Taxonomia das Racionalidades Científicas

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by Maria and Igor Solovyov in Street Anatomy

Publico aqui uma taxonomia das racionalidades científicas segundo Alistair Cameron Crombie, autor de uma história das ciências (que vi em [1] e achei legal). Segundo ele, há seis tipos de racionalidades científicas possíveis, a saber:

1. Busca de Princípios e Derivação. Tudo começa com os gregos. Eles se caracterizam pela busca dos princípios e derivação a partir deles. Não à toa, foram os gregos os “inventores” da metafísica, da lógica (Aristóteles), da geometria e da filosofia, entre outros, além de terem uma cosmologia interessante. A medicina grega foi a primeira a se livrar de alguns conceitos religiosos e, assim, florescer.

2. Análise/Síntese ou Resolução/Composição. Este estilo foi consolidado nos séculos XIII e XVII pelos arquitetos, engenheiros civis e músicos e outros “práticos”, médicos inclusos. Visa o fazer e talvez tivesse mais a ver com os cirurgiões que, nessa época, “ainda” não pensavam cientificamente.

3. Modelização. Aqui surge a medicina experimental. Constrói-se um análogo de um pulmão e as dificuldades nos ajudam a entender como um pulmão de verdade funciona. Saber é saber reproduzir. A modelização talvez seja a racionalidade mais importante na medicina desde a introdução do estudo de modelos animais, em especial, por Claude Bernard. A modelização matemática parece ter sido introduzida por Lawrence Joseph Henderson e também gerou muitos desdobramentos.

4. Taxonomia. Tendo como próprio exemplo esse post. Surgiu com Aristóteles e com a escola hipocrática. Sem ter muito o que fazer com as doenças, Hipócrates e seus seguidores tentaram ao menos, classificá-las. Aliás, coisa que fazemos até hoje.

5. Estudo das Probabilidades. O cálculo das chances em situações de incerteza foi ampliado para o entendimento da natureza como um grande sistema probabilista. Não preciso nem comentar, né? Vivemos hoje, sob o paradigma do risco na medicina tal a força dessa abordagem em especial, no meio médico.

6. Derivação Histórica. O pensamento historicista teve seu auge no romantismo alemão do século XIX, com Dilthey, Kuno Fischer, Frederic Scheleiermacher, entre outros tantos. Têm a raiz nesse pensamento tanto o método genealógico de Nietzsche e o arqueológico de Foucault (ver esse comentário), como também as empreitadas históricas que permitiram descobrir, por exemplo, a deriva continental. A medicina e, em especial, a psicanálise, têm seus fundamentos na historicização das queixas do paciente. A inclusão da racionalidade histórica entre as científicas é interessante e não sei porque isso ainda provoca tanta polêmica.

Parece não haver outros tipos de racionalidade. Pelo menos, fiquei pensando e não consegui imaginar uma que aqui não se encaixasse. A medicina ciência médica está, portanto, apoiada em 1, 3 e 5, não?

[1] Filosofia da Ciência I – Andler, D; Fagot-Largeault, A; Saint-Sernin, B. 2005.

Discussão - 7 comentários

  1. HAL diria que existem duas formas.
    A indução entra em qual esquema dentre as categorias propostas? Na deviração histórica?
    E o hipotético-dedutivismo?
    []s,
    Roberto Takata

  2. Karl disse:

    Acho que esta tá fácil. A indução é em 1. Hipótese-dedução, 1 e 2.

  3. Não sei se o indutivismo se encaixa em pricipismo. Muitas regras indutivas não são princípios.
    []s,
    Roberto Takata

  4. Karl disse:

    Acho que pode ser encaixado como uma regra da lógica. Obviamente, houve modificações do esquema inicial, mas começou tudo lá, com os gregos.

  5. Karl disse:

    Takata, tava pensando e acho que a indução está mesmo no 2 (Análise e Síntese). Análise, correspondendo à dedução e síntese, à indução.

  6. Sibele disse:

    "Parece não haver outros tipos de racionalidade". Na visão ocidental, né?
    Crombie não se esqueceu do mundo oriental nessa listinha, Karl?

  7. Karl disse:

    O livro (e o texto) são sobre a racionalidade ocidental, Sibele. Bem lembrado.

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