2009 – O Ano de Darwin
Depois desse contato inicial, li a “Origem das Espécies” em espanhol no 3o ano. Tive enorme dificuldade com os nomes dos bichos e só consegui terminar a leitura quando abstraí os animais dos exemplos (e quem leu sabe que são inúmeros!) e foquei nos conceitos. Mesmo assim, tive problemas para entendê-los. Depois, como que picado por algum mosquito, li Dawkins, Gould, Maynard-Smith, Szathmáry, Mayr e tantos outros. Achei o máximo a Teoria do Macaco Aquático de Elaine Morgan. Fui convidado a dar uma aula na Associação Paulista de Medicina sobre uma idéia que relacionava essa teoria com a apnéia do sono. Ninguém entendeu nada! A bem da verdade, acho que eu também não!
Fiquei, entretanto, fascinado com as possibilidades de contato entre a teoria evolucionária e a Medicina. Mais especificamente, comecei a pensar no conceito evolucionário de doença, algo que ainda carece alguma elaboração. Em 1995 li, na New England, a resenha de um livro que parecia ir na mesma direção “Why We Get Sick?” de Randolph Nesse e George Williams. O livro não deixa de ter alguns conceitos interessantes, apesar de explorar mais a face adaptacionista do problema. Fala muito mais sobre respostas do organismo do que sobre conceitos evolucionários aplicados a doenças da forma como eu esperava (ver aqui o artigo de 1991 que originou o livro). Além disso, pretendia fundar uma “nova ciência” chamada Medicina Darwiniana. Nesse e colaboradores publicaram um interessante artigo na Science em 2006 onde “aliviam” alguns conceitos do livro. Por exemplo: “There is growing recognition that cough, fever, and diarrhea are useful responses shaped by natural selection, but knowing when is it safe to block them will require studies grounded in an understanding of how selection shaped the systems that regulate such defenses and the compromises that had to be struck.” Esse “when is safe to block them” não era uma idéia do livro. O livro termina com quadros psiquiátricos o que para mim o aproximou um pouco de inteligências emocionais e psicologias evolutivas da moda. Um resumo do livro saiu na Scientific American (sem a parte psiquiátrica).
Nos próximos posts, tentarei fazer um apanhado sobre isso, necessariamente incompleto. Mas contarei com o auxílio de um site bastante interessante que encontrei revendo meus alfarrábios digitais.
Powered by ScribeFire.
Discussão - 7 comentários
Tenho a impressão que a TE ainda é um tema científico restrito e compreendido àqueles que realmente eliminaram a dogma e fugiram do ensino doutrinário dos currículos. O ensino médico não explica o homem e não pretende faze-lo em sua bases biológicas . A anatomia comparada é nota de rodapé de poucos livros de ciência básica e a frequência das aulas experimentais é reduzida. Por que experimentar em animais se teremos o estágio profissional? Ao final de sua formação e homem é um ser “criado” e a formação do médico não e por isso mais humanizada.
Karl, durante o curso regular de graduação (do curso de medicina) não tive nenhum contato com a Teoria Evolucionista (TE) de Darwin.
Porém, durante os seis primeiros anos da minha atividade médica, com a convivência com o mesmo professor de Fisiologia Integrativa (lembro-me que ele não gostava de ser chamado de neurofisiologista) pude apreciar discussões fantásticas não só da TE, mas de outras teorias fabulosas passando por Einstein, Bohr, Dawkins, Sforza, entre outros em vários expoentes de diversos campos das ciências que o professor usava para explicaras mais diversas facetas fisiológicas…
Infelizmente, esse tipo de abordagem abrangente está cada vez menos em voga, a superespecialização é cada vez mais gritante, não só na medicina, mas nas ciências em geral… Porém, cabe a nós, descobrir maneiras de tentar aplicar conceitos diversos como a TE, a prática médica e científica, o que com certeza irá tornar a medicina muito mais dinâmica e fascinante…
Como discípulo do mestre que uma vez falou, pouco antes de entrar na fase mais devastadora de sua doença degenerativa, que acabaria levando-o à morte: “triste o discípulo que não supera o mestre… pouco importa se você publicou 30 ou 3000 trabalhos, se nenhum deles acrescentou nada ao mundo, mas se você publicar um único trabalho, e este conseguir mudar a maneira de fazer ciência, ou mesmo a medicina sua obra já será superior à quela de 3000 publicações.”
Greatings,
Amazing! Not clear for me, how offen you updating your scienceblogs.com.br.
Thanks
Eremeeff
Thank you and welcome, Eremeeff.
Bom, como Bióloga (apaixonada pelo tema)e atualmente no estado de estudante de Enfermagem, fiquei totalmente excitada com o post do teu blog. Precisamos sim, na área das ciências médicas não ter só o conhecimento, mas sim o dômínio da TE, pois a partir dela podemos compreender diferentes mecanismos do processo saúde-doença.
É isso mesmo, Sabrina. Você como bióloga e agora, como enfermeira, terá uma visão única de todo esse problema. Pode continuar contribuindo com suas idéias e entusiasmo. O Ecce Medicus estará sempre à disposição. Obrigado pelos comentários.