Auld lang syne*… (2)

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Trem das Onze
Não posso ficar]
[
nem mais um minuto com você
Sinto muito amor, mas não pode ser
Moro em Jaçanã,
Se eu perder esse trem
Que sai agora as onze horas
Só amanhã de manhã.

Além disso mulher
Tem outra coisa,
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar,
Sou filho único
Tenho minha casa para olhar
E eu não posso ficar.

Letra e música: Adoniran Barbosa.

Disclaimer: Sei que o ideal seria
se pudesse oferecere referências melhores – se não de material de
primeira mão, ao menos de artigos acadêmicos que analisaram tais
documentos ou, no máximo, de livros-textos da área -, mas acabei usando
como atalho, para esta série sobre os países participantes da Copa 2010,
referências terciárias – e que nem dizem respeito diretamente à questão
etimológica. Em muitos casos, a Wikipedia (anglófona, claro) foi
utilizada como material para consulta incial (procurei verificar por
fontes independentes mais confiáveis). Então fiquem ainda mais atentos
para o fato de que as informações podem não ser suficientemente acuradas
(eufemismo para incorreção).

Mas não tá cedo ainda?

Comunidade da Austrália (ing. Commonwealth of Australia). Os primeiros habitantes da região devem ter chegado entre 42.000 e 48.000 anos atrás – talvez por porções descobertas de terras durante o último glacial, quando o nível do mar era bem mais baixo do que atualmente. Os primeiros europeus avistaram e aportaram na ilha em 1606. Em 1770, James Cook mapeou parte da costa australiana e a reclamou para o Império Britânico. Em 1942, mas com efeito retroativo a 1939, a Austrália desvinculou-se constitucionalmente do Reino Unido. O nome vem do latim australis (“do sul” < auster “vento sul”; curiosamente, a base é a raiz proto-IE *aus- “brilhar a aurora”, que se conecta com a noção de “oriente”, como no ing. east) e a designação Australia foi oficialmente adotada pelo Almirantado Britânico em 1824. Os holandeses, naturalmente, tinham outro nome para a ilha-continente: Nova Holanda. [1]

República da Sérvia (sérvio Република Србија, Republika Srbija). Outro país surgido da fragmentação da Iugoslávia. Por volta do séc. 14, houve um Império Sérvio, mas conquistado pelos otomanos e depois pelos austro-húngaros. Após a Primeira Guerra, reuniu-se às demais nações eslavas austrais formando os estados iugoslavos. Com as várias guerras sangrentas de separação após o colapso da URSS, a união dissolveu-se. O próximo da província separatista é Kosovo, de maioria muçulmana albanesa. “Sérvio” > sérvio Срби, Sbri provavelmente se liga à base proto-IE *ser- “vigiar, proteger”. Acredita-se que as primeiras menções nos registros ocidentais aos sérvios seja de Plínio, o Velho, e de Ptolomeu, referindo-se aos Serboi, tribo sármata do cáucaso (embora outras interpretações seja que Serboi sejam os sorábios da Lusácia germânica ou aos sirácios do Mar Negro – a possibilidade de “sérvio” não ser um nome de origem eslava leva à especulação de que os sérvios – e os croatas – não sejam de origem eslava [2, pp: 56-7]).

Nova Zelândia (ing. New Zealand, maori Aotearoa). Os primeiros habitantes devem ter sido polinésios, por volta de 1250 a.C. O primeiro europeu a chegar às ilhas foi o explorador holandês, Abel Tasman, em 1642, que as batizou de Staten Landt (“terras dos Estados Gerais (Holandeses)”). Mas o massacre impostos pelos maoris à tripulação fez com que nenhum europeu aportasse por lá até 1769, quando James Cook alcançou as ilhas em sua expedição. Vários tratados foram estabelecidos com os maoris, até que, em 1840, o Império Britânico clamou para si a autoridade sobre as terras. Em 1947, foi considerado um país independente dentro da Comunidade Britânica. O nome Nova Zeelandia foi dado por cartógrafos holandeses, em referência à província nederlandesa da Zelândia (ned. Zeeland “terras do mar”, por se tratar de um conjunto de ilhas e penínsulas). Aotearoa (“terra das longas nuvens brancas”) era o nome dado pelos maoris para a ilha Norte, atualmente se refere a todo o país. [3]

República Italiana (it. Repubblica italiana) ou Itália. A região é habitada desde pelo menos o Paleolítico. Uma longa história dos etruscos e do Império Romano de desenvolveu – estendendo-se por quase toda a Europa e adjacências. Fragmentando-se em vários estados, o país foi unificado somente no início do séc. 19. Não se conhece a etimologia do nome, mas se especula que esteja ligado ao osco Víteliú (“terra dos bezerros”, compare com a palavra “vitela”), essa interpretação é reforçada por ser o touro símbolo das tribos do sul da região. [4, p. 208]

Reino da Dinamarca (din. Kongeriget Danmark). Indícios de ocupação humana na área correspondente à Dinamarca europeia continental datam de 130.000 a 110.000 mil anos atrás. Durante os séc. 8 a 11, os exploradores e guerreiros vikings estenderam os domínios dinamarqueses até a América. Durante a Idade Média e a Era Moderna, Dinamarca, Noruega e Suécia estiveram unidos em várias ocasiões sob um único governo, na União Kalmar. Eventualmente a união se desfez. A origem e significado de Danmark é bastante debatida. Uma versão bastante comum é que dan significa “terras planas” (ligado ao al. Tenne “eira” e ing. den “caverna, covil”) e mark “floresta ou fronteira” (ligado ao ing. marsh “marca”), alguns ligam ao nome do primeiro rei Dan. [5, p. 152]

República de Côte d’Ivoire (fr. République de Côte d’Ivoire) ou Costa do Marfim. A região é habitada desde pelo menos o começo do Neolítico. Diversos reinos, incluindo muçulmanos, floresceram na área antes do domínio europeu, que chegaram em 1483. Em 1843, a França assumiu o controle na forma de protetorado. Em 1960, o país conseguiria sua independência.Como o nome sugere, um importante produto explorado durante a era colonial foi o marfim. Atualmente o comércio é ilegal, mas a população local de elefantes encontra-se seriamente ameaçada – talvez com pouco mais de 500 indivíduos somente. [6, pp: 177-80.] Ing. “Ivory” e fr. “ivoire” do lat. eboreus “de marfim” < ebur, ebor “marfim” < egíp. ‘b, ‘bw âbu “elefante, marfim”. “Marfim” < ár. عظم الفيل aẓm al-fīl, “osso de elefante” (de عظم aẓm, “osso”e فيل fīl, “elefante”). [7, p. 168.]

Confederação Suíça (al. Schweizerische Eidgenossenschaft, fr. Confédération Suisse, it. Confederazione Svizzera, romanche Confederaziun Svizra, lat.Confœderatio Helvetica). Habitantes humanos – neandertais – estão presentes na região desde cerca de 150.000 anos a.C. O território já esteve sob domínio dos francos, do Sacro Império Romano e de diversas casas reais como a dos Savoia e dos Habsburgo. Durante a Idade Média, vários cantões uniram-se em uma confederação. Nessa época várias vitorias em batalhas deram origem à fama do exército suíço – a Guarda Suíça.  Em 1648, com o Tratado de Westfália, foi reconhecida a independência da Confederação Suíça em relação ao Sacro Império Romano e a condição de neutralidade nas guerras travadas entre os estados e nações europeias – neutralidade mantidade até os dias de hoje. Em 1798, a Suíça foi conquistada pelo exército napoleônico. Com a guerra entre a França e outras potências europeias: Rússia e Áustria, a Confederação readquiriu autonomia. Mas foi no Congresso de Viena de 1815 que a independência foi reconhecida e a neutralidade reenfatizada. “Suíça” vem do alemânico Schwiizer, referindo-se aos habitantes do cantão Schwyz, possivelmente relacionado ao Ant. Alto-Alemão suedan “queimar”. “Helvécia” e o lat. helvetica referem-se aos helvécios, tribo celta que, durante o Império Romano, ocupava o platô suíço, talvez ligado à raiz elw “muitos, ricos, numerosos”.

República de Honduras (esp. República de Honduras). Vários povos habitavam a região antes da chegada de Colombo às Américas. O principal foram os maias. Colombo aportou na costa hondurenha em 1502. Em 1821, obteve independência da Espanha em conjunto com outras regiões da América Central. Entre 1822 e 1838, integrou a República Federal da América Central. A origem do nome é alvo de disputadas. Em esp. honduras significa “profundezas”, e uma frase é atribuída a Colombo “Gracias a Dios que hemos salido de esas Honduras” [“Graças a deus saímos dessas profundezas”], mas não há registro de primeira mão. Uma explicação alternativa é que se ligaria ao leonense asturiano fondura “ancoradouro”. [8, p. 14.] Há um Rio Hondo (“rio fundo”) em Belize, não sei se teria alguma ligação com o nome. Até 1973, Belize era conhecida como Honduras Britânica, em oposição à Honduras Espanhola, que de
u origem à Honduras atual: que abarca a região oeste, que era conhecida como Higueiras até 1580, sendo Honduras reservada à região leste.
 

Referências
[1] Adamant Media. 2001. Early voyages to Terra Australis, now called Australia […] Adegi Graphics. 343 pp.
[2] Fine, J.V.A. 1991. Early medieval Balkans […] University of Michigan Press. 336 pp.
[3] Barber, L. 1989. New Zealand: a short history. California University. 252 pp.
[4] Herring, E. & Lomas, K. 2000. The emergence of states identities in Italy in the first millennium BC. University of London. 225 pp.
[5] Skovgaard-Petersen, K. 2002. Historiography at the court of Christian IV (1588-1648): […] Museum Tusculanum Press. 454 pp.
[6] Blanc, J.J. 2007. African elephant status report 2007 […] IUCN. 275 pp.
[7] Bassetto, B.F. 2001. Elementos de filologia românica. EdUSP. 380 pp.
[8] Tábora, J.M. 2002. Folklore y Turismo. Ed. Guaymuras. 143 pp.

*Título de poema escocês de Robert Burns de 1788. Esc. Auld lang syne = ing. old long since = port. há muito muito tempo.

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