Diagnóstico

Diagnóstico vem do grego, pra variar: διάγνωση, onde δια dia- “por meio de”, and γνώση gnosis “conhecer”. Para os gregos era a identificação da natureza de alguma coisa. Já falamos sobre diagnóstico e desdiagnóstico. O momento do diagnóstico é um aliviador de tensão dos dois lados da mesa do consultório, apesar de ser mais um começo do que um fim. Muita gente já se interessou sobre esse momento e tentou entender como um médico chega a ele. Eu vou tentar dar minha contribuição. Para isso, vou utilizar alguns exemplos tirados de um interessante livro chamado “A Banheira de Arquimedes” de David Perkins, matemático e estudioso de inteligência artificial do Massachusetts Institute of Technology. Os exemplos são próximos de dois modos-padrão de como um médico diagnostica certas doenças. Depois discutiremos a resolução de cada um.

Exemplo 1 – A soma abaixo está expressa em letras. No lugar de um dos dígitos de 0 a 9, temos as letras A, B e C. Dada a soma, qual o valor de A, B e C?

    A A
+ B B
C B C

Exemplo 2 – Faça quatro linhas retas que passem por todos os nove pontos no diagrama a seguir, sem levantar o lápis do papel (Moçada, não vale passar pela mesma reta 2 vezes, ok?).

•   •   •
•   •   •
•   •   •
E aí? Conseguiu resolver, digo diagnosticar? O leitor perceberá que os problemas são bastante diferentes em relação às aptidões cognitivas requeridas para sua resolução. No exemplo 1 podemos chegar a resposta correta apenas nos utilizando de um raciocínio lógico – passo a passo, por eliminação e tentativa-e-erro. O exemplo 2 é diferente. Ficamos muito tempo girando em círculos, quase que sem sair do lugar. Rabiscamos várias retas, mas parece haver uma “pegadinha” (que não há!) na solução. Estudos indicam que esse tipo de problema, ou é resolvido em alguns minutos ou a tendência é abandoná-lo. Qual será sua alternativa?

Discussão - 8 comentários

  1. Fernando disse:

    Consegui fazer os dois. O lápis pode voltar por onde já riscou (sem, isto é, o levantar do papel)?

  2. Karl disse:

    Sim. Parabéns. E vc seria capaz de descrever a diferença cognitiva utilizada na resolução dos dois?

  3. Tiago disse:

    Acredito que no primeiro utilizamos a cognição lógico-matemática, enquanto no segundo usamos muito mais a cognição espacial.

  4. zanin disse:

    De acordo com o propósito do post
    - O primeiro e mais fácil: uma questão de tentativa e erro, bem direcionada, restringindo bastante as opções possíveis, como na ciência médica.
    - O segundo: Se olharmos só o que está à vista de todos ou analisarmos apenas o que parece ser o assunto em questão não é possível resolver e aí perderemos bastante tempo. Temos que fugir dos protocolos, algoritimos ou diretrizes, ir além dos nove pontos para resolver a questão, como na arte médica.

  5. Karl disse:

    Pelo menos é isso que eu tentei passar. Qual seria o papel da intuição na prática médica atual?
    Há evidências [Barrows, 1982] de que uma hipótese diagnóstica é formulada antes do primeiro minuto de uma consulta. E, aproximadamente 6 minutos após ouvir a queixa principal do paciente, um médico bem treinado é capaz de formular uma hipótese diagnóstica que em 75% das vezes é o diagnóstico correto. Isso lembra muito um processo intuitivo. Ainda falarei sobre as formas de se fazer um diagnóstico. Obrigado pelo comentário.

  6. Igor Santos disse:

    "Ao ouvir cascos, pense em cavalos, não em zebras."
    Isso fica ressurgindo na minha cabeça enquanto tento resolver.
    Mas o segundo está mais para bisões que para equinos.

  7. Karl disse:

    Sempre me surpreendendo! Onde leu/ouviu isso, Igor?

  8. Igor Santos disse:

    O dos cascos?
    Não lembro da primeira vez, mas isso é um bordão de faculdade de medicina, não?
    E acho que, mais recentemente, li no livro que resenhamos.

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.