Objetividade ou Solidariedade?
“A tradição da cultura ocidental, centrada na noção de busca pela verdade, a tradição que corre desde os filósofos gregos e atravessa o Iluminismo, é o exemplo mais claro da tentativa de encontrar um sentido para a existência a partir do abandono da solidariedade em direção à objetividade.”
A partir daqui, podemos escolher dois caminhos. O primeiro considera que existe uma realidade objetiva fora de nós que pode ser conhecida – e dominada – se seguirmos um método específico de acordo com uma determinada racionalidade de modo que, conforme nosso método evolui por meio das contribuições dela, avançamos nas nossas descrições do mundo real e de nós mesmos. O segundo considera que somos seres comunicativos que produzimos nossa própria realidade através da linguagem. Desse modo, descrever o outro ou descrever a realidade que nos cerca é exatamente a mesma coisa. (Descrever a nós mesmos é um tanto diferente ainda, mas chegamos lá). Por outro lado, não há uma realidade (platônica) fora de nós de maneira que só nos resta comparar uma descrição com outra. Não há a pretensão de que exista um “gabarito” com a qual uma descrição deva ser comparada. Nem há, tampouco, uma sensação de que avançamos para um “grande conhecimento”. Aliás, a própria noção de verdade adquire um sentido bastante diferente.
“A questão acerca de se a verdade ou a racionalidade possuem uma natureza intrínseca, acerca de se nós podemos ter uma teoria positiva sobre cada um desses tópicos, é justamente a questão acerca de se nossa autodescrição tem de ser construída a partir da relação com a natureza humana ou a partir da relação com um conjunto particular de seres humanos: se nós desejamos objetividade ou solidariedade.”
Com a palavra, essencialistas objetivos…
PS. Depois falo de quem são os textos.
Discussão - 14 comentários
Fiquei mesmo superinteressada em saber de quem são os textos, Karl.
E vou ser atrevida e dar um pitaco: não seriam de Martin Heidegger?
O primeiro exto texto é de Richard Rorty, já o segundo não poderia saber se seria o dele também.
Tava sumida, hein? Viu quanta coisa vc perdeu? Pitaco bom, mas não são de Heidegger. Vocês jamais descobrirão 😀
Pois é, Karl... sou uma mulher moderna...ocupadíssima, sabe?
Mas embora sem comentar, sempre que podia vinha dar uma olhadinha em seus posts, e ainda estou lendo alguns, mas os que li são todos ótimos, como sempre...
Ah, e não venha com essa de suspense, de novo! Basta o último quiz... fala logo de quem são os textos, please!
Ainda não. Isso não é o mais importante. O post é pesado e tem coisas novas. Fui atropelado pela gripe suína... Ainda vou falar disso bastante. E ademais, o segredo é manter o suspense 😉
Certo então, Karl.
Vou me aguentar aqui...:P
Humm...isso tá com cara de Rorty, mas poderia igualmente ser de Habermas. Aliás, os dois andanram discutindo (Habermas discute com todo mundo!) por aí. Também pensei em Wittgenstein, mas o estilo não bate. Eu arriscaria ainda, num chute distante, Tugendhat, pelo viés comunitarista ligado à idéia de verdade como consenso. Tudo isso para dizer que, na verdade, não sei.
Caro Daniel. Na verdade mesmo, ninguém sabe, mas os parágrafos são de Richard Rorty.
🙂
Habermas e Rorty... tudo a ver com comunicação!
E no fim os textos são de Rorty mesmo, heim, Karl? Vc vai passar as referências completas?
[]s
"Objetivismo, Relativismo e Verdade" Escritos Filosóficos V.1 - capítulo "Solidariedade ou Objetividade?" página 37 em diante. Richard Rorty. Tradução Marco Antonio Casanova. Vou discutir mais algumas coisas desse livro fantástico.
Obrigada, Karl!
Vou procurar na biblioteca!
Karl, achei o livro.
E vi que Rorty tem um capítulo com o mesmo título (Solidarity or objectivity?) publicado em outro livro:
KRAUSZ, Michael (Ed.). Relativism: interpretation and confrontation. Notre Dame, Ind.: University of Notre Dame Press, c1989. 503p.
Outros capítulos interessantes e seus autores, neste mesmo livro:
Anti anti-relativism / Clifford Geertz
Relativism, power, and philosophy / Alasdair MacIntyre
The truth about relativism / Joseph Margolis
Relativism, value-freedom, and the sociology of science / Russell Keat
É um livro de neopragmatistas. O Alasdair McIntyre e o Margolis são mais conhecidos (pelo menos, o próprio Rorty os cita com mais frequência). É com certeza um assunto bem surrado pelo Rorty. O Daniel, professor de filosofia, matou fácil hehehe. É diversão garantida, pode ler. Recomendo ainda o fantástico "Contingência, Ironia e Solidariedade".
É... o Daniel matou a charada rapidinho... seu suspense foi pro brejo, né Karl? 😀