Ciência e Social II – Racismo Científico

Mad Scientist at DHM

Do repórter de ciência da Folha de São Paulo e blogueiro Marcelo Leite, um texto com o sugestivo título de “O Favor Impacto” no Caderno Mais! de 16/08/11 (para assinantes):

“Há muito se suspeita de que pesquisadores de nações periféricas sejam prejudicados nesse troca-troca de citações. Seus artigos tenderiam a ser menos lidos e, segundo a hipótese, incluídos de modo menos freqüente nas listas de referências dos colegas dos países desenvolvidos. Um protecionismo acadêmico, por assim dizer.”

Se isso fosse aplicado a indivíduos do sexo feminino, negros, gays, índios, anões, espíritas, umbandistas, crentes ou ateus de qualquer espécie seria simplesmente chamado de racismo! Mas são cientistas do terceiro mundo, apenas. Continua:
 
“Meneghini, Packer e Nassi-Calò tomaram por base um acervo de 1.244 textos publicados em 2004 e 2005 com autores de quatro países latino-americanos (Argentina, Brasil, Chile e México) em sete periódicos internacionais de prestígio. E, claro, as citações que receberam no ano subseqüente (2006). Para comparação, montaram outro banco de dados sobre mais de 44 mil
trabalhos com autores de cinco países ricos (Alemanha, Estados Unidos, França, Japão e Reino Unido). Em seguida, separam ambas as amostras em dois subconjuntos menores: um com artigos assinados por autores de um mesmo país, sem colaboração internacional, e outro com. Resultou o previsível (mas boa parte da ciência serve para isso mesmo, confirmar e apoiar em números objetivos aquilo que já se sabe). Estatisticamente, tanto faz para autores de países desenvolvidos publicar com ou sem colaboradores estrangeiros -serão citados em proporção semelhante e muito próxima do fator de impacto da publicação.  No caso latino-americano, a desvantagem é enorme. Artigos sem apoio de colegas desenvolvidos têm fatores de impacto 34% menores que a média. Com colaboração internacional, se aproximam do usual na publicação. Resta estabelecer se os trabalhos de latino-americanos são menos citados só porque são ruins, o menos provável, ou se os pesquisadores de países ricos é que não se dão ao trabalho de lê-los. Muitos latino-americanos já concluíram, bingo, que o caminho das pedras exige o favor de um co-autor bacana.”

Por fim, um artigo da Plos cujo título é “The Chilling Effect: How Do Researchers React to Controversy?” e cuja pergunta é, “Can political controversy have a “chilling effect” on the production of new science?” e que tem a seguinte conclusão:

These findings provide evidence that political controversies can shape what scientists choose to study. Debates about the politics of science usually focus on the direct suppression, distortion, and manipulation of scientific results. This study suggests that scholars must also examine how scientists may self-censor in response to political events.”

Ia comentar, mas deixo para meus fiéis e críticos leitores.

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Discussão - 4 comentários

  1. Aleph disse:

    Disee Marcelo: "mas boa parte da ciência serve para isso mesmo, confirmar e apoiar em números objetivos aquilo que já se sabe". "Infelizmente", acrescentamos eu e Karl Popper...

  2. Eu não tenho dúvida disto. Achar que o cientista é um autômato coletor de dados e chegador de conclusões não viesadas é irreal, principalmente quando estuda tópicos de saliência, quer seja política, social, ética... Não acho que seja necessária a manipulação de dados para expressar o viés do pesquisador, a interpretação de dados, mesmo não manipulados, denuncia bem os preconceitos de quem pesquisa e de quem lê.

  3. Wagner disse:

    parabéns pelo blog. Conteúdos de primeira. Já escrevi feed e deixei link no meu blog. Abraços

  4. Karl disse:

    Aleph: Felizmente, acrescentaria Kuhn.
    Italo: A pergunta é como que um cientista, professor universitário, cheio de pós-graduandos, pode ser racista? Ou não tem nada a ver?
    Wagner: Obrigado pelo comentário. Seja bem-vindo ao Ecce Medicus.

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