Projeto Angola


Mapa de Angola na Wikipédia

Este post faz parte da blogagem coletiva do Lablogatórios sobre a África. Vou escrever sobre Angola.

Angola é um país da costa ocidental da África que foi uma antiga colônia de Portugal; é portanto, lusófono. Obteve sua independência em 1975. Desde 2002, Angola está em paz. De 1961 a 2002 esteve em guerra, primeiro em virtude da luta pela independência, depois como consequência da guerra civil que explodiu em 1975 entre os principais partidos de Angola, o Movimento Popular de Libertação de Angola e o partido da oposição União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), de orientação socialista. Angola tem hoje, aproximadamente 16 milhões de habitantes, dos quais 3 milhões, moram na capital Luanda. Faz parte da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e tem um PIB per capita de 4500 dólares, ocupando a 121a posição no ranking de paridade de poder de compra.

Desde 2002, o país enfrenta o desafio da reconstrução de seu sistema de saúde devastado pelo longo período de guerra. Vários orgãos internacionais têm participado desse projeto, entre os quais a OMS, Nações Unidas, UNICEF, Banco Mundial entre outros. O país tem aproximadamente 1.500 médicos, em média, um para cada 10.000 habitantes. Para se ter uma idéia, São Paulo tem 2,3 para cada 1000 habitantes. Os desafios na área são atendimento básico à população (grande maioria de jovens e crianças), assistência à saúde materna, desnutrição infantil, vacinação, controle da malária, tuberculose, HIV/Aids, hanseníase, doença do sono (um tipo de esquistossomose).

Um dos pontos desse projeto é o aumento da resolutividade dos hospitais locais, ou seja, aumentar o poder de tratamento de patologias cada vez mais complexas, visando à redução do número de doentes transferidos para o exterior para tratamento de saúde. Hoje, o governo gasta milhões de dólares com custeio de despesas médicas em outros países, como Portugal e África do Sul. Com essa finalidade estabeleceu-se um programa de capacitação de médicos especialistas angolanos atuantes em sete hospitais nacionais situados em Luanda, para que se tornem capazes de absorver 70% dos casos em 13 especialidades selecionadas e que atualmente, vêm sendo transferidos para o exterior. A cirurgia do Aparelho Digestivo integra a relação dessas especialidades selecionadas.

Para o desenvolvimento desse programa o Ministério da Saúde angolano solicitou a colaboração da Disciplina de Cirurgia do Aparelho Digestivo do Departamento de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP. O Prof. José Eduardo Monteiro da Cunha, professor Associado do Departamento de Gastroenterologia, foi indicado pelo Prof. Ivan Cecconello, Titular da Disciplina de Cirurgia do Aparelho Digestivo e Coloproctologia do Departamento, para coordenar e desenvolver essa atividade. O programa tem trazido excelentes resultados para os dois lados. Residentes de 4o ano da especialidade têm tido a inesquecível experiência de conhecer Angola e ensinar técnicas cirúrgicas de ponta aos médicos africanos. Uma médica cirurgiã já cursa um estágio presencial na disciplina e até este blogueiro tem interesse em implantar melhorias nas unidades de terapia intensiva locais.

Projetos como esse, fazem-nos lembrar a verdadeira vocação de uma universidade. Enchem nossos corações com aquela felicidade simples que traz a solidariedade; com aquele orgulho do bem de uma lição bem feita. A África é uma velha mãe. Projetos assim, lembram mais do filho que cuida da mãe do que daquele que a interna numa casa de repouso, enviando-lhe o dinheiro necessário das despesas. É um tipo de resgate. Um tipo de retorno. Um retorno ao colo pródigo.

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Discussão - 3 comentários

  1. Rogerio disse:

    Interessante. Já existe pessoas, em diversas áreas ligadas à FMUSP, participando de projetos em Angola.
    No início do ano havia vaga para terapia intensiva (permanecer dois anos em Angola treinando médicos locais), não sei se foi preenchida, mas acho que a colaboração brasileira é de fundamental importância, afinal esse é um país ímpar, numa mesma cidade podemos encontrar UTIs muito próximas das melhores UTIs do mundo (vide a recém inaugurada UTI do Sírio Libanês) e UTIs de guerra como as de Angola(basta visitar as periferias).
    Muitas vezes o profissional trabalha ou tem conhecimento do funcionamento de ambos sistemas, e consegue fazer com que as UTIs menos providas em termos de recursos tenha um desenpenho muito satisfatório, com implantação de medidas simples... poderiamos contribuir com essa experiência, coloco-me a disposição.
    Rogério

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