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ResearchBlogging.orgQuando a epidemia de gripe começou, escrevi sobre como ela causava a morte. Basicamente, o quadro é pulmonar. Um grupo de pesquisadores resolveu fazer uma pergunta bastante interessante e importante: bem, já que temos vacinas eficazes para o pneumococo – um dos principais germes causadores de infecções respiratórias graves -, será que a vacinação contra esse germe teria impacto na mortalidade por gripe suína?

O resultado saiu publicado na BMC infectious diseases [1]. É uma ideia há muito perseguida por um dos autores (Klugman) que tem inclusive uma publicação na Science sobre o tema. Apesar da metodologia ser um modelo teórico e apresentar as limitações inerentes a esse tipo de metodologia, foi possível demonstrar uma diminuição no número de infecções secundárias à gripe e, consequentemente, na mortalidade geral atribuída à epidemia. Interessante notar que o período da exposição ao pneumococo em relação ao vírus da gripe parece ser crítico, ao menos em camundongos: se o indivíduo entre em contato com o pneumococo ANTES da gripe, não parece haver aumento da mortalidade. Se a exposição é concomitante, um risco intermediário ocorre. Mas é grandemente aumentado se a exposição ao pneumococo ocorre 7 dias após a gripe. Aventa-se que a base biológica para isso seria o γ-interferon, que tem um pico em camundongos em 7 dias e facilita o clareamento das bactérias pelos macrófagos alveolares.

Isso justifica o conselho de nossas avós de que, após uma gripe forte, não vale a pena ficar se expondo. Parece também corroborar o dito popular de que uma gripe pode “se transformar” em uma pneumonia. Por fim, parece que não é má ideia a vacina para pneumococo na vigência de uma epidemia de influenza. A vacina desse modelo é uma vacina heptavalente produzida por um grande laboratório e os pesquisadores todos são consultores pagos, exceto um, que é funcionário da empresa. Independentemente disso, o racional para o modelo é muito forte. Eu costumo recomendar a vacina contra infecções pelo Streptococus pneumoniae (o pneumococo) a pacientes com problemas respiratórios normalmente. A vacina vale por 5 anos. Confesso que estou propenso a indicar mais essa vacina com o inverno que se aproxima.

[1] Rubin JL, McGarry LJ, Klugman KP, Strutton DR, Gilmore KE, & Weinstein MC (2010). Public health and economic impact of vaccination with 7-valent pneumococcal vaccine (PCV7) in the context of the annual influenza epidemic and a severe influenza pandemic. BMC infectious diseases, 10 PMID: 20092638

Discussão - 2 comentários

  1. Sibele disse:

    Mas não há problema em tomar as duas vacinas concomitantemente, Karl?

  2. Karl disse:

    Não. Tenho vacinado pessoas com as duas, sem problemas.

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