Against Diagnosis


Um artigo do Annals Internal Medicine de 5 de Agosto tem chamado a atenção dos médicos. O artigo tem o título “Against Diagnosis”( Ann Intern Med. 2008;149:200-203). Como pode alguém publicar um artigo “contra o diagnóstico”? Na verdade, a proposta dos autores, que são epidemiologistas do Memorial de Nova Iorque, é que pensar na doença em termos de predição de risco é muito mais vantajoso que pensar nela em termos de diagnóstico. Vejamos:
Para eles, existem duas vantagens principais: 1) Dado que muitas variáveis em medicina são contínuas, p.ex. glicemia de jejum, pressão arterial, etc; qual seria o nível a partir do qual classificaríamos um paciente de hipertenso ou não? Diabético ou não? 2) E se o paciente tivesse vários fatores de risco, não valeria a pena colocarmos o “sarrafo” mais acima para evitar complicações precoces? Todas essas perguntas realmente colocam em xeque a abordagem da doença via arbitrariedade do diagnóstico. O diagnóstico como ferramenta cognitiva binária não dá conta do contínuo de variáveis de um ser humano real. Principalmente quando tratamos de doenças com intervalo de normalidade arbitrário.
Talvez esse texto seja uma explícita declaração da filosofia que domina a Ciência Médica atualmente: a Epidemiologia do Risco. Tentaremos uma aproximação a esse assunto nos próximos posts.

Discussão - 4 comentários

  1. Primeiramente, bem-vindo ao Lablogs! 🙂
    Sobre o post, esta discussão de diagnóstico tem MUITO a ver com a discussão que acontece entre psiquiatria x psicologia. Os transtornos comportamentais mudam muito e se diferem totalmente de um paciente para outro, embora o diagnóstico acaba sendo o mesmo, prejudicando grandemente o tratamento.
    Na psicologia, evitamos utilizar diagnósticos pois rotulam inadequadamente os clientes, damos preferência aos comportamentos observados e suas funções, intervindo cada vez em um deles, ao invés de agir baseados em um diagnóstico. Pelo visto esse não é a única área com problemas...

  2. Karl disse:

    Muito bem lembrado, Felipe.
    Entretanto, o lado negativo dessa abordagem é que ele possibilita duas alternativas: 1. de um lado a visão "caixa-preta", fenomenológica (que parece simpática à Psicologia, não?); 2. de outro, a reducionista que acredita que tudo está nos neuromediadores (essa vem dominando a Psiquiatria). Na maneira de ver do Ecce Medicus, ambas visões se tomadas de forma radical, prejudicarão o paciente.
    Obrigado pelo comentário.

  3. Isis disse:

    Interessante... Temos acesso ao artigo?

  4. Karl disse:

    Aproveito para postar as interessantes respostas que o artigo gerou na mesma revista.
    http://annals.org/cgi/content/abstract/149/3/200
    Isis, o artigo foi enviado ao seu email. Bem-vinda ao Ecce Medicus.

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