Meandros


É possível ter-se um conhecimento correto de uma parte sem se saber a natureza do todo? A resposta a essa pergunta pode parecer simples inicialmente, principalmente quando essa indagação é sobre o mundo físico, vide o sucesso da ciência atual. Mas, quando envolve seres vivos (a espécie humana, inclusive), parece que o problema toma outras proporções e fica evidente uma metafísica embutida na pergunta inicial.

Metafísica, pois envolve questões finalistas; além da física; envolve uma compreensão de universo particular. Envolve uma racionalidade pluralista, pois pressupõe sistemas isoláveis na natureza e pode, por essa razão, ser também chamada positivista.

O perigo do positivismo não é não conseguir fugir do pensamento metafísico – o que é impossível; é, ao contrário, não reconhecer que ele está enraizado na racionalidade humana. Se não se reconhece as recorrentes (e muitas vezes, inconscientes) tentativas metafísicas de nosso pensamento, corremos o risco de transmiti-las, acriticamente, mais rápido que outros conceitos, pois ao invés de utilizarmos a argumentação direta, o faremos da forma mais persuasiva e sensível ao homem: a insinuação. Linguagem das entrelinhas. Extremamente poderosa, principalmente quando se fala de abstrações e divindades. Ao invés de abrir portas, favorecerá uma certeza coberta com o véu que esconde a eterna dúvida.

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