é a hiperrealidade sem sentido que nos acomete pós-modernamente? O mundo está salpicado de belíssimas tentativas humanas em escapar da morte. Mas, tal busca pela imortalidade não pode se converter em crua imoralidade.

Discussão - 1 comentário

  1. evandro disse:

    Ola li esse historicos gostei dessa relatividade
    sempre gostei de sabedorias a inteligencia
    humana e tao fetil que o que nos procuramos
    esta em nos mesmo sempre quis ser imortal
    nao por poder mais por saber

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